quarta-feira, 1 de julho de 2009

VAZIO

O vazio que há em mim entorna-se sempre em algo mais.
Eu agarrei um pedacinho de eternidade e este, mágico cadinho, desdobra-se mais e mais sem conseguir nem querer parar.
Ainda há pouco dizia para mim mesmo que me sentia vazio, espremido e que de mim, hoje não sairia nova página.
Puro engano ...!
E sigo a receita que normalmente aconselho aos meus alunos quando, por hipótese, têm que escrever uma composição e não sabem por onde começar:
- Começa, exactamente, por escrever sobre isso mesmo, sobre a dificuldade que tens em o fazer e verás que alguma coisa daí sairá!
É que, quando de nós próprios escrevemos nem que seja a admissão da incapacidade, da dificuldade que temos em escrever, logo nos interrogamos dos nossos porquês, porque estarei eu assim (!?), e esse nosso livro, o livro que nós próprios somos, rapidamente nos fornece a matéria prima susceptível de ser desenvolvida e ainda que enquadrada, neste meu caso, pelo incontornável do suporte e do fio que sigo quando escrevo ...
É muito fácil, desculpem-me, falarmos dos outros e ainda que nomeando-os em brilhantes citações suas ...
Citando-os academisticamente!
Que ninguém tome o que escrevo aqui como lhe sendo dirigido.
Mas falar, escrever sobre nós próprios e mesmo se em réplica a citações dos outros, tem, meus Caros, muito mesmo e mais que se lhe diga.
Vale, no entanto, sempre a pena!
E vale porque, nesse escavar em nós mesmos, arqueologia da alma, descobrem-se, invariavelmente, tesouros escondidos, hipotéticas entronizações, coroações e jóias perdidas que no tempo nunca tarde se revelam.
E aqui está, o que me saiu já não é mau!
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 1 de Julho de 2009

3 comentários:

manuela baptista disse...

Mas que vazio tão cheio!

MB

Jaime Latino Ferreira disse...

MANUELA


Pelo que, se está cheio, o vazio se entupiu!

Oxalá não se encrave ...


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 2 de Julho de 2009

manuela baptista disse...

Desencravando Vazios

a Sophia,

agora que decerto encontraste
no infinito silêncio a pura face
quero dizer-te que o tempo passa mas tu não
e que as histórias que contaste
os poemas que criaste
estão vivos
como o infinito Mar
da Criação

Manuela Baptista