quinta-feira, 4 de junho de 2009

O TRÁGICO

Quantas tragédias se passam, diariamente, no Mundo e não são reportadas!?
Tragédias provocadas por causas naturais, por acidentes e, pior ainda, por vontade deliberada dos homens!?
Quantas, de dimensões colossais, apenas de raspão são noticiadas enquanto outras, de menor (!?) dimensão mas por terem lugar entre aqueles que nos estão mais próximos, aparentemente mais iguais que Outros (!?), são amplificadas até à exaustão!?
Haverá vidas que valem mais do que outras!?
Às vezes parece que sim ...!
Mas se eu não celebrar, homenagear, a morte dos que me são mais próximos, como celebrarei a dos que me estão mais longínquos!?
Uma vida que se extingue é, em si mesma, uma tragédia!
É um testemunho, uma história viva que se interrompe, uma visão única, ímpar que se esvai!
Um relevo, um ângulo multiplicador que se subtrai ...
E nessa angular única posso sempre homenagear, prestar o meu preito como se a todas, nela eu as celebrasse.
Celebrasse ...
Celebrasse a Vida em toda a sua imprevisibilidade inviolável, trágica e fascinante!
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Brahms desejou que esta obra, mais do que o Requiem Alemão fosse um Requiem Humano

( in YouTube, Ein Deutsches Requiem, Sir Simon Rattle )
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 4 de Junho de 2009

Sebastião Salgado, campo de refugiados, Tanzânia

3 comentários:

jaime latino ferreira disse...

O TRÁGICO


Não fujo nem acho que deva fugir do lado trágico da vida.

Sois testemunhas que não paro de exaltá-la mas, não há como fazê-lo escamoteando o que ela tem, em todos nós, de trágico.

Nenhum de nós escapará da morte e ela é, em si mesma, uma tragédia.

Pode ser muito mais do que isso e eu acredito que sim, sabei-lo (!), mas à tragédia da morte que se vai revelando entre os que nos são próximos e inexoravelmente no nosso próprio fim ... não lhe escapamos.

Ninguém lhe escapa!

Nela também se espelha a nossa profunda igualdade e, não fora o lado trágico que às nossas vidas ela confere, como as poderíamos exaltar!?

Só para citar estes últimos, oiçam-se os Requiems de Verdi e de Brahms feitos em vida por quem já morreu e sinta-se o sublime das exaltações neles contidas.

Se não fosse trágica, a vida também não seria sublime e a música, a poética e as artes, será que existiriam!?


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 4 de Junho de 2009

manuela baptista disse...

Porque estamos vivos apenas podemos falar da morte dos outros. O resto são reflexos.

Na música, no cinema, na literatura, qualquer morte é digna e poderá também ser bela e exaltada; quando nos toca pessoalmente a história é outra.

Dizemos a alguém: "Boa viagem!" e no minuto seguinte essa pessoa deixou de existir, desapareceu.

Em cenários de guerra, noticiados até à exaustão, quem liga a mais um, ou dios ou cem desaparecidos? Mas quando é o nosso vizinho e ainda por cima Europeu, ou numa rota que nos é familiar, trememos só de pensar no gelo dessa queda no precipício, nesse imenso e indesejável abismo.

Manuela Baptista

Anónimo disse...

"A perda quando é grande secas as pessoas, seca-as por dentro, como um lume."

Joaquim Mestre


Um beijinho


Filomena