terça-feira, 29 de dezembro de 2009

ANO BOM

É chegada a hora de Vos desejar um Ano Bom!
Neste meu blogue está, em grande parte e à luz da minha perspectiva, o ano que passou ...
Valeu a pena?
Sinto que sim mas que pensarão os meus leitores!?
Por outro lado, desde quando pensaria eu que, chegado ao dia de hoje, contabilisaria já quatrocentas e vinte e uma páginas em produção mais do que diária!?
Não que o que se escreva possa ou deva ser avaliado apenas quantitativamente ou a metro mas, que dizer da qualidade do que aqui Vos lego!?
É a história de um ano pelos olhos do cidadão comum, o seu autor ...
Pelos olhos e no registo instantâneo de uma emoção ou estado de alma que me perpassa num momento, aquele em que escrevo ou na análise daqueles que se me afiguraram como assuntos candentes e a exigirem intervenção, reflexão mais aturada, na obediência a um fio condutor que os entrelaça.
Chega ao fim o ano de 2009 ...
Que Vos poderei desejar, então, senão um Ano Bom!?
Ano Bom quer dizer, seguramente, com saúde;
Com trabalho, solidário e fraterno;
Com determinado embora moderado optimismo;
Com alegria e ... em Paz!
Ano Bom eu Vos desejo
naquilo que neste ensejo
seja um ano regado
de saúde e bom recado
-
Com trabalho e um ano amado
solidário e em cujo fado
se instile naquilo que vejo
toda alegria que almejo
-
Venha o ano sem ter pejo
de à Paz a ter por telhado
optimismo por traquejo
-
Solidário seja o lado
que à perfídia de sobejo
fraterno afugente e dê brado
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 29 de Dezembro de 2009

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

ANO QUE FINDA

René Magritte, The Big Family
-
Revolvem-se em tons cinzentos
a terra o mar e o ar
fundem-se os elementos
salpicados de luar
-
Plúmbeo corre a nadar
o ano com seus eventos
libertado e a troar
no sopro vadio destes ventos
-
A voz do mar oiço a dar
conselhos sábios e lentos
a quem o sinta a voar
-
Sobressaltos e tormentos
asas do respirar
carícias de bons momentos
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 28 de Dezembro de 2009

domingo, 27 de dezembro de 2009

VERDE PRADO

Verde Prado
bem meu
amado
que te estendes sem fim
por sobre o além
revolve-me a alma
meu estar
e o aquém
abre-me as portas
do saber que vem
-
Verde Prado
vontade
também
infinitude
que vem de Belém
não me confundas
ao bem não o toldes
que sabes que vai
para lá do que tem
-
Verde meu Prado
saber e meu estrado
sabes
tão bem
o quanto é amado
o saber que vem
e que irrigado
é verde
é prado
é esperança que nasce
desdobra por cem
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 27 de Dezembro de 2009

sábado, 26 de dezembro de 2009

INTERPELAÇÃO

Leslie Xuereb, Virgin and Child
-
Na sequência da Trilogia de Natal, reflexão que se desenvolveu nas três páginas anteriores e que não se limita a ser de âmbito estritamente cultural, como se pouco, em si mesmo, o fosse já (!), dirijo-me agora a todos aqueles que consideram o casamento homossexual como um atentado à família:
1 - A família só se deixa atentar se não for instituição suficientemente forte e logo, susceptível de se deixar contaminar e corroer;
2 - Contaminar e corroer porquê (!?), então ela não tem a consistência e sustentabilidade, a força capaz de a fazer acolher em si mesma e contra todas as manifestações de descrença, porque de verdadeiras manifestações de descrença na Família e no Presépio se tratam e já para não dizer de xenofobia (!), todas as formas de organização familiar que apenas pela diversidade e através do crivo do amor a possam vir a enriquecer e logo também, fortalecer!?
3 - Não será uma paranóia da carne e ofuscação da vista, um preconceito social e cultural também, o achar-se que duas pessoas só se podem amar quando de sexos diferentes e de acordo com uma determinada morfologia, isto é, de acordo com aquilo que, estritamente, pela carne e pela descriminação, afinal, tolda, cega, esteriliza e ofusca!?
4 - Repito, não é o Paradigma do Presépio tudo menos aquilo que se convencionou considerar uma família normal quer à luz dos cânones de hoje como dos de ontem e como dos de sempre e quer ainda numa perspectiva religiosa como estritamente cultural que seja!?
5 - E, finalmente, basta de obsessões e tanto mais quanto não se poderá considerar exemplar, longe disso (!), o comportamento de tantos membros da hierarquia da Igreja que por esse mundo, à palma da obsessão paranóica, misógena, pela carne, ao Menino o têm, e de que maneira (!), profanado, a começar pelos coros de castrati que ao clero e ao próprio Papa os extasiavam e já para não falar dos abusos de pedofilia, de todos eles, afinal, interpelando e exigindo uma outra atitude da Igreja impregnada que tenha de estar de contrição e de verdadeira humildade e caridade cristã numa abordagem outra que à família tenha, necessariamente, de fazer e mesmo em nome do estancar da deserção que em relação a ela, Igreja, em crescendo se acentua.
Escreve quem pelo Amor e no reencontro com Deus, até aqui chegou ...
Basta de piedosismos pagãos que a outro nome, embora recoberto pela vacuidade, inanidade de um deus ausente, eu não encontro!
-
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 26 de Dezembro de 2009
Thomas Hager, Father and Child

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

III - GÉNERO

Sandro Botticelli, Mystic Nativity
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Olho para o Presépio e vejo o que nele cada um de nós também o é:
Criança, mulher e homem.
Somos todos do mesmo género e em cada um de nós estão os géneros, neutro, feminino e masculino.
Somos o ventre, o ausente ou o intrusivo estranho e a vontade de ambos transfigurada na criança, na pureza ressurrecta, ressurgida do primeiro.
Somos ...
Sou!
-
Fui
fui homem ufano
iludido pela força
feitiço para lá do terno
eterno abraço
que o tinha
abrigado do complexo
que era a criança
embaraço
numa pose iludida
sem resguardo e sem guarida
que os retirava da vida
a ela e à mulher
olhando por sobre o ombro
com desdém
que nada tem
-
Sou muito mais do que isso
e por o ser sou mestiço
-
Sou
sou género humano
mulher
homem que é seu talher
sou uma criança
de berço
de colo
ou que a tiracolo
carrega os sonhos dos três
numa trindade de quês
sou uma cruz
e um sinal
que aponta da cabeça aos pés
e aos lados em que tu crês
quanto mais sou
do que vês
-
Sou
és
um sacrossanto lugar
Presépio
também um altar
-
Com os desejos calorosos de Boas Festas para todos os meus leitores!
-
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 23 de Dezembro de 2009

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

II - UNIGÉNITOS

Machado de Castro, Presépio
-
Imagine-se:
No futuro e irresistivelmente, da mulher ou do homem, unigénito, de um só genes, aquele do seu progenitor, nascerá uma filha ou um filho e depois ... como será!?
Repetir-se-á a saga toda até à inclusão das mulheres e dos homens por suposto clonados no seu reconhecimento e na igualdade de género, a espécie humana, que a todos nos consagre!?
Venha ou não a ser essa a nossa vontade e corresponda ou não aos nossos desejos!?
Saga que se venha a estender até que um salvador, libertador ou escolhido se afirme e liberte os seus iguais e irmãos, iguais a nós e irmãos que venham, inevitavelmente, a sê-lo!?
Os unigénitos desse modo, por ele, libertados!?
Dando aso a que a História se venha a repetir como comédia ou tragédia ainda maior!?
E se levanto todas estas questões é porque erigidos em aprendizes de Deus como logo a metáfora da expulsão do Paraíso nos consagrou, o cenário da clonagem humana e provavelmente mais cedo do que tarde, nesse permanente abrir da Caixa de Pandora se perfila como cada vez mais plausível ...
E então, como passarão estes, as mulheres e os homens clonados, a ser olhados, como filhos ou ... enteados ou proscritos de Deus!?
E nós, passaremos a ocupar o papel de quem!?
De deuses, em mitologia e por arrasto, a reescrever!?
Antever e prevenir o Futuro ou ... sermos ultrapassados pela sua inevitabilidade!?
Na adoração do Presépio se figuram e representam, incluídos, todos como irmãos!
-
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 21 de Dezembro de 2009

sábado, 19 de dezembro de 2009

I - NASCIMENTO

Concluídos os Fragmentos, doze, sendo que o último foi publicado na recta final da Conferência de Copenhaga, entramos, decisivamente, na semana do Natal, da celebração do Nascimento, da natalidade, na última semana do Advento.
Que Nascimento nos preparamos para celebrar!
Aquele de um Ser unigénito, único e de Deus, concebido a partir de um único genes e divino, sem genes de um pai nem tão pouco de uma mãe, gerado e concebido em Maria e sem pai, adoptado por José e na marginalidade do Mundo de então, numa manjedoura, no desconforto e ao frio, longe de um abrigo conveniente e às escondidas, ao arrepio de todas as convenções dominantes à época.
Isto para quem acredita!
E para quem não acredite!?
No mínimo, cenário de ficção, científica diria eu (!), ficção que, embora no plano da reprodução artificial, se dele já se aproxima mais, abrangendo-o, englobando-o, o continua ainda e sempre a ultrapassar no âmbito da sua plausibilidade bem como aos quadros das noções alargadas e modernas, tão questionadas, polémicas e fracturantes, como soi dizer-se, de organização familiar ...
Como terá tal sido possível e ainda que tudo não passasse de uma história a desafiar, contudo, os limites da própria imaginação criadora sem a qual também não há progresso social, nem técnico e nem científico!?
Se das sociedades contemporâneas, quanto mais das de há dois mil anos atrás!
E que reacção seria a nossa, de crentes ou não crentes, se um tal Nascimento, a desafiar todas as possibilidades e convenções, hoje, voltasse a ter lugar!?
-
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 19 de Dezembro de 2009
Machado de Castro, Pormenor do Presépio da Basílica da Estrela, Lisboa

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

FRAGMENTO XII

Gota a Gota
cai de rota
egocêntrica idade
em que bisonhos olhavam
o umbigo
e sem piedade
sem pensarem na vontade
desta minha cidade
da Terra que é só uma
aldeia minha metade
-
A outra metade
a trago
comigo para lá da carne
antes cedo
do que tarde
para o sonho
que em mim arde
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 18 de Dezembro de 2009

FRAGMENTO XI

No interior de mim mesmo
remexo o pensamento como adubo
na música que
por fundo
às ideias as ajuda a organizar
em casulo pelo frio entorpecido
-
Cavo e misturo a terra fértil
pronta a animar-se garrida
volto a misturá-la e em harmónio
num jogo polifónico
e desabrochando
perfila-se em múltiplos planos
de pétalas aromáticas
flor imaginária
singular e fugidia
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 18 de Dezembro de 2009

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

FRAGMENTO X

Airi Pung, The Tree That Knew Me
-
Hoje faz anos minha mãe
bonita senhora e meu bem
faz minha mãe a idade
que importa e que convém
muitos a tenham connosco
de saúde e em paz também
é minha mãe a vontade
de sempre ir mais além
se minha mãe é coragem
é muito mais o que tem
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 17 de Dezembro de 2009

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

FRAGMENTO IX

No dealbar da palavra
o seu clamor foi tão tremendamente ruidoso que
o silêncio perdeu-se e
transfigurado
transformou-se em música
-
A música
um dia
perdida no barulho de si mesma
alteará de tal maneira as vozes que estas
transfiguradas
comunicarão estáticas
pelo interior de si mesmas
ainda em mais pura comunhão silenciosa
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 16 de Dezembro de 2009

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

FRAGMENTO VIII

Filhos de Sião
céu azul
Terra meu chão
alegrai-vos
que é chegada
hora de conjunção
a vontade que implora
um sim que derrote o não
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 15 de Dezembro de 2009

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

FRAGMENTO VII

Por mais que a nossa boca
se emprenhe de risos
e a língua de elogios
de pouco servem eles
sem os pios intentos
de os espalhar aos quatro ventos
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 14 de Dezembro de 2009

domingo, 13 de dezembro de 2009

PORQUE SE CALAM TANTOS

Aminetu Haidar, activista saharaui, fotografia da Agência Reuters
-
Porque se calam tantos e nada dizem
do trágico destino da mulher
que sofre assim por mais que profetizem
a morte que lhe não caiba por sofrer
-
Podem os poderes dizer que frisem
que mais pode quem manda o que quer
que interesses maiores há que os organizem
que ao indivíduo o esmague por não ter
-
Mas ai se ao indivíduo o não tiver
no esmorecer que o arraste ao que vem
em conta no querer sobreviver
-
Não restará senão vergonha no que o tem
acima de qualquer sorte que se quer
para lá duma desgraça e sem desdém
-
( editado em primeira mão na caixa de comentários de Sete Mares, http://sete-mares.blogspot.com/ onde, se poderei nem tudo subscrever, no entanto, solidarizando-me poemei )
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 13 de Dezembro de 2009

sábado, 12 de dezembro de 2009

NADA DE METÁFORAS

Parece ser cada vez mais consensual e pacífico entre a comunidade científica, a constatação da influência antropogénica, humana sobre o clima e o ecossistema global.
Basta olhar para um rio que se polui por influência da actividade humana ou da mesma sobre a atmosfera, poluindo-a e sendo certo que nem o rio, a água conhece fronteiras estanques como o ar também não.
Não menos consensual será admitir-se que alarmismos não conduzem a outro que não seja o lado de, pela impotência que logo suscitam, ficarmos a alimentar essa nossa propensão escatológica, diria, que satisfaz não a discussão lúcida, serena e razoável, verdadeiramente mobilisadora, mas toda a ordem de catastrofismos conducentes, escrevia, ao lado de coisa nenhuma.
Acrescentaria ainda, talvez importe sublinhar, que toda a ordem de instrumentos e ferramentas aferidores de tendências que hoje possuímos, não os possuíamos ainda não há muito tempo, que o tempo nestas coisas se mede a uma escala que ultrapassa a geração dos nossos avós, pelo que não sei até que ponto se poderão, a este nível, tirar conclusões irrefutáveis.
Diria ainda que a atitude científica não se pauta pelo consensual mas pelas rupturas e pelo factual, é irreverente e desenvolve-se, quantas vezes senão todas, a contra corrente, não é ditada por modas ou pelo pensamento dominante num dado momento, não é, tão pouco, politicamente correcta nem se sujeita, ai de nós se assim o fosse (!), a diktats impostos por maiorias electivas ou manifestações de massas.
Se consensual se torna a influência antropogénica, humana sobre o ecossistema global e diante de todas as dúvidas, perplexidades e apreensões que esta suscita no evoluir de certas tendências para cenários que se traçam, cenários que são sempre cenários e não mais do que cenários (!), na dúvida e diante de todas as angústias e incertezas, estou de acordo, não há nada como prevenir e na prevenção, sublinho-o, está o ganho e tanto mais quanto se invista na reconversão energética que às energias não renováveis, logo causadoras de tantos conflitos e amputadoras das autonomias, as cinja ao estritamente indispensável!
A esta luz se justificam as negociações em curso na Conferência de Copenhaga que há que levar, assim o espero, a bom termo!
A Terra integra-se, porém, num ecossistema maior, o Sistema Solar e este na Galáxia, a Via Láctea a que pertence e esta no Universo e se, é certo, a influência humana não poderá deixar de ser equacionada no peso que sobre o clima, nefasta ou positivamente poderá ter, certo é que outros olhares mais abrangentes ainda, não poderão deixar de ser equacionados quando a estas candentes questões as abordamos.
Da atitude científica, importará não esquecer, é indissociável o espírito crítico e a capacidade interrogativa que faz questionar o que, aparentemente, se dava como inquestionável.
E esta minha pergunta, aquela que se segue e com que, por fim, darei por encerrada esta página escrita ainda no pano de fundo da Conferência de Copenhaga, carrego-a de há muito, sobre ela exaustivamente elaborei num encadeado de hipóteses e de ensaios que a este blogue o precederam e que aqui não cabem, aflorei-a também já neste meu blogue e que a mim próprio, confesso-o, ainda me surpreendem e até hoje, para ela não encontrei cabal e peremptória refutação, com tudo o que ela também implica na abordagem das questões que da conferência estão pendentes e que aqui, dificilmente, se poderão desenvolver:
E se tivéssemos atravessado um Buraco Negro, tão difícil de se ver quanto de demonstrar termos, de facto, atravessado (?), perguntei outro dia e uma vez mais, sabendo bem do risco que corria na salvaguarda do meu bom nome e equilíbrio mental, a pessoa conhecida e perita em questões ambientais.
Essa pessoa logo nervosamente me respondeu de fugida que o mais certo seria que nos desintegrássemos e eu, de seguida, não deixei de lhe retorquir prontamente:
- O mais certo é uma coisa, que tal tivesse acontecido é outra e nem sempre o que acontece é o que dávamos por certo poder vir a acontecer!
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 12 de Dezembro de 2009

FRAGMENTO VI

Cai como palavra
doce
algodão em rama
floco de fria neve
alvo dealbar de incógnitas
gélida interrogação
acolhedor destino
e cai e volta a cair
fragmentos
linhas de pensamento soltas e ao acaso
e outra e outro
dilúvio que me inunda a alma e não esmorece
encolhe-se apenas
contido pelo pontuar dos dias
um após o outro como as folhas do calendário que diz aqui
escreve acolá
e um
e outro e mais
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 12 de Dezembro de 2009

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

FRAGMENTO V

Stephen Lochner, Munique, 1445
-
Por um momento
recordei
no nascimento
do infante
o que ao olhar para ele
chorei
ri
e de rompante
se abriu naquele tempo
-
( A uma criança que nasceu )
-
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 11 de Dezembro de 2009

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

FRAGMENTO IV

Sou europeu, caucasiano, e depois?
Do género masculino, e depois?
Nasci em Lisboa, sou do Estoril e depois, deverei ser estigmatizado por isso?
Embora as habilitações que aqui exponho falem por si, não as tenho académicas e superiores, e depois?
O meu partido sou eu na equidistância que prezo e salvaguardo e na complementaridade de todos os demais, e depois?
Desejo, invoco, luto pela Paz e depois, será espúria a minha ambição?
Escrevo cartas, escrevo no meu blogue, e depois?
Exprimo-me em português, nobre idioma, e depois?
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 10 de Dezembro de 2009

FRAGMENTO III

Pedro Charters, Multidão 2
-
Olho-te
reflexo de minha alma
sou em ti
pedacinho de tudo o que vi
o mundo
anseio e calma
solidão
devaneio e multidão
sou também o que sofri
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 10 de Dezembro de 2009

FRAGMENTO II

Meu amor
passam dias
cai a flor
miudinha chove a dor
mas a força é mais forte
tem a cor
do teu odor
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 10 de Dezembro de 2009

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

FRAGMENTO I

Sem fim
corre a palavra
como um colar de marfim
alva
silenciosa
conta a conta
dita por sobre um sim
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Dezembro de 2009

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A PALAVRA III

III
-
A PALAVRA COMO POTENCIADORA DE ENERGIAS LIMPAS E SEMPRE RENOVÁVEIS
-
Aqui falo, escrevo e cavo um sulco, traço bem distinto e marcado que ao leitor o interpela e leva a reagir, desafio a que o faça, pois que sim ou que não e porque sim ou não no corroborar ou negar do que escrito está e dos porquês em busca de saídas para quantos impasses que nos possam bloquear.
Uma vez desbloqueados esses impasses, se é que estes meus textos para tal concorrem, o que acontece?
Janelas se abrem, de oportunidade como soi dizer-se e logo essas janelas se abrem ou escancaram dando aso, oportunidade à libertação de energias que, acumuladas e aparentemente sem saída, concorriam para o sobreaquecimento que encontrando, finalmente, por onde se escapulir, libertando-se, a novas e renovadas energias talvez as potenciem e façam desabrochar.
Escrevo que talvez sim e tu, escrevendo que não ou na assertividade de um sim peremptório, fundamentado, porque é na fundamentação que o justifique que se descobrem, desvendam, assertivas, novas e insuspeitadas forças, logo estas revertem a teu como a meu favor potenciando o que até aí, sob pressão, não tinha por onde sair, se revelar e afirmar ...
Porque não há que temer:
A minha verdade não teme a contradita, invoca-a!
Deseja-a mais do que tudo porque nem Deus, em Quem acredito a teme ou não O seria.
Acreditar não se confunde com o medo!
Nem confiar, tão pouco!
-
Acredito
e em ti confio
desdobro-me como um fio
aceso neste pavio
novelo
que neste cio
se se exalta no que é dito
não se extingue no que ao vê-Lo
morrer queria mais sê-lo
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 8 de Dezembro de 2009

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

A PALAVRA II

II
-
A PALAVRA COMO DESPOLUIDOR
-
Palavra puxa palavra, escrutinada porque me sujeito ao escrutínio público, em permanência desanuvia, despolui.
Desanuvia e logo despolui desde que estejamos receptivos à crítica, fundada crítica que logo por o ser é construtiva, não destrutiva como tantas vezes somos levados a pensar, o que em permanência acontece a quem, ao abrigo do seu poderzinho fátuo julga poder dispor e ter a faca e o queijo na mão.
Polulam esses poderzinhos ao ponto de, quantas vezes, me interrogar se vivemos ao abrigo do estado de direito por todos invocado ou do direito de estado, do poder de quem, a ele agarrado, quantas vezes nele se alcandora com unhas e dentes, contra todos e contra tudo.
A palavra não desautoriza senão a quem é autoritário e funda a sua suposta autoridade no seu posso, quero e mando!
A palavra, desde que assumida e mesmo que no exercício autocrítico, reforça a autoridade, desanuvia e despolui, facilita a respiração no seu duplo movimento que à inspiração pede a expiração num pulsar que se perpetua sempre e mais como o diálogo franco e aberto, não viciado.
Por exemplo:
Eu detenho o poder sobre este meu blogue e nele poderia, à primeira vista, fazer o que entendesse mas não o faço.
Assim sigo, escrupulosamente, alguns preceitos:
Não elimino comentários nem os submeto a censura prévia, a eles lhes dou toda a atenção como acho ser minha obrigação, aceito de peito aberto a crítica, crítica no sentido de ser fundamentada o que sempre implica sentido autocrítico e mesmo que ela não surja explícita, eventualmente destaco em primeira página comentários que entenda dela serem merecedores, dou sequência aos mesmos comentários que, quantas vezes, me têm orientado, quais deixas que de página para página me inspiram e por aí fora ...
Perderei autoridade por afirmar preceitos que quantos negam!?
Julgo que não e por assim achar, desmintam-me (!), contribuo para um ambiente desanuviado, despoluído, facilitador da respiração que a comunicação, o diálogo logo a é!
Quantos poderes fátuos bloqueadores da palavra e pervertores da Democracia, poluentes, eles também, têm fortes responsabilidades, não falo de cor (!), na poluição geral e nas drásticas alterações climáticas que nos agridem e ameaçam, sufocam e asfixiam ...!
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 7 de Dezembro de 2009

domingo, 6 de dezembro de 2009

A PALAVRA I

No pano de fundo da Cimeira de Copenhaga que se inicia amanhã e na sequência do que para trás ficou escrito e que a ela não é alheio, reflicto agora sobre a importância da palavra em três e decisivos planos ou dimensões, a saber:
A palavra enquanto escudo, a palavra como despoluidor ou factor de desanuviamento e a palavra como potenciadora de energias limpas e sempre renováveis.
-
I
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A PALAVRA COMO ESCUDO
-
Um escudo protege e abriga.
Protege de ofensivas exteriores e constitui instrumento preventivo que nos coloque ao abrigo de inesperadas investidas que nos possam destruir.
A palavra é um escudo!
Imaterial, por assim dizer, a palavra fornece-nos uma percepção do real que logo dela se acrescenta e sem a qual o próprio real, extrínseco como intrínseco, seriam inconcebíveis, irreconhecíveis, ininteligíveis.
Que seria da realidade, interior como exterior, sem todas as palavras que inevitavelmente usamos para a descrever?
E dos saberes, mais ou menos exactos, da matemática à filosofia, da religião à arte, sem a palavra, instrumento axial sem o qual nem o racional, nem o que está para lá dele seria cognoscível?
A palavra é um escudo qual invólucro, película ou filtro e tanto mais resistente quanto escrita ela o for, susceptível de à realidade e a nós próprios nos transformar, a nosso favor, o mesmo terá de querer dizer a favor do nosso habitat, já que não somos vírus que ao seu próprio o degrada e aniquila, ou seremos (!?), de tal forma que por força dela, da valia que ela acrescenta, encontremos os instrumentos bastantes à nossa sobrevivência com acrescida qualidade de vida.
Pense-se:
Que seria do saber, de todo o saber individual como colectivo, sem a palavra?
E da realidade, que seria dela sem a palavra?
E do pensar, que seria dele sem essa capacidade, a capacidade de organizar as palavras sem a qual, onde estaríamos?
Na base, nosso pé, sustentáculo ou fundação, a palavra é um escudo que nos transportará com sucesso para lá da espuma dos dias e dos impasses e incógnitas que nos angustiam mas que serão ultrapassados.
Como um escudo ou invólucro, a palavra passará!
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 6 de Dezembro de 2009

sábado, 5 de dezembro de 2009

PAUSA

Uma pausa faz sempre bem!
Diga-se, aliás e em abono da verdade, que este ritmo, o ritmo que tenho mantido e na intensidade e diversidade de produção que aqui se patenteia, me tem obrigado a um esforço que não é em vão que se desenvolve ...
Traduz-se ele e por mais generoso que possa ou não ser e parecer, em tensão, stress que importa, pelo menos de quando em vez, desanuviar o que, nestes dias após a publicação da última página e da pausa que se lhe seguiu, me tem, pese embora não ter deixado de estar presente, inegavelmente, descomprimido.
Que poderei, a título de provisório balanço, sobre o que escrevi na página anterior, concluir?
Primeiro que, sendo-me aquelas palavras de ordem muito queridas e pesem embora as pequenas alterações que foram, ao longo do tempo e sobretudo se atendermos ao facto que nelas persisto há uma boa vintena de anos, delas não desarmo e independentemente do reconhecimento que lhes seja, explicitamente, consagrado;
Depois que a página, sendo ela o que se desenvolve a descoberto e no interior da sua caixa de comentários, neste última não constatei reacções que, directamente, ao que em primeira página escrevi, o questionassem;
É só percorrer toda a caixa de comentários para que de tal se possa aferir!
Seguidamente, gostava ainda de sublinhar que o que nela foi escrito tem toda a urgência, quer da perspectiva da contenção da pandemia como da inclusão daqueles que, infortunadamente, são vítimas do flagelo e em particular no que toca à convicção que me faz reafirmar que a palavra, como anti-viral, como difusor de anti-corpos a todos nos poderá munir das ferramentas que, na salvaguarda da privacidade de cada qual, nos poderão instilar de maior qualidade de vida;
Se a minha pausa foi necessária, como interpretar o silêncio ou a pausa daqueles que, sendo autoridades no assunto, aqui se inibem de deixar o seu registo, desautorizando-me como não!?
Passou-lhes despercebido o que aqui escrevi?
Tratar-se-á de um perfeito disparate aquilo que reafirmo?
E porque o reafirmo tão denodadamente?
Porque, pese embora o tempo que passou sobre o deflagrar da pandemia, como bomba-relógio, os sinais da sua evolução não deixam de, nos nossos dias, nos interpelar a todos e logo como no Seu comentário, Ana Cristina se encarrega de nos alertar.
É incómodo o tema aqui tratado?
Sê-lo-á mas tal não é razão que me faça desmobilizar e deixar de chamar à colacção o que, verdadeiramente e na minha modesta opinião, ainda não foi colocado, decididamente, à luz do enfoque que as palavras de ordem que reafirmo exigem e sem o que a bomba-relógio que o flagelo da SIDA constitui à escala global, também não poderá ser devidamente atalhado.
Por uma vez repito-me e dou-me ao luxo de correr o risco de parecer, à primeira vista, monótono.
Reafirmo:
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PREVENIR A SIDA
PALAVRA É VIDA
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PREVENT AIDS
WORD AID'S
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E contudo
a palavra vive
mexe connosco
e move-se
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 5 de Dezembro de 2009

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A PALAVRA COMO ANTI-VIRAL

Da consulta de um dicionário comum da língua portuguesa ou outra poder-se-á constatar ser a palavra vírus, no seu sentido informático, uma instrução ou informação, conhecimento ou saber, contra-informação parasita que introduzida num programa se torna susceptível de provocar diversas perturbações num sistema e assim ser capaz de o contagiar, neutralizar ou mesmo destruir.
Figurativamente, o mesmo dicionário dirá tratar-se de princípio de contágio moral.
Vem isto a propósito do que, na caixa de comentários da página anterior se desenvolveu por ontem também se ter comemorado o dia mundial da SIDA que logo aproveitei para, de novo e recorrentemente, de há muitos anos a esta parte, ter sugerido como palavra de ordem bilingue na prevenção da doença, aquela que, em português como em inglês, se segue:
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PREVENIR A SIDA
PALAVRA É VIDA
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ou
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PREVENT AIDS
WORD AID'S
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E, logo na sua fundamentação, acrescentava:
A palavra é dissuasora;
A palavra pode também ser invocada na assumpção ética que nos obriga a não termos duas ou mais caras na consideração que devemos ao Outro;
A palavra é um precioso auxiliar de comunicação;
A palavra é vida porque, nela própria, a vida, como anti-viral se contém podendo ajudar a prevenir a difusão da pandemia.
Assim, a palavra, consoante nos envolva ou não, na ética que a perpasse, pode contribuir como não para a resolução como para o bloqueamento, o baralhar da informação ...
E continuava:
Não escrevo aqui sobre o preservativo que sei ser instrumental incontornável na prevenção do alastrar da pandemia embora encontre inúmeros obstáculos, civilizacionais, culturais, religiosos e outros pela frente, escrevo antes de uma atitude que tem de ter o Outro no centro e diante do qual ela obriga ou deveria a eticamente obrigar a tê-lo na máxima consideração ao ponto de achar e não estou sozinho que este é, fundamentalmente, um problema de saúde pública que entronca no exercício da cidadania, na salvaguarda e no respeito pelos direitos humanos!
Chegou o tempo em que as palavras de ordem que há muito elaborei se impõem de maduras ao ser, o problema da SIDA colocado no exacto plano, não o de qualquer moralismo serôdio mas no plano ético, naquele da cidadania e da defesa intransigente dos Direitos da Mulher como do Homem!
Queria, por fim, acrescentar, a propósito do ponto em que reafirmo ser a palavra vida por logo nela a vida, como anti-viral se conter:
O que é dito ou nos envolve ou não e se nos envolve então obriga-nos a ser consequentes com ela ao ponto da constatação e da plausibilidade do ditado, sabedoria popular, não casuística (!), que nos diz que o que sai pela boca menos hipóteses terá de sair, desregulado, por outro lado qual seja.
Assim, tudo o que possa dizer e logo porque é dito ou escrito, concorre também e ainda que por antinomia ou paradoxo, para a prevenção da pandemia e de quanto mais for dito mais ela própria se contém.
Acresce que a SIDA é sexualmente transmissível e que esta se espalha tanto mais quanto menos do sexo se falar, quanto mais tabu este o for e, logo também, desregulado se tornar ...
Senão, desafio-Vos a nesta caixa de comentários tudo dizerdes, escreverdes sobre o que a propósito desta temática e sem papas na língua, Vos possa ser sugerido, já que todos os dias são dias mundiais da SIDA!
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 2 de Dezembro de 2009