quarta-feira, 14 de janeiro de 2009


V Série


DUETO DE MUITAS VOZES



Primeira Voz

Escreves-me e eu emudeço secando as lágrimas que choro...!
Ressoa ainda o teu cantar, minha adorável ladra, no pé ante pé que pela calada da noite me insinua que pare de chorar e colha a rosa, sem espinhos que és tu (!) e que cante a vida, por mais solitária que seja a minha voz ao vê-la, à tua e perplexo, juntar-se à minha e que emerge, voz que entre as vozes se destaca e ecoa vinda do silêncio a afirmar que sim, que não estou só, que a tua já canta junto à minha, que somos dois já, reversos um do outro que se amplificam, duplicam síncrones no universo.
Que formamos um dueto, harmónio de muitas vozes ou compacto polifónico que se dá aqui e sem peias como se disséssemos que uma, apenas (!?), faria muito pouco.


Segunda Voz
Escreves-me e eu colho a rosa livrando-a dos espinhos agrestes ...!
Ou talvez não!?
Que os há, há-os tantos mais quantas as opções feitas e que não descartamos mas, passada a mudez que me provocaste e desta voz que não se cala, ergo-a de novo em canto surdo, cantando a vida e o amor, pedindo-te, quase a medo, licença e guardando a rosa e o ladrão de palavras junto a mim, segredando história de embalar.
De reis e de princesas, rainhas e homens comuns, de heróis anónimos a erguerem-se em vozes, mas com gana e na saga de um mundo melhor!
De artistas com génio, pintores de beijos e de rosas, das margaridas que te ofereço na volta, pois sei ser esta a tua flor favorita, aquela com que alegras a nossa casa.



3 comentários:

Anónimo disse...

Aceitando comovida as margaridas...

"Una voce poco fa
Qui nel cor mi risuonò;
Il mio cor ferito è già,
E lindor fu che il piagò.
Sì, lindoro mio sarà;
Lo giurai, la vincerò.
Il tutor ricuserà,
Io l'ingegno aguzzerò.
Alla fin s'accheterà
E contenta io resterò.
Sì, lindoro mio sarà;
Lo giurai, la vincerò.
Io sono docile,
Son rispettosa,
Sono obbediente,
Dolce, amorosa;
Mi lascio reggere,
Mi fo guidar.
Ma se mi toccano
Dov'è il mio debole
Sarò una vipera
E cento trappole
Prima di cedere
Farò giocar."

Una Voce Poco Fa
Due Voci Molto Faran
Tre...

Manuela Baptista
Estoril, 14 de Janeiro 2009

Ana Cristina disse...

Jaime e Manuela

Olhei mais do que uma vez para a fotografia daquela janela de uma casa onde se vislumbra um vulto sentado à secretária(?), perguntando-me se era a vossa casa e uma das vossas janelas.

Traços comuns à vossa rua.
Traços serenos e acolhedores.
Podia muito bem ser!

1 beijinho para o ladrão e para a vítima babada ;)

Nini

Anónimo disse...

Ana Cristina

Querida Nini,

A Sua é, neste caso, a terceira voz que às duas se junta e faz mais, mais ajuda a fazer!

E isto se não contarmos com as vozes da Callas e os traçados de Klimt e Van Gogh por aqui povoando numa casuística criteriosa um dueto que se transforma em sextepto, numa polifonia que se adensa ao correr da pena ...

Que mais quer que Lhe diga pois se já disse tudo!

Pergunta a minha querida Amiga se a fotografia não poderia ser a da janela de nossa casa na constatação de traços comuns à nossa rua, serenos e acolhedores!?

Podia sim, também a mim, de súbito me pareceu existir essa verosimilhança!

Vítima babada é aquela que por um ladrão subtil é assaltada de emoção.

Um grande beijinho, Seu

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 14 de Janeiro de 2009