domingo, 31 de maio de 2009

SAUDADE

Termina o mês de Maio numa enxurrada mais que diária de produção escrita, original e de autor, autores que somos minha mulher e eu próprio, a uma velocidade que se derrama pelo interior das caixas de reflexões e em outros blogues vizinhos, sendo certo que não me poderei, sob pena de me dispersar e perder o fio à meada, distender por outros mais, na esperança que os meus leitores o compreendam e que, pelo facto, me desculpem.
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Já sinto saudade da Primavera
na inversa da canção que a deseja
após o rigor da invernia
que tarda em dá-la ao dia
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 31 de Maio de 2009


A TI

Chora minha amada meus anseios
Que contigo reparto nestes esteiros
Meu sonho que a cantar não paro de erguer
Junto ao que a ti trago neste crer
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Que mais escrever será preciso para ver
Ou que por tanto ser é meu sofrer
É o amor que te tenho e corre em veios
Circula de minhas artérias aos teus seios
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Se sei para onde vou e com que meios
A ti te levarei junto ao meu querer
Não me apartarei de ti em devaneios
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A ti causa efeito do saber
Lego testemunhos e trauteios
É tua pertença eterna o meu ser
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Manuela Baptista, a ti secreto amor
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 31 de Maio de 2009

sábado, 30 de maio de 2009

CAPITAL

Capital ou que diz respeito à cabeça, à vida de uma pessoa.
Ironia da História, na escadaria Danu do Museu do Louvre sobre a qual se ergue nesse imenso palco e interpelando os visitantes, os amantes da História, da Arte e da Cultura, a estátua de Vitória de Samotrácia ou deusa Atena Niké monologa, confidente, para quem a saiba ouvir:
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Anjos decapitados que sois, erguei-vos!
Não são as asas que vos faltam mas sim a cabeça e não vos confundais comigo da qual, aparentemente, prescindo ...
No meu tempo, voar só em sonho, na mitologia ou contemplando os pássaros mas hoje, porém, está ao vosso inteiro alcance!
Quantos de vós não haveis chegado a voar até aqui, até mim?
Aliás, não parais de esboçar linhas de voo e quedas monumentais das quais vos ergueis, não tendes outro remédio na longevidade que as vossas vidas hoje vos proporcionam (!) mas apenas parece, parece insisto, que não quereis, todavia, fazer o balanço dos voos e das quedas para que possais voar mais alto e melhor ainda...
... e sem a síndrome de Ícaro!
Onde tendes as cabeças!?
Estarão, porventura, esquivas, escondidas numa furtiva sistemática ao contraditório, à réplica e ao pensamento livre!?
E quem o quer e a ele não se furta, não lhe deverá ser concedida soberania à sua própria cabeça, a si, fazendo-me, a mim e por interposta pessoa, a Justiça que tarda e que, as circunstâncias da História, me levaram a chegar até vós assim, mutilada e decapitada qual libelo ou sinal interpelativo por redimir!?
Não sabeis já que os deuses, eu mesma, fomos destronados e que vós próprios lhes haveis tomado o lugar intermédio entre Deus e os seres!?
Entre o Ser e os seres!?
Estais à espera de quê!?
Que esta lição que o Louvre vos escancara nas suas entre-linhas, patamares e degraus seja lida por alguém com ousadia bastante!?
Pois aqui o tendes!
Dai-lhe então lugar soberano e à sua própria cabeça, à cabeça daquele que se não dispensa as asas imprescindíveis ao voo, ao sonho, ao belo, ousa afirmá-lo fazendo-nos, sem papas na língua, a vós e a mim, a Justiça que não decapitando nos vai tardando.
Para que também sejam circunscritos os pretextos, os limites da mediocridade e da ganância que é dizer a mesma coisa!
Para que eu não seja apenas letra morta, pedra serôdia e silenciosa, intocável de museu!
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O sing unto the Lord a new song
Declare His honour unto the heathen
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 30 de Maio de 2009

sexta-feira, 29 de maio de 2009

ASSERTIVIDADE

( ... )
Para monotonia e assertividade já basta o que ainda hoje sobrevive na nossa sociedade
( ... )

de uma Amiga minha
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Querida Amiga,
Fiquei a matutar a noite inteira sobre esta frase que me escreveu ...
A matutar é uma força de expressão já que, perdoar-me-á, dormi sobre ela mas, se é verdade que a melhor maneira de pensar nas coisas é nelas não insistir então dormir foi mesmo o melhor remédio.
A dormir as coisas assentam, processam-se e quando, após um sono reparador delas nos abeiramos outra vez, tudo nos surge, de novo, com outra clareza.
Se, é certo, ser-se assertivo é ser-se afirmativo como hoje logo confirmei no dicionário, então e ao contrário do que escreve, aquilo que herdámos dessa monotonia do Era uma vez e que, ainda hoje, está bem presente entre nós, se é uma certa monotonia, concordo, será também o contrário de assertividade ou seja, a dificuldade que temos em nos afirmar e que tem inúmeras explicações.
Respondia-Lhe eu com a assertividade peixícula ...
De facto, o peixe espada não podia ter sido mais assertivo e o caranguejo, ao admitir-se feio, também não!
Mas, ao encontro do desafiante e apelativo, como o escreve ainda, da estranha matéria de que são feitos os blogues e rompendo com a monotonia herdada o que se impõe, julgo, é que sejamos, isso sim, assertivos, isto é, que em vez de andarmos à volta dos assuntos sem neles nos envolvermos ou a tudo dizermos, acriticamente, que sim e nesse sentido percebo o Seu assertivo, como na peixaria do número 28 pelo contrário, sejamos afirmativos, que não evitemos o embate e ainda que a afirmação seja um longo processo na complexidade maior que implica a sua exposição, ela também afirmativa das partes.
Que Lhe parece!?
Um beijinho, Seu
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 29 de Maio de 2009
Albert Ayme, assinatura
... a dupla afirmação não é a negação ...

quinta-feira, 28 de maio de 2009

ERA UMA VEZ

Era uma vez um peixe espada ...
Peixe era ele, espada não tinha mas parecia.
Laminado e comprido, furava as águas do mar a enorme velocidade e brilhava espelhado para quem o quisesse ver pesasse embora a velocidade a que nadava.
Um dia, exausto após uma dessas longas caminhadas se assim se lhe pudesse chamar, aterrando no fundo do areal branco do mar com estardalhaço, ali ficou estremunhado e exausto.
Um caranguejo que passava molengão, vendo-se ao espelho no espelho da espada gritou:
- Ui, mas que bicho tão feio!
- Estás-me, porventura, a chamar nomes (!?), perguntou-lhe, impávido e de esguelha o peixe espada.
- Não, respondeu-lhe de volta o caranguejo, falo do bicho que circula no teu lombo!
- Lombo de peixe espada não tem bicho, bicho é um peixe que não tem lombo, crustáceo!
A partir daí, o caranguejo e outros mais e similares, nunca mais se livraram desse epíteto e, brandamente, com a espada se lavrou essa sentença.
- Invertebrado, fossilizado e espinhoso ... falcatrua (!), acrescentou ainda o peixe espada para que não restassem dúvidas sobre tão liminar prognóstico e, reunindo as forças que lhe faltavam, diagnosticou ainda:
- Arrecuas!!!
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... passa hoje o aniversário sobre a data fundadora de um tempo espinhoso a não esquecer para que não volte mais e o caranguejo e todos os crustáceos que me desculpem ...
-
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 28 de Maio de 2009

quarta-feira, 27 de maio de 2009

O PEIXE-LUA E A MENINA ESTRANHA

Uma noite um Peixe-Lua cansado de nadar, veio dar a uma praia de conchas e areia fina.
Soprava um vento frio e o Peixe para se aquecer acendeu uma fogueira, com muito cuidado, para não grelhar as suas próprias barbatanas e ali ficou a brincar com a areia quente e com as conchas, a fazer uma espécie de bolas de sabão, mas que não eram de sabão, eram bolas de vidro brilhante e transparente.
O Peixe-Lua sabia que tinha talentos, mas fazer bolas de vidro foi uma revelação! As bolas de vidro subiam pelo ar levadas pelo vento, umas em direcção ao mar, outras pela terra dentro. O peixe pensou:
”Será que algum pescador as descobre e as captura nas suas redes, como se fossem peixes como eu? Será que algum menino as cobiça e joga com elas como se fossem um brinquedo?”
Adormeceu docemente com a música crepitante da fogueira e assim não viu uma menina pequenina espantada com aquela noite especial, que em vez de estrelas lhe oferecia uma linda e redonda bola de vidro!
A menina, além de pequenina também era um pouco triste. Às vezes, os adultos não a compreendiam muito bem e diziam:“Cada vez está mais bonita esta menina, mas é tão estranha!”
A bola era tão grande e maleável que a menina não teve dificuldade nenhuma em entrar nela e disse:
“Esta bola vai ser a minha casa secreta! Aqui guardarei os meus tesouros, aqui posso esconder-me dos meus irmãos, quando eles me baterem ou me puxarem os cabelos ou quando quiser faltar à escola”.
E todas as noites a menina viajava na sua bola de vidro, espreitando o mundo sem que ninguém a visse mas vendo tudo e todos com a nitidez das manhãs antes da chuva.
Nela guardava as coisas boas que possuía, as recordações que ia acumulando e que assim não se perderiam nunca e jamais seriam esquecidas.

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Ao Jaime digo,
a Matéria dos Sonhos também é a memória das coisas e das pessoas que mantemos vivas. Este texto foi escrito e dirigido à Isabel Venâncio a propósito da sua página "Dualidades",por isso pertence-lhe. Mas a matéria dos blogues também tem a sua dualidade, eles são como a menina, um pouco estranhos...
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Manuela Baptista
Estoril, 27 de Maio 2009

A MATÉRIA DOS SONHOS

Eis que exponho aqui, torrencialmente, a matéria dos meus sonhos.
Organizada em letras, palavras, frases e composições em que se conjuga ela adquire a consistência da matéria que embora não seja física na dispensa do papel não prescinde deste suporte que é físico, na virtualidade que o caracteriza, nem tão pouco biológica mas contém vida, aquela que deriva da sua conjugada leitura, escuta e interpretação.
Logo uma palavra, a palavra amor, por exemplo, consulte-se um bom dicionário, nas antinomias que a ajudam a definir, contém viva a História toda ...!
Quanto mais tudo o que aqui escrevo conjugado na sua profusamente dinâmica interacção ...!
A matéria primordial dos sonhos é a palavra.
O pensamento não a dispensa ...
A linguagem da ciência também não pois sem ela, não nos interrogaríamos e a interrogação assenta, logo de início, na palavra.
A da arte e das letras também nela assentam e por maioria de razão!
Oiço uma música e ela transporta-me à palavra e já para não considerar a sua linguagem cifrada, como tal, palavra em si mesma;
Ou os sentimentos que se exponenciam e que têm, eles também, tradução verbal sem a qual seriam uma mescla indecifrável, irracional;
Oiço uma história e ela é palavra;
Quero perceber uma fórmula matemática ou responder a uma hipótese científica ...
Ou decifrar um sonho ...!?
E é sempre a palavra que à realidade a transporta a um outro estágio realizador que do sonho o aproximam.
A vida ...!?
Ela também é matéria do sonho e este vai-se, por distanciamento no pesadelo, ou aproximações e nestas tendencialmente, realizando.
A matéria dos sonhos somos nós que acrescentamos ao real e este, em si mesmo, não é traduzível ...
Expliquem-mo pois, ao real sem a palavra e ainda que com simples sinalética mimada, palavra em si mesma!
Como veríamos nós sem a matéria dos sonhos e sua liga de campeões que é a palavra realizadora!?
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 27 de Maio de 2009

terça-feira, 26 de maio de 2009

IMPREVISÍVEL RETORNO

http://www.youtube.com/watch?v=uGAxAM5p0Qs
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Quando escrevo
matéria sonhada do real
ou realização do sonho
eu não sei
as reacções que desencadearei
e como
de volta
as receberei
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Elas são
por isso
sempre imprevisíveis
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Quando esperaria o riso
provoco o choro
se o aplauso
eventualmente
imenso silêncio
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Sei
no entanto
que num mesmo texto
ao ler e reler aquilo que escrevo
as minhas próprias reacções divergem
podem ir do choro ao riso
do silêncio à musicalidade transbordante
ao entusiasmo do aplauso íntimo
assim o leia agora ou depois
de manhã ou à noite
e em função do meu próprio humor
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Sei
portanto
que o retorno variará até ao inesperado do sonho
que
quantas vezes encontro
ao reler o que escrevi
logo à primeira
como à centésima vez
-
Sei
finalmente
que nunca desperdiço aquilo que escrevo
e que cada vez mais o faço
directo
no suporte definitivo
-
Depois
na ausência que se instala
descanso
-
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 26 de Maio de 2009

segunda-feira, 25 de maio de 2009

SEM PÁGINAS DE UMA ARTE

V- OS SAPATOS VERMELHOS
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O Lugar Onde Dormem os Sonhos
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A Professora gostava de sapatos vermelhos. Vermelhos como o fogo, como as cerejas de Maio, como o pôr-do-sol de Agosto, como o tomate maduro, como as fitas do cabelo, como o sangue, como a vida, como a alegria de um dia de sol.
Quando ela calçava sapatos pretos, os meninos que já a conheciam muito bem diziam:
"A Professora hoje está triste!"
Ou verdes:
"A Professora hoje está zangada!"
Ou azuis
"A Professora hoje está distraída!"
As outras professoras tinham inveja dos seus sapatos vermelhos, de laços, sem laços, de saltos, sem saltos, de pala, sem pala e cochichavam:
"Vaidosa, que mania esta de ter fogo nos pés!"
O director repetia:
"Vaidosa! Faria melhor se fosse mais discreta."
Os meninos sabiam que a Professora, muito mais que vaidosa, era sobretudo bondosa, sempre pronta a ajudá-los, a defendê-los, a lutar para que fossem os melhores e era uma alegria quando iam para as suas aulas e não tinham medo de errar, de entaramelar as palavras difíceis, de trocar o pelo quê.
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Num dia chuvoso de uma Primavera incerta, os meninos estavam irrequietos, dispersos, um pouco brigões e barulhentos. A gramática não os interessava e escrevinhavam uns textos sem nenhum entusiasmo.
A Professora cansada de os mandar calar e tentar que se concentrassem, deu um grito, saltando para cima da secretária e com as suas sapatilhas vermelhas, um pouco molhadas da chuva, executou três passos de dança e um rodopio. Fez-se um silêncio de espanto!
"Professora! Está a dançar!" disse incrédula uma menina chamada Clara .
"A Professora está a dançar!" disseram todos.
E a Professora tirando da mala um livro de capa colorida, onde se podia ler "Quebra-Nozes" de Hoffman, pediu a um dos alunos que começasse a ler e foi dançando cada linha do primeiro capítulo como quem desenha numa folha em branco.
Os meninos maravilhados e mudos assim ficaram até que o som estridente da campainha os acordou violentamente.
A Professora desceu da secretária e calmamente disse:
"Até amanhã!"
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Na manhã seguinte as crianças estavam ansiosas para que as aulas começassem e foram os primeiros a chegar à sala e sentaram-se calados e expectantes.
A Professora entrou, abriu o livro de exercícios e as crianças desapontadas repararam que os seus sapatos eram pretos.
Então Clara perguntou:
"E o Quebra-Nozes, Professora? Só lemos o primeiro capítulo."
E outro menino, a quem chamavam Rato por ser muito pequenino e esperto, disse:
"E hoje não dança, Professora? Foi tão bonito!"
"A Professora é uma bailarina!" disse um terceiro.
A Professora fechou o livro e com uma voz um pouco cinzenta explicou aos meninos que poderiam terminar a história da véspera, mas dançar, não dançaria, porque dançar era acordar um sonho que adormecera há muito tempo e que ela tinha ousado acordar e isso tinha-a entristecido.
"Os sonhos dormem?"- perguntaram.
"Dormem, quando não os podemos realizar."- respondeu a Professora.
"E qual é o lugar onde dormem os sonhos?" perguntou Luísa, irmã de Clara.
"O lugar onde dormem os sonhos é assim como um grande lago, só que em lugar de peixes, algas, nenúfares, rãs e mosquitos embala nas suas águas os sonhos que as pessoas sonharam e que não se concretizaram e ficam ali à espera de ser acordados ou a dormir para sempre."respondeu a Professora.
"A minha mãe também tem um sonho adormecido" -disse o rapaz chamado Rato.
"Ela gostava de viajar até à Itália e conhecer Veneza"-acrescentou.
"Eu também tenho um sonho!"-disse a pequenina Gisela. "Quando for grande quero ser pianista."
E as crianças começaram todas a contar sobre os seus próprios sonhos e os sonhos dos pais, dos avós e dos amigos e a Professora disse-lhes então:
"Para concretizar os vossos sonhos, para os acordar, é preciso lutar por eles, com paciência, com perseverança, sem desanimar, às vezes durante toda a vida. É mais difícil do que mil provas de matemática!".
"E a Professora, porque é que não quer acordar o seu sonho?" perguntou Gisela.
A Professora olhou com atenção para aqueles trinta pares de olhos onde brilhavam trinta pontos de interrogação e pensou que aqueles meninos eram merecedores de conhecer o seu segredo guardado naquele lago distante de que falara.
E contou como tinha aprendido a dançar desde pequenina, das suas sapatilhas vermelhas com que se apresentava nos exames, da sua vontade de ferro em ser bailarina e da dor que sentira um dia no pé esquerdo e no coração.
Uma dor dupla que a impedira de dançar nesse dia e nos dias seguintes, uma dor que médico algum curara, apenas minimizara a do pé esquerdo e aumentara a tristeza do seu coração. Podia dançar um pouco, mas nunca se tornaria bailarina profissional.
O seu sonho vivia há muito nesse lugar onde dormem os sonhos e tinha-se transfigurado noutros sonhos.
Contou também, como depois estudara e se tornara professora, que gostava de ensinar e de escrever histórias para lhes ler e era para recordar a dança, que quase todos os dias calçava sapatos vermelhos.
Ao ver a tristeza das crianças prometeu:
"Amanhã, vamos continuar a ler a história do "Quebra-Nozes". Preparem-se!"
E aquele "preparem-se" ficou a soar nas suas cabecinhas, dormiu e acordou com elas e cada uma sem contar nada às outras percebeu o que deveria fazer.
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Nessa manhã a Professora calçou os seus mais bonitos sapatos vermelhos, colocou na bolsa um disco com a suite "Quebra-Nozes" de Tchaikovsky e sem saber porquê sentiu-se leve e feliz.
Chegou à escola, disse "Bom dia!", ao porteiro, ao director, às colegas e a todos os alunos que por ela passaram e rapidamente entrou na sua sala.
As crianças sentadas nas suas cadeiras ordenadamente, levantaram-se e saudaram:
"Bom dia Professora!" e foi aí que a Professora olhou para os seus pequenos pés que não conseguiam manter quietos e viu que todos, mas todos, rapazes e raparigas, tinham calçado sapatos vermelhos!
Continuaram então a ler o "Quebra-Nozes", mas desta vez havia um papel para cada um com os personagens da história: Clara, Luísa, Fritz, o Rei dos Ratos, os soldadinhos de chumbo, as bonecas, o Astrólogo da Corte, o Relojoeiro, a Dama Rata Rabujenta, as Donzelas, a princesa Pirlipat e é claro o Quebra-Nozes!
E, como se fosse a coisa mais natural deste mundo, começaram a dançar a história e a sala de aula não era mais uma sala mas um palco, onde as cadeiras voavam, os lápis falavam, os papéis ganhavam vida e pintavam-se a si próprios, o quadro era um espelho brilhante e as borrachas eram nozes saborosas! E assim passaram os noventa minutos de aula.
O director, incomodado por um ruído qualquer, torceu o seu nariz afilado, começou a cheirar cada porta e parou justamente à porta da sala da Professora abrindo-a de repente, convencido que iria encontrar uma enorme confusão.
As crianças estavam sentadas, com os livros e cadernos alinhados à sua frente, apenas os olhos brilhavam, algumas gotas de suor escorriam pelas suas faces coradas e os sapatos vermelhos agitavam-se por baixo das cadeiras.
"Mas que bizarro"- resmungou. "Agora parecem todos bailarinos, onde é que andaram?".
E a Professora respondeu:
"Não se preocupe, para si seria muito longe! Regressámos do lugar onde dormem os sonhos."
Nesse dia o dono da sapataria verificou com espanto que os sapatos vermelhos tinham-se esgotado nas prateleiras.
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http://www.youtube.com/watch?v=aVxgjZKnRbU
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Celebrando:
- "The Red Shoes", Os Sapatos Vermelhos- 1948
Realizador: Michael Powell e Emeric Pressburger
Música: Brian Easdale
-"Fantasia" de Walt Disney-1940: The Nut Cracker suite
música: Tchaikovsky
-"Quebra-Nozes" de E.T.A. Hoffmann
ilustrações: Lisbeth Zwerger
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Manuela Baptista
Estoril, 25 de Maio de 2009

domingo, 24 de maio de 2009

PESSOAS

Pessoas são Pessoas e nada mais
Umas não são menos outras arrais
Que não devessem ter lugar a ser
Tudo o que mais são e basta ver
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Não as há de segunda e sem ter
O que outras mereceriam por saber
São todas o lugar para onde vais
Espaço aberto que é teu e donde sais
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Seria o que faltava não serem tais
Quais outras que encontre no meu cais
Ou menos que pudessem já morrer
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És tudo e tanto mais e o teu querer
Por mais que fosse muito o teu sofrer
Ou pobres sem o serem teus portais
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É preciso, urgente, centrar o debate no indivíduo, no indivíduo singular sem o que, partidos, corporações, classes e seus representantes não verão satisfeitos os seus legítimos interesses e a Democracia não se reconciliará com o cidadão.
O que é que surgiu primeiro, o ovo ou a galinha ...!?
O empregado ou o empregador?
Um desempregado é o espelho do insucesso público e uma coisa é certa:
Sem Pessoas não haveria nem um nem o outro!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 24 de Maio de 2009

sábado, 23 de maio de 2009

REDE

http://www.youtube.com/watch?v=XeotZFBl-Vw
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Desde o mês de Junho de 2008 que iniciei as minhas incursões pela blogosfera.
Antes disso, uma extensa Obra existe em arquivo, parte relevante dela depositada na biblioteca do Centro Nacional de Cultura em Lisboa e noutros arquivos institucionais e particulares.
Apenas em Janeiro do ano em curso, porém, me foi, inesperadamente e para minha agradável e reconhecida surpresa oferecido este que é o meu blogue, de minha mulher e de mim próprio, por Filomena Claro com quem, entretanto, me havia cruzado nessas incursões e que achou por bem com ele me presentear.
Até então, circulava mais ou menos por sistema noutros blogues que assim quis o acaso e as oportunidades, nos quais deixava as minhas reflexões e onde, por vezes, estas surgiam em destaque de primeira página o que sempre muito me gratificou.
Em rede, devo porém confessá-lo, o meu pensamento, aquele que se desenvolve na blogosfera, está, não apenas no meu mas nesses blogues arquivado, estrutura-se, entrecruza-se e complementa-se em interacção com eles também e para segui-lo tem de o ser com o sistemático que nesses blogues amigos encontrou acolhimento.
Cronologicamente, são eles:
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( Da página de 13 de Junho até ao seu terminus em Julho de 2008 )
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( Desde a página de 15 de Junho pela mão de Ana Cristina Venâncio )
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( Desde 3 de Julho de 2008 )
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( Desde o seu início em 21 de Outubro de 2008 )
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( Desde Novembro de 2008 )
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( Desde 12 de Março de 2009 )
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Em camadas sobrepostas ou sucessivas assimetrias simétricas, acima vos deixo os endereços de acesso a esses blogues na imodéstia contida de uma virtualidade lusitana.
O dever de transparência a tanto me obriga!
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http://www.youtube.com/watch?v=SzoB8ux5W8s
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 23 de Maio de 2009

sexta-feira, 22 de maio de 2009

CORAÇÃO E BOCA E TACTO E VIDA

Consumiu-se minha voz num extinto fio Que muito demorou sem dizer pio
No mar se contorceu qual caravela
Exposta às intempéries e à procela
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Murmúrio se fechou em sua cela
Vibração imensa sem ser rela
Que um dia se agigantou neste pavio
Aceso e a brilhar como se viu
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Mas foi preciso dar ao tempo a querela
O modo de vencer águas e rio
A força da razão para lá do cio
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Cair num fundo abismo onde ao trio
Levasse a cavalgar em minha sela
A voz que feita escrita estava nela
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http://www.youtube.com/watch?v=GgWgBwP1g1I
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 22 de Maio de 2009


ARTE E VIDA

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Qual a diferença entre a vida e a arte?

Ambas não se devem, não se podem destruir mas a diferença está em que a vida pode ter arte mas a arte, essa, tem vida.
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PÁGINA DE UMA ARTE COM LÁGRIMAS
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Obrigada João, mas aqui partilhas a arte com esta pena que sinto no teu abandono desta Casa Encantada.
Sofrias, entre muitas outras, da doença incurável do Cinema, mas não foi ela que hoje te atraiçoou.
Durante anos, aprendi contigo a emoção de viver as histórias da nossa vida, copiadas ao milímetro pelos que, como tu, entendem do Tempo e do Modo.
Afinal sempre foste um bom Professor.
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A João Bénard da Costa, que mudou hoje de Casa.
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Manuela Baptista
Estoril, 21 de Maio 2009
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CASA ENCANTADA
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Casa Encantada é sentido
Da arte à Pessoa amada
É a saudade volvido
Um projector nesta estrada

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É o cinema de cada
Um que o canta envolvido
É tudo e pode ser nada
Por muito que tenha sido

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Teu holofote benzido
Tua vontade cantada
Neste Povo celebrada

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Cinemateca suada
Onde as fitas tenham tido
Lugar e hora marcada
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( Sonetinho à memória de Bénard da Costa )
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 21 de Maio de 2009

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À memória dos Artistas na pessoa de João Bénard da Costa que ontem se despediu de nós


quinta-feira, 21 de maio de 2009

SINCOPADO

http://www.youtube.com/watch?v=B2UHCm1Yfsc
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Por vezes eu dou guinadas
Sincopadas quais pancadas
Salto de um elo perdido
Para uma carta desabrido
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Ponho à escuta o meu ouvido
No que me diga sentido
Sigo um elo de fadas
Tiro parras encontradas
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Arranco em poucas penadas
O que me diz tinha sido
Na prudência consumido
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Sem deixar ser corrompido
Pelo silêncio em lufadas
Aqui me têm estouvadas
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 21 de Maio de 2009

CARTA PARA ALÉM DO ATLÂNTICO


ROBERTO NEY
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Caro Amigo,
Fui ao seu espaço e nele tentei introduzir um comentário que, para minha grande pena (!), se apagou!
O mesmo já tinha acontecido no Seu outro blogue e, por isso, por haver qualquer coisa que me escapa e que me impede de interagir nos Seus blogues, resta-me tentar escrever aqui e outra vez, o que neles quis introduzir.
Vamos lá a ver:
O sexo está na cabeça, ela contém ambos, e é nela que ele se resolve.
Resolve no sentido de se realizar!
O sexo não é simples morfologia!
Ele é um composto complexo feito do genético e do adquirido, do cultural, sendo que as fronteiras entre uma e outra coisa e por mais que se tentem definir, não são estáticas mas movediças, variam com o espaço e com o tempo, de pessoa para pessoa e de idade para idade.
O sexo não é apenas um meio, factor de reprodução ou instrumento do prazer, estritamente falando.
O sexo também não é simples mecânica nem atributo exclusivo de apêndices, envolve, eventualmente (!) o Outro e no outro ele é tão complexo como em mim mesmo também.
Em cada um de nós e independentemente do seu sexo, na cabeça está o feminino como o masculino e necessariamente também o neutro, essa capacidade que temos de nos distanciarmos, de tentar ver de fora essa interacção que no Outro e em mim próprio se realiza e que, portanto, ao Outro e a mim mesmo tem de ter em consideração como indivíduos e não instrumentos que, de facto, sublinho, não somos.
Não somos meios que indiscriminadamente se possam usar para atingir os nossos objectivos!
Falo do respeito pelo Outro na sua integralidade, indivisibilidade o que pressupõe o respeito pela Pessoa Humana nos seus direitos em interacção com os meus e os deveres que nela, nessa interacção ao Outro e a mim próprio nos obrigam.
O resto é espuma dos dias, preconceitualidade que apenas ofusca e bloqueia a reflexão livre e empenhada, porque só pode é sê-la (!), séria sobre o assunto.
E sem puritanismos perversos!
Mas, aquilo que o sexo é e nestes pressupostos que considero incontornáveis, já não é pouco.
Ai não é não!
Um grande Abraço, Seu
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 21 de Maio de 2009

Colecção Berardo, Lisboa, Centro Cultural de Belém

quarta-feira, 20 de maio de 2009

ELO PERDIDO

http://www.youtube.com/watch?v=bD1zZo_DR4s
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O elo perdido
na nossa vida
é também aquele que nos catapulta
para a idade da razão
que adormece ou não e quando não
resolvido
faz dela a sua força maior
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Refiro-me ao fio quebrado
esse elo
que menosprezado
é
normalmente
tratado com condescendência
obliterado
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É fio de voz
Som de flauta
Pan hipnótico
Pauta
Que à infância
Enfeitiça
E a divorcia
Da liça
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( A propósito do suposto elo perdido de ligação entre o Homo Erectus e o Homem Moderno, cuja descoberta a Google hoje celebra. )
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 20 de Maio de 2009

terça-feira, 19 de maio de 2009

POEMA MATEMÁTICO

Matemática
Negativa
À esquerda
É a nativa
Numeração
Sem ter fim
É racional
Não o medo
Valor tem e o condão
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Matemática
Positiva
À direita
Subversiva
Do número faz confusão
Irracional inflação
Sem ter nenhum dó de mim
E que tarda
Em ter um fim
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Está no centro
O número zero
Natural e infinito
Cabe nele
O Mundo inteiro
É a bitola
O espelho
É o fiel
Por que anseio
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Cara esposa
Minha voz
Espelho meu
Que trago a Vós
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 19 de Maio de 2009

ESTATÍSTICA E CULTURA

Estatística ou colecta de dados quantitativos, recurso metodológico para se obter objectividade e/ou grau de certeza quanto à relação entre hipóteses e análise dos dados e as suas interpretações.
Cultura ou ilustração, o saber de uma pessoa ou de um grupo social.
Pode-se quantificar os saberes mas não o saber.
Se são complementares, as duas noções, estatística e cultura, não se esgotam uma na outra.
A cultura não é uma mera colecta de dados, mede-se antes na capacidade em os organizar num todo coerente, de qualidade intrínseca e se é estatística, então é-a apenas na medida em que saiba relacionar dados com hipóteses e as suas interpretações.
Mais do que enumerar muitos dados, o saber é a capacidade de dialecticamente os relacionar e mesmo se a contra-corrente.
O saber não se sufraga, não tem razão porque muitos o corroborem.
A força do saber, da cultura, advém-lhe da sua coerência interna e nesse sentido sim, da sua força estatística.
Estatística e cultura convergem mas divergem também.
O saber, a cultura não se vota, é.
Tal como uma fórmula matemática, uma hipótese científica, uma obra de arte, uma ária de Mozart ou o amor.
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Mulheres
Vós que sabeis
O que é o amor
( ... )
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 19 de Maio de 2009

domingo, 17 de maio de 2009

SEM PÁGINAS DE UMA ARTE

IV - CONTA COMIGO
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O RAPAZ SÓ E A MENINA QUE NÃO VIA AS ESTRELAS
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O Rapaz Só era resmungão, não gostava da escola, com fama de mau aluno fazia tudo para a manter e até tinha um certo orgulho nisso. Os professores às vezes perdiam a paciência e muitos desistiam de o ajudar. Apenas uma das professoras conseguia ver para lá da arrogância e do desinteresse, o rapazinho assustado e só, que ele realmente era.
Tinha poucos amigos e como não sabia resolver os problemas pacificamente assustava os mais novos e a sua atitude arrogante afastava os companheiros.
O Rapaz Só não gostava de ser tocado, mal alguém o agarrava, puxava um braço ou lhe segurava a mão, reagia com violência e sacudia os outros afastando-se.
Os avós diziam:
"É um rapaz valente, não tem medo de nada", mas sentiam que ele não era feliz, que fingia apenas ser grande e forte.
Às vezes antes de adormecer o Rapaz Só, sentia de novo a mão da mãe que o tocava levemente no rosto, lhe afagava a nuca e todos os medos se desvaneciam e ele já não era o Rapaz Só, mas um menino da sua mãe a brincar de novo na areia da praia, a enfrentar com ela as ondas, a gritar de alegria como as gaivotas, a mergulhar como os golfinhos, a galopar Cavalos Marinhos. Muitas vezes faltava à escola, fugia para a praia e numa rocha solitária ficava ali, a conversar com o mar e a contar-lhe das saudades que tinha da sua mãe, até o sol se pôr, até as estrelas começarem a piscar.
O Rapaz Só era fraco a Matemática e a Português, mas conhecia bem as estrelas, as constelações, os seus nomes e o seus desenhos nas noites estreladas.
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A Menina Que Não Via as Estrelas, era pequenina para a idade, tímida e envergonhada. Passava a vida a tropeçar, esbarrava nas pessoas e chegava muitas vezes atrasada à escola porque, sem saber como, enganava-se no autocarro que tinha de apanhar todas as manhãs.
As pessoas diziam:
"Que menina distraída, parece que não vê o que está mesmo à frente do nariz!".
A Menina suportava tudo isto pacientemente, sabia que era míope e que precisava de óculos, mas a mãe adiava esta questão, porque havia sempre qualquer coisa mais importante do que ela lá em casa: o casaco para o irmão mais velho, as botas para o mais pequeno e a conta do gás; mas do que ela tinha verdadeiramente pena era de não conseguir ver as estrelas! Ela sabia que existiam, lá bem alto no céu, mas conhecia-as apenas pelas ilustrações dos seus livros de estudo.
A professora da Menina Que Não Via as Estrelas, sentava-a perto do quadro, explicava-lhe as lições e até já andava um pouco zangada com esta mãe e com o seu projecto de óculos eternamente adiado.
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A Menina Que Não Via as Estrelas e o Rapaz Só, encontravam-se às vezes no pátio da escola e apesar de tão diferentes e distantes começaram a conversar, a contar onde viviam, o que faziam, as coisas de que gostavam e as coisas que odiavam.
O Rapaz falou dos avós, das saudades que tinha da mãe, de como não gostava da escola, da sua rocha na praia e das suas escapadelas nas noites de luar.
A Menina falou da dificuldade que tinha em ver as coisas distantes, de como gostava da escola e da professora, de como às vezes se sentia só no meio da sua grande família e da sua tristeza por não poder ver as estrelas.
O Rapaz disse:
"Não faz mal, eu conheço bem as estrelas e vou-te ensinar tudo o que sei sobre elas e assim não te vais esquecer de nada e será como se as pudesses observar!".
Então, todos os dias se encontravam e todos os dias falavam da ciência das estrelas e da ciência das suas vidas.
E a pouco e pouco o Rapaz foi aprendendo a dar e a receber e quando a Menina lhe pousava a mão sobre o ombro ele já não saltava desconfiado.
Um dia a Menina recebeu finalmente os seus óculos cor-de rosa e depois das aulas foi com o Rapaz à praia e este mostrou-lhe a rocha solitária onde se costumava sentar. Ficaram muito tempo ali, os dois a contemplar o sol e a rirem-se das coisas espantosas que a Menina via com nitidez. Não arredaram pé até a noite chegar, a invisível Lua Nova fazia o céu resplandecer de escuridão e aí pela primeira vez a Menina Que Não Via as Estrelas viu as estrelas e o Rapaz Só apontou-as uma a uma e juntos disseram o nome de cada uma delas.
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No dia seguinte, na aula de Português, o Rapaz Só começou a escrever, a escrever sem nunca mais parar, soltou a alegria imensa que tinha sabido partilhar e sentiu-se bem e feliz. Quando a professora lhe pousou a mão sobre a nuca para recolher o teste, o rapaz estremeceu, mas em vez de se encolher e afastar, sorriu e disse:
" Eu hoje gostei desta aula, professora!"
Ao mesmo tempo na aula de Ciências a Menina Que Não Via as Estrelas, orgulhosa dos seus óculos novos, conseguiu ler as perguntas escritas no quadro e sem hesitar respondeu a todas e não errou nenhuma. Por baixo assinou: "Menina Que Vê as Estrelas".
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À Isabel Venâncio que inspirou O Rapaz Só,
à
Filomena que deu vida à Menina Que Não Via as Estrelas,
aos Professores que sabem fazer a diferença e sair do Fundo do Pântano.

http://www.youtube.com/watch?v=Vbg7YoXiKn0
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Celebrando:
"Stand By Me"- Conta Comigo- 1986
Realizador: Rob Reiner
Música: Ben E. King
"Au Revoir Les Enfants", "Adeus Rapazes"-1987
Realizador: Louis Malle
"Les Choristes"-
2004
Realizador: Christophe Barratier
Música: Bruno Coulais
e
Franz Schubert: Momentos Musicais 2

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Manuela Baptista
Estoril, 17 de Maio de 2009

ARTE E CIÊNCIA

Ambas, arte e ciência, não perdurariam nem se exponenciariam sem inspiração e sem técnica.
Inspiração ou criatividade que num caso, na arte a acrescenta de um sopro adicional e na ciência também, pela capacidade de interrogar o que se tem por adquirido.
Técnica, em ambas, sem a qual não seria possível representar tudo o que está para lá do que se vê, stricto senso e potenciando as linguagens que lhes são próprias, tanto à ciência como à arte.
Tanto a uma como à outra.
A ciência assenta na experimentação onde os factos, a sua apriorística observação confirma hipóteses em leis que se aplicam e transformam o real.
A arte, ao sujeitar-se à prova do tempo que a corrobora amplificando-a ou não e redimensionando, por sua acção também, a realidade.
Simétricos, num caso como no outro, à priori ou à posteriori, os factos as confirmam a ambas.
A arte informa a ciência e a ciência inspira a arte.
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Eu escrevo
e na escrita exercito a minha técnica
mas se não fosse a capacidade crítica
de me interrogar
criando
de muito pouco a primeira serviria
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" Não existe teoria, apenas escuta. A fantasia é a Lei."
( atribuido a Claude Debussy
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 17 de Maio de 2009

sábado, 16 de maio de 2009

NADA TER

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Nada ter é tão pouco, alguma coisa ou muito?
No vácuo existiria ainda um espaço não preenchido de matéria clara ou escura;
No vazio, um espaço sem matéria, sem campo ou radiação;
No nada, nem espaço existiria, seria a ausência de lugares, um não lugar que numa singularidade primordial deu origem a tudo o que existe.
Conseguiremos imaginar esse momento, antes dessa singularidade primordial?
Onde não existiria nem tempo nem momento, nem espaço ou coisa alguma mas que, no entanto, a tudo deu origem?
O caos ...?
A teoria do caos que para a física e a matemática explica o funcionamento de sistemas complexos e dinâmicos?
Nada ...
O que é o nada?
Nada são já quatro letras e ao tê-las já é alguma coisa!
Muito, pouco ou nada!?
Caos também tem quatro letras ...
E Deus!?
Outras quatro ...!
Que maravilhosas combinações de caracteres sem as quais, no princípio, no meio ou no fim, nada existiria!
Nada já é ter alguma coisa.
Já é alguma coisa!
Como quantificá-lo, qualificá-lo não menos!?
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 16 de Maio de 2009

Random Sphere

Onde a ciência inspira a arte e a arte informa a ciência