quarta-feira, 30 de setembro de 2009

SOBRE O ANONIMATO

Caravaggio, David vencendo Golias ou o gigante, ele mesmo, o próprio pintor decapitado, desvendado
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Pela primeira vez, houve um (!?) anónimo que circulou entre o blogue de minha mulher e o meu e que, começando por ser extremamente desagradável foi inflectindo a sua posição até chegarmos aqui ...
Poderei, com toda a segurança, escrever que foi sempre o mesmo, sempre o mesmo anónimo?
Não, não posso embora alguns dados me levem a pensar que sim, como o estilo da escrita, as inflexões que foi dando ou as pistas que seguiu!
Poder-lhe-ei pedir a cabeça?
Como o poderia e mais a mais se, diminuto e insignificante, nada como o gigante Caravaggio, não dá a cara!?
Dever-lhe-ei ligar ou, como me chegaram a aconselhar, prudentemente admito-o (!), não lhe passar qualquer cartão?
Nestas três interrogações, contém-se já suficiente matéria de reflexão que, aliás, é comum a este universo bloguista e que muita tinta tem feito correr.
A revelação das identidades que por aqui circulam, autores ou comentadores da blogosfera é difícil de caracterizar embora pelo que se escreva e ainda que a coberto de falsas ou de anónimas identidades, se consiga, amiúde, desvendar.
Quando alguém se apresenta como anónimo e mais, não assine e ainda que o fizesse com um pseudónimo ou tentando assumir um heterónimo, arte que não está, convenhamos, ao alcance de todos (!), encarnando uma ou uma não identidade, logo aí nos é dada alguma coisa sobre o perfil do interlocutor e já para não falar daquilo que ele escreva.
Agora, perante o que anonimamente se escreva e que, por mais que o tentemos tornear nos fica a interpelar, não é por acaso que muitos autores de blogues não aceitam ou submetem os comentários a uma espécie de censura prévia nada ao meu gosto (!), perante o que se escreva, dizia, ou se enfrenta ou, acanhando-nos, amedrontando-nos, fingimos que não se lhe dá importância.
Eu gosto do desafio que suscita qualquer interpelação e por mais desagradável ou incómoda que ele possa ser e, como deste exemplo logo transparece, o desafio valeu a pena até porque, qualquer reacção anónima que a este texto se suceda já vem por mero e inconsequente, não bastasse já ser anónimo, mimetismo!
Que inflexão se deu no nosso anónimo que da pesporrência foi mudando de registo diante da nossa frontalidade, da de minha mulher e de mim próprio, que não nos deixando intimidar ou fingindo não ser nada connosco, o fomos entalando ...!
Mas como eu gosto de deixar as pessoas à vontade e além disso dando-lhes margem que lhes permita salvarem a face, só gostaria de ao anónimo o sentir de novo, identificado de preferência e, portanto, com tanta frontalidade como aquela que lhe concedemos e mesmo que dele se dissocie.
Estarei a dar demasiado relevo a este episódio!?
Não, não me parece, porque este é um episódio demasiado frequente e que, afinal, justifica (!?), neste universo da blogosfera, práticas que se tornam anormalmente normais como a da censura prévia que abomino e mesmo quando a essa regra livremente me sujeito.
Afinal, sei e não me atemorizo (!), que quem leva a melhor é quem exerce a frontalidade e não quem, escondendo-se cobardemente num suposto anonimato, não se livra de ficar com a cabeça, a face a descoberto ...
... e ainda que fique sem saber o seu nome que de tanto querer dar nas vistas, afinal, se conforma.
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O anonimato é a abstenção impressionável de si mesmo mas
como eu voto
me pronuncio
não me deixo impressionar
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( Para quem se interesse, seguir as interacções nas caixas de comentários desde as páginas O Espaço Entre Tu e Eu e Inumerável em http://historias-com-mar-ao-fundo.blogspot.com/, até àqueles da página Oito deste meu blogue )
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 30 de Setembro de 2009

terça-feira, 29 de setembro de 2009

OITO

Oito anos passaram
como o infinito
da nossa alegria
que aqui cito
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Deitado o oito
embala
e afoito
canta
a plenitude
que não cala
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O oito
algarismo
em que cismo
é a união
e a faz unção
de dois em um
repele o abismo
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( No aniversário do nosso casamento civil, da Manuela, a contadora de histórias, http://historias-com-mar-ao-fundo.blogspot.com/ e meu, profundamente gratificado )
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 29 de Setembro de 2009

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

EU PERDI

Apesar do Apelo ao Voto e dos desejos que manifestei na página seguinte, Em Nome e onde, nomeadamente, ansiava pela derrota da abstenção, eu é que perdi!
Sem subterfúgios, perdi ...
Em Eleições Legislativas, aquelas que juntamente com as Presidenciais, normalmente, mais mobilizam os eleitores, nunca se constatou uma tão elevada taxa de abstenção, na casa dos trinta e nove ponto quatro por cento fazendo dela, em rigor e como o referia a minha amiga Ana Cristina, o verdadeiro vencedor do pleito eleitoral que teve lugar no Domingo.
Apelei e não fui, seguramente, o único, outros se associaram e logo a começar pelo Primeiro Magistrado da Nação, o Presidente da República mas foi em vão, eu perdi.
O que leva um cidadão a abster-se?
Poderá ser definido o seu perfil padrão?
E porque cresce a abstenção?
Começando pela última pergunta que persistentemente se tenta contornar eu, pela minha parte e resumidamente penso estar esse crescimento intimamente associado, não apenas ao desempenho dos agentes políticos e já que estes à abstenção a não conseguem contrariar como também às próprias limitações da Democracia Representativa que a não ser acompanhada pelo aprofundamento da própria Democracia à primeira a tenderão a afastar, a distanciar mais e mais do próprio cidadão comum.
Quanto ao perfil padrão do abstencionista, esse é tão diverso como as motivações que a cada um os levou a absterem-se ou para dizer com outras palavras, por mais que se tente é impossível dele definir um padrão comum.
Já a primeira pergunta, prende-se com a terceira e na segunda, às motivações que levam o eleitor a abster-se, a essas também lhes é impossível definir um padrão.
E quem sou eu, afinal, para ao abstencionista o ajuizar!?
Na página anterior e para além do desejo de ver derrotada a abstenção, manifestava ainda outros dois desejos que sei terem uma relação directa com a qualidade da Democracia na eventual mobilização do eleitorado e na neutralização da crescente dimensão que a abstenção vai assumindo.
Mas bastará, bastará que esses dois desejos se cumpram ...!?
O que com segurança sei é que a abstenção não é inócua:
Quanto mais ela cresce, com o seu crescimento e na inversa, decresce o peso relativo da autoridade dos eleitos e, simultaneamente, degrada-se, não tenhamos dúvidas, a representatividade imprescindível à Democracia para que goze de verdadeira autoridade.
Autoridade e não autoritarismo!
À abstenção ... será que não haverá volta a dar-lhe!?
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 28 de Setembro de 2009

domingo, 27 de setembro de 2009

EM NOME

No momento em que começo a escrever, Sábado dia 26 de Setembro à noite, ainda não se sabem os resultados, as urnas só abrirão durante o dia vinte e sete (!), das Eleições Legislativas a que me refiro no Apelo ao Voto da página anterior.
Editá-la-ei, a esta página, a 27 de Setembro e após exercer o meu direito que é, também, um dever.
Preparo-a de ante-mão, a esta página, já que amanhã, hoje para quem me lerá e sobretudo a partir da hora em que as urnas fecharem, estarei absorvido pelas notícias que em catadupa, da televisão me hão-de prender, hipnotizar quase!
Sem nenhuma ironia, vivo intensa mas não acriticamente as noites eleitorais ...
Cada detalhe, cada análise ou comentário, as entrevistas, a aferição dos resultados com as sondagens feitas à boca das urnas, os directos das sedes de campanha, os discursos dos políticos e as declarações de derrota ou de vitória, a euforia e a depressão próprias destas situações, o coordenado zapping em que me concentro e até ao esgotar do último elain da noite eleitoral.
Não quero deixar, no entanto, de, aprioristicamente, manifestar três desejos:
Em primeiro lugar, que cresça a participação em tão importante momento de exercício universal da cidadania, saindo, deste acto eleitoral, claramente derrotada a abstenção;
Em segundo lugar que, ganhe quem ganhe, prevaleça o fair play tanto na admissão das derrotas como das vitórias, contribuindo-se deste modo não só para aliviar a pressão que em crescente crispação parece vir tomando conta do espectro político, todo ele, como para que se dê um forte sinal de exercício positivo da Cidadania e da Política que dos seus agentes mais responsáveis, os eleitos, todos eles e sem alibis deve, tem de partir;
Em terceiro lugar, postos estes corolários, uma vez eleito o novo Parlamento, que se encontrem soluções governativas estáveis das quais e tanto mais quanto em momentos difíceis como o que se vive, derrotados como vitoriosos não se poderão, em nome da própria consolidação da Democracia, como institutos soberanos em que se constituem e pelo imprescindível concerto entre si fazendo prevalecer o sempre possível para não dizer desejável diálogo, todos os eleitos e sem excepção, não se poderão, escrevia, isentar.
O que escrevo e que não parte de cenários nem induz qualquer sentido de voto, friso (!), pode parecer mas não é nenhum lugar comum ...
Por fim, gostaria ainda de sublinhar que em dia de proibição eleitoralista se pode, assim se saiba e esteja em condições de exercer a equidistância, desafio maior (!), escrever sobre tudo não violando as estritas regras de contenção e até ao fecho das urnas, que neste dia nos são legitimamente impostas!
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, de 26 para 27 de Setembro de 2009

sábado, 26 de setembro de 2009

APELO AO VOTO

Escrevo-Vos em vésperas de Eleições Legislativas em Portugal mas os argumentos que vou despender são válidos para todas as circunstâncias de sufrágio e partindo-se do princípio, como felizmente é o caso (!), de que estas, as eleições são livres e democráticas.
Escrevo-Vos sobre a abstenção que corroe a representatividade das Democracias, da liberdade de dizermos bem ou mal e partindo-se do princípio, como é, este também, o caso, de que o cidadão exerce em pleno este seu direito e, por isso, não é legalmente obrigado a votar.
Escrevo-Vos a dizer:
1 - O cidadão que, descrente ou indiferente ao sistema, resolve não perder tempo a exercer o seu direito de voto, ao contrário do que eventualmente possa pensar, fica mais exposto do que nenhum outro e fica-o porque pela sua ausência, passará a constar nos cadernos eleitorais como não tendo comparecido, figurando o seu não voto como público e aberto;
2 - Pelo contrário, aquele que comparece às eleições, se passará a constar como tendo comparecido, ninguém poderá saber em quem ou como votou, isto é, se votou na força política de A a Z, se votou em branco como protesto ou se, pura e simplesmente, na sua indignação ou por qualquer outra ordem de factores, anulou o voto;
3 - O Eleitor, aquele que elege, fica assim, automaticamente resguardado, salvaguardado porque ninguém ficará a saber como e em quem votou, se o fez apenas em sinal de protesto ou indignação e seja ou não pelo sistema, já que o sufrágio é secreto, exercido no silêncio e na privacidade da própria eleitora ou eleitor com a sua exclusiva consciência;
4 - Aquele dos eleitores que não exerce o seu dever perde, em consciência, eticamente, toda a autoridade e o direito a criticar ou dizer mal do que quer que seja já que, pela omissão, prescindiu do voto, arma indeclinável da cidadania sem a qual, o que quer que venha a dizer de bem ou de mal no futuro não tem qualquer coerência ou plausibilidade;
5 - Finalmente:
Não me venham dizer que ao estar a apelar ao voto, estatisticamente, favoreço a A ou a Z porque eu não embarco nesse ou em qualquer outro tipo de chantagem eleitoralista tão comum.
Eu parto do princípio nada ingénuo (!) de que a Cidadã ou o Cidadão são maiores e de que, naquele momento único e privado em que exercem esse seu direito e que é também um dever, eles o farão, portanto, em Sua inteira consciência.
Não tenho o direito de me achar politicamente consciente e ao meu Par, ao meu próximo, menorizá-lo.
O voto, mais do que confessional, sendo universal também é secreto, ou seja, é com cada qual!
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 26 de Setembro de 2009

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

SEPTETO ) EU (

Sim, e depois veio a música e com este texto encerro aquilo que, se começou por ser uma tetralogia, a um sexteto conduziu e se conclui agora num septeto, do número sete, número do Homem e sempre guiado, também, pelos comentários que me foram, nas respectivas caixas, deixados.
Compõe-se este septeto das páginas que com esta preenchem, por ora e na íntegra, todo o campo em aberto do meu blogue e desde Eu e Tu Mulher.
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E DEPOIS VEIO A MÚSICA
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Veio essa linguagem maior onde num acorde
no soar de várias notas em simultâneo e instantaneamente se transmitem emoções
sensações únicas e de múltipla e aberta descrição
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Que interessa o que o autor
com elas pretendia transmitir se em bloco e no ressoar simultâneo das notas
a plenitude
por hipótese
se contém e projecta
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Que interessa se por essa polifonia ou expressão simultânea de vozes
muitas vozes
o que as palavras descrevam
apenas por aproximação dele
do acorde ou da música se aproxima
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Em que sequência musical se reveria aquilo que em sete textos
bem sei que sintéticos mas logo sete
o que escrevi se teve de estender
-
E que abertura
para lá das palavras em que se conjugue
que abertura e universalidade a música
em si mesma
transporta
-
E não é a música uma linguagem que requer simbologia própria
conceptual e que nos transporta
de novo
ao Verbo sem necessidade
tão pouco
de tradução
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Como ela o era e hoje é no seu legado histórico que explodiu em luz nos últimos séculos
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E depois veio a música
-
E com a música o Verbo flexibilizou-se
amadureceu
ginasticou-se
humanizou-se e acabou dançando
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Maior
o Verbo efeminizou-se num Eu escrito em tonalidade sublime
musicalmente dita
na sua superior amplitude
como menor
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 24 de Setembro de 2009

Vermeer, A Guitarrista

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

MELHOR É DIFÍCIL

Melhor testemunho de Deus ... é difícil (!), escrevia eu a minha mulher na caixa de comentários da página anterior e a propósito dos textos que até esta, esta página e começando em Eu e Tu Mulher, neste meu blogue, à vista de todos, se estampam.
Estarei equivocado ou ter-me-á subido à cabeça!?

Em primeiro lugar, escrevi que é difícil e não impossível o que logo me demarca daqueles que dizem ou escrevem não receber lições de ninguém, o que não é o meu caso.
Longe de mim!
Escrevo tão só que é difícil e sobretudo numa leitura integrada da minha Obra, do meu livro, aquele que vou escrevendo!
Em segundo lugar, para mim e como católico apostólico romano, de tudo o que eu escrevo, implícita como explicitamente, há um Padrão para mim inultrapassável, Cristo que por Sua natureza bem como no Seu testemunho é o Filho e logo uma das três faces, a Segunda, da manifestação do próprio Deus.
Mas isto é o que eu entendo e acredito sendo certo que nesta perspectiva em que me coloco, a ninguém o quero impor!
Eu não escrevo para dentro, há demasiados a escrever para dentro sem saberem como se abrir ao mundo (!), eu escrevo para fora, abertamente e no respeito pela separação de poderes, de saberes e do que se professa.
Em terceiro lugar e por fim, falando apenas nas três grandes religiões monoteístas, nenhuma delas teria seguido o seu caminho autónomo, eu não parto da presunção, porque de uma presunção arrogante e impeditiva do diálogo inter-religioso se trata (!), aquela de achar-me detentor da verdade, não fora o seu tronco comum que, logo esse, se manifesta pela palavra!
Para dizer de outro modo, que seria das religiões sem a palavra ou seja, sem os seus Textos Sagrados!?
Que seria do próprio Deus e manifeste-se Ele nas Suas múltiplas formas, sem a simbologia que a Ele faz apelo ou sem a própria palavra Deus!?
E mais, que seria de Deus sem o Homem e do Homem sem a palavra que a Ele O identifica!?
Estarei, com isto, a dizer que foi o Homem que inventou Deus?
De tudo o que escrevo, de onde se poderá retirar tal inferição?
O que é certo é que, mesmo que alguém o inferisse e me o demonstrasse, tal não poderia ser feito ... sem o recurso à palavra, ao verbo, ao Verbo!
É Ele que nos distingue ...
No princípio era o Verbo na Sua plena e não amputada significação.
Repito:
Vi-O a Ele, humanística e abertamente, na própria palavra Deus e independentemente da religião em que a Ele se queira integrar!
É tão só (!?) de Deus que escrevo.
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 23 de Setembro de 2009
Mozart

terça-feira, 22 de setembro de 2009

FOI HÁ VINTE ANOS

Tem vinte anos a descoberta, a constatação escancarada e ao alcance de todos e que sublinho, no seu culminar, na Tetralogia que acabei de escrever e que refiro, anuncio na caixa de comentários da página anterior.
Vinte anos ...!
A descoberta que na própria palavra, afinal, à uma se desvenda e nos transporta a um deus que na humanidade, em cada uma das suas componentes singulares se realiza ou não, se resolve ou não e muito mais pela forma de como ao Outro se considere ou desconsidere do que por um arrazoado interminável, pseudo-doutrinário e fastidiante.
A descoberta de que de pouco ou nada adianta invocá-Lo em vão e abundantemente e muito menos se depois, não existir correspondência na consideração, na valorização do Outro, mais próximo ou distante e em consonância com a sempre tão propalada intenção expressa.
E da indeclinável ética que tem de presidir a cada um dos nossos actos e gestos!
A descoberta de quanto à palavra lhe deve ser concedida soberania, palavra enquanto Verbo ou simplesmente verbo, palavra escrita e todas elas que, deixemo-nos de subterfúgios (!), elas também e em si mesmas, encerram sinonimia como antonimia, basta constatá-lo num simples dicionário corrente e como a alfabetização, ela também concorre no sentido do Conhecimento, da sabedoria, na aproximação de todos nós e por sejam que linhas tortas em que se derive que todas acabam por concorrer para o Direito em que Deus escreve declinando medos e pudores bestas.
E o silêncio tombou então sobre mim mesmo como se, ao descobrir tão evidente e exposta constatação, a todos os saberes, apreensivos, os tomasse de assalto pelo ridículo em que se julgassem cair!
E, pese embora, ainda hoje, aguardo pacientemente por uma resposta dos meus outros Eus, meus Pares e Iguais, na palavra que pelo Verbo, entretanto, exponencial e afortunadamente desenvolvi como continuo, incansável, a desenvolver ...
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 22 de Setembro de 2009

LÁGRIMAS DE OIRO

Como muitos de nós, tive a minha educação religiosa, católica no caso.
Depois afastei-me da Igreja e passei por diferentes estágios em dégradée cromático, do ateísmo ao agnosticismo sem que, no entanto, alguma vez tivesse perdido a vontade de, pelo melhor, o que entendia ser melhor (!), contribuir para o bem de todos, da sociedade, de um futuro mais promissor ...
Foram avassaladoras experiências que, ainda hoje e porque não tenho memória curta nem me envergonho da minha história, me dão, ainda hoje, escrevia, para ver por dentro que do pior como do melhor existe e independentemente do que se professe.
Mais tarde e nas encruzilhadas da vida, confrontei-me com profunda crise existencial e nessa crise, literalmente, literalmente repito, deparei-me com a palavra, com o conceito Deus.
Deus escrito em português!
E nesse confronto fui assaltado por uma tremenda perplexidade que de lágrimas de oiro, parafraseando a canção de Gabriel Fauré, me deslumbrou, extasiou:
É que, em português e para lá do seu significado transcendente, num jogo infantil de letras ou numa sigla, Deus também é um Eu entre um D e um S, assim:
D ( EU ) S
Um D de dom, de divino, de ... Deus;
Um S de safar, de salve-se quem puder, de ... satânico.
Um Eu entre o bem e o mal agir.
Um Eu dividido, permanentemente dividido entre que caminhos trilhar, entre o egocentrismo, o egoísmo estreito e o agir para o bem comum!
E nesta perplexidade, reencontrei Deus e vi-O literalmente na palavra, na palavra portuguesa que O conceptualiza numa ligação ecuménica sem perder toda a Sua transcendência, por um lado e nem tão pouco o seu significado profano e que O humaniza, aproximando-O de nós, sacralizando-nos, diria e assim tão constitucional e simplesmente.
E nessa imensa perplexidade chorei um choro estrelado de lágrimas de oiro que, ainda hoje e passados tantos anos, me faz estremecer!
Estremecer de emoção estética.
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 22 de Setembro de 2009

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

EU

Eu sou eu e tu e um eu tão grande como o universo
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Eu é um eu dividido entre o que fazer
e feito de opções tomadas e por tomar
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Sustentadas no que entenda ser o melhor
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Questionado entre ir por aqui ou por ali
na infinitude de encruzilhadas que se deparam no caminho que segue
-
Sabendo sempre que feita uma opção ela se abate
molda-o
e pesa sobre o que venha a ser e a fazer
-
Eu sou eu e tu e a imensidão do cosmos
ou chame-se-lhe ainda o que se quiser
Deus ou o destino
-
O Eu atormenta-se
flagela-se
cai
retrocede
levanta-se
ou foge em frente
constrói-se em epopeia de muitos outros
e em muitos outros se divide
-
E nessa divisão
fragmentado por natureza
o Eu
ou deus pequenino
de um lado tem o dom
e do outro o safe-se
de um D de divino
e de um S de satânico
e nesse d(eu)s que é menino
que é um Eu
Eu ou Tu
dividido
e nu
arde em fogo divino
a chama de Prometeu
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 21 de Setembro de 2009
Heinrich Fueger, Prometheus, 1817

domingo, 20 de setembro de 2009

O OUTRO E EU

Posta esta declaração, a página anterior, que recusa olhar o género como factor de discriminação ou de exclusão e seja em que sentido for, posso agora olhar para o Outro com toda a disponibilidade, sem nuvens ou sem preconceitos que adicionem ruído que me atrapalhe no juízo que dele possa, eventualmente, ser tentado e ainda que involuntariamente a fazer.
O Outro e eu:
Não faço juízos de intenções!
Ao Outro vejo-o como a imagem de mim próprio no reflexo que com Ele estabeleço e não parto, por isso, do princípio que o Outro seja movido por outra que não seja a vontade do entendimento, a procura, a interminável busca da verdade.
É claro que isto é muito fácil de dizer e normalmente, na sua busca, geram-se enormes desentendimentos mas, se permanecer fiel ao enunciado no parágrafo anterior e não desistir de ao entendimento como à verdade a procurar sem desistir e sem bater com a porta, é minha convicção que pontes serão estabelecidas com o Outro e tanto mais quanto preserverante, nesse caminho persistir.
E entenda-se o Outro em sentido amplo, desde o indivíduo singular à instituição ou pessoa colectiva ou ... ao colectivo das pessoas.
Ao Outro não o poderei usar como meio que me permita atingir, a que preço for, os meus fins.
O Outro é, portanto, sacrossanto e não Lhe poderei violar a Sua integridade nem tão pouco o poderei usar e descartar que é outra maneira de à Sua integridade a violar.
O Outro não se usa e deita fora!
O Outro é de mim próprio um igual e nessa assumpção Lhe terei de permanecer fiel até ao limite do tolerável, isto é, até que esgotadas estejam as possibilidades de criação de pontes, de entendimento.
Muitas vezes, quantas (!?), essas possibilidades subsistem sempre e para lá da espuma dos dias, inesgotáveis, interpelantes e desafiantes, bastando para isso que Dele, do Outro não desistamos!
E quando, chegados a este ponto o constatamos por uma qualquer intuição, percepção feminina que não pára de se insinuar, descobrimos, maravilhados, na descoberta da diferença que do Outro nos aparta, quanto essa diferença é o cerne que faz do relacionamento a sua riqueza sem fim e de quanto e seja lá quem for o Outro, nele vale a pena apostar:
Quão rica é a relação que assim se constrói sempre preenchida, resolvida e sempre inacabada;
Quão criativa ela se pode tornar;
Quão reprodutiva e fecunda no seu pleno e primordial sentido ela se torna, se verdadeiramente nela apostarmos!
Tudo o resto assenta em superficiais jogos de palavras sem ir ao fundo, ao cerne de toda esta interpelativa questão.
E de uma leitura superficial destes meus textos que se faça, não me acusem de ingenuidade imberbe, tacanhez crédula ou crendice ...
Como professor que sou eu só posso educar para a Paz!
O Outro e eu somos nós mesmos e nós, sendo muitos e diversos, somos um só!
A Humanidade é uma só ...
O Outro és tu, sou eu e é Deus para quem Nele acredite.
Mas sendo apenas tu e eu, o que já é ser muito, é também o essencial já que a essência nele, no essencial se contempla!
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 20 de Setembro de 2009

sábado, 19 de setembro de 2009

EU E TU MULHER

... para lá de todos os esoterismos ...
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Eu e tu, mulher, somos muito mais parecidos do que, ainda hoje, se quer fazer crer!
Do que alguns mitos, serôdios estereótipos quantas vezes resultantes de leituras literais, fundamentalistas e superficiais, persistem em nos confundir, baralhar e paralisar ...
Como tu, mulher, intuo, tenho essa capacidade de racionalizar para lá daquilo que a estrita razão nos diz e por essa via interpretar para lá do que foi dito e mais, escrito, na plena posse da razoabilidade.
De saber ler nas entrelinhas do registado mas que a elas induz em racionalidade não amputada do sensível e que a ti como a mim nos faz ver muito mais longe!
Como tu sou X e tenho-te a ti como tu a mim, é de ti que, por enquanto (!?) todos nascemos e fazes de mim tua parte integrante.
Como tu e na criança que todos transportamos, somos como ela, como a criança, neutros no sentido do distanciamento e da vontade de equidistância, há mesmo línguas como o alemão em que a criança é do género neutro, e podemos derivar num sentido como no outro e dela temos, da criança ainda, a sensibilidade que a caracteriza e que é, fundamentalmente, feminina e frágil.
Como tu, trago ainda hoje o meu filho comigo tal como os meus pais, mãe e pai a mim me trouxeram e eu a eles, que quando partem, como aconteceu com meu pai que infelizmente já não habita entre nós, dele me dolorosamente, não apenas psíquica mas fisicamente me apartei.
Como tu choro como, aliás, a maioria dos homens hoje já se dispõe a admiti-lo, tão longe do estereótipo ainda presente e que não admitia que um homem chorasse ...!
Como tu, aprecio a beleza e seja ela feminina como masculina, não vindo daí nenhum mal ao mundo, muito antes pelo contrário.
Como tu e poderia ir ainda mais longe (!), não acho que quem quer que seja se afirme pela força bruta, física, afirmar-se por essa via, que não é afirmação antes imposição, é, aliás, cada vez mais universalmente condenável, a não ser numa prova desportiva que, essa também, se pauta por regras que a serem violadas devem ser liminarmente denunciadas e condenadas.
Como tu tenho muito menos medo do que muitos homens que, quantas vezes e pelo ridículo, ao contrário, patronizando-te o querem, ao medo, dar de ti ou de mim a subentender.
Como tu, posso ser na vida o que legitimamente o quiser vir a ser como se demonstra pela dignidade com que vais ocupando todo o espaço público.
Como tu, vivo impregnado de sensualidade de que não me quero nem apartar nem amputar.
E nem por isto tudo as identidades, tua e minha, se perdem ... subvertem, confundem muito menos!
Ter-me-ei esquecido de alguma coisa ...!?
Esqueci-me de dizer que este é um direito que me assiste, o de me afirmar como um todo e com o meu lado feminino aqui, bem junto a mim e em pé de igualdade!
Já plantei uma árvore;
Tenho um filho que amo e amo minha mulher;
E não paro de escrever o Meu Livro.
Como tu, sou tu e eu!
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 19 de Setembro de 2009
Afrodite

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

INCÓMODOS

Faço, de seguida, uma possível relação dos incómodos que a minha Arte, Obra, eventualmente suscita:
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OH
1 - O Homem, mulher ou homem, é um animal político e independentemente das funções de soberania que exerça, em que se organiza ou a que se candidata;
DE
2 - O Homem, mulher ou homem, em Democracia poderá e é também isso que A distingue, singularmente tomar, seduzir o poder e impor-se por sua autoridade que lhe advém tão só da atitude em que permaneça, se registe, sujeite ao contraditório e logo se exponha;
QUEM
3 - O Homem é muito mais criança do que se dá a entender e enquanto teimosamente persista em à Criança a relegar da sua própria história qual adolescente imaturo e renitente, mais longe estará de a perceber e logo de a salvaguardar e defender;
NÃO
4 - O Homem é simultaneamente mulher e homem;
SAIBA
5 - A vida, desde a sua vertente política incontornável e passando por todas as outras, cada vez se compadece menos da carência paupérrima de criatividade;
LER
6 - Ai dos políticos, economistas, juristas, engenheiros, cientistas e por aí fora, que o sejam apenas e tão só;
QUE
7 - Ai dos artistas que, eles também, não tenham em conta a complexidade tremenda de que se reveste a realidade e julguem poder viver num pedestal dela abrigados e a ela imunes;
NÃO
8 - Ai das pessoas de religião que não tentem a esta vida torná-la melhor, mais aprazível, mais humana;
CONSEGUIRÁ
9 - Ai da incontornável Atitude Ecológica que escamoteie o Eu ou que se transforme numa relação de asfixiantes, paralisantes nãos;
C(QUE)RER
10 - Ai de mim se não for o contributo que dou no feixe interminável, helicoidal de hipóteses que sistematizo e a que permaneço fiel!
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 18 de Setembro de 2009
Hermes

RAZÕES MINHAS

Outro lado sempre há
quer eu queira como não
veja daqui ou de lá
nele está sempre razão
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Está o sentir como são
verdades em que se dá
por inteiro a emoção
o fingir em que se está
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Eu já não sei o que há
para dizer da sensação
em que me exponho por cá
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Sei deveras como são
razões minhas ao que vá
cantar-vos nesta canção
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( No dia da inauguração da Casa das Histórias de Paula Rego em Cascais )
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 18 de Setembro de 2009
Paula Rego, Girl lifting up her skirt to a dog

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

HÁ SEMPRE OUTRO LADO

Tome-se a série ou trilogia Educação em Ruptura e a legenda da ilustração comum aos três textos que a integram, de cavalo para burro, e uma vez concluída e dando-me por satisfeito com os seus conteúdos, ficou-me, no entanto, qualquer coisa a percutir e que, logo depois, me obrigou ao poema De Burro para Cavalo ...
... há sempre outro lado!
Outro lado, perspectiva, angular que nos obriga sempre e mais ao desenrolar da meada que não se esgota e, pelo menos a mim, sempre me desafia.
Se de cavalo para burro tem, tradicionalmente e na utilização dos conceitos cavalo e burro, uma indesmentível carga que ao cavalo o valoriza como ao burro o desvaloriza, ficou um amargo de boca que me levou a perguntar a mim mesmo, mas então, que tens tu em desfavor do burro que ao cavalo o valoriza!?
E assim, logo me senti compelido e pese embora a imagem que emerge da alegoria quase não necessitar de explicação, a repor a justiça ou, como o disse minha mulher, fazer justiça ao burro dando-lhe o seu devido lugar!
Verdade se diga que pela antinomia que os conceitos sempre encerram, difícil se torna progredir na reflexão que não seja por partes ou, se quisermos, por aos poucos ir limando as arestas ambíguas dos próprios, que sempre se encontram e salvaguardando, se possível, a integridade das eventuais perspectivas que encerram no desfazer das ambiguidades que possam surgir.
Então o burro é menos do que o cavalo!?
Estarei a sugerir e ainda que subliminarmente, alguma superioridade rácica específica!?
Terei alguma coisa contra o burro!?
Será ele menos do que um cavalo!?
Há sempre outro lado!
E é nessa busca, na busca do lado que o lado sempre sombreia, que o pensamento avança e os equívocos, eventualmente, se desfazem.
Daí, também, a importância do contraditório a que tantas vezes faço alusão, da argumentação contrária que aos equívocos os ajude a desfazer e sem a qual, por vezes, a própria argumentação neles se enreda no que, afinal, se pretendia resolver!
Há sempre outro lado ...
E nessa insofismável verdade multilateral, caleidoscópica que nunca se esgota num só lado, numa parte, a realidade se impõe em toda a sua plena, exuberante, sempre inultrapassável pujança.
Mais do que com palavras, talvez com a música dela melhor nos aproximemos ...
Há sempre outro lado!
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 17 de Setembro de 2009

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

DE BURRO PARA CAVALO

Não te zangues comigo
burro
que de cavalo
tens a esperteza da vida
como um toque de badalo
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Ris-te com outra energia
és prazenteiro
chavalo
tens a alegria ladina
que nunca sofre abalo
-
Eu bem sei que o cavalo
nobre
é fácil amá-lo
tem a pose majestática
a beleza que não calo
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Mas tu oh burro
tens traço
de quem retira do ralo
a espécie de que és companheiro
e que em ti foi encontrá-lo
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 16 de Setembro de 2009

terça-feira, 15 de setembro de 2009

EDUCAÇÃO EM RUPTURA ( III )

Correm rios de tinta sobre a Educação mas, e se ...
E se ...!?
...
- E se o que o indivíduo diz, comunica e seja ele concentrado ou não, é que está certo!?
- Certo (!?), o que é que queres dizer com isso?
- Bem, vamos por partes, eu não quero dizer com isto que tudo o que se diga esteja certo mas, muitas vezes, o que não bate certo é a dificuldade em comunicar, em nos entendermos e, logo aqui, é bom que se diga à cabeça, se justifica a Educação que é um processo sempre inacabado e com múltiplos sentidos, ele não é unívoco (!) e eu não a pretendo negar, longe de mim, estaria, pura e simplesmente, a falar contra mim próprio!
- Ah, tenta pois explicar-te melhor!
- Sim senhor, olha então para a pintura de Miró que logo encabeça este diálogo, estás a vê-la?
- Estou, simplesmente fantástica!
- É (!?), tens a certeza que não o estás a dizer, exactamente por saberes ter a chancela de Miró e de, portanto, não teres a coragem de o questionar!?
- Ora esta ...!
- Desculpa-me, não pretendo duvidar de ti mas, por um momento, admite o cenário que se segue: imagina que eras, tu ou eu éramos pedopsiquiatras incultos, sim, porque incultos há-os em todos os campos e há mesmo quem diga e com certa razão que o processo de educação é um caminho mio-estrábico em que, se a pessoa muito fica a saber das técnicas que aprende, vendo a árvore perde, pela miopia ou pelo estrabismo a visão de conjunto (!) e que, sendo nós pedopsiquiatras, dizia, enformados desses vícios tão comuns e colocados diante de uma cópia em papel desta pintura, nos era apresentada como o desenho de uma criança qualquer susceptível de observação especializada ...
- Sim, estou a seguir-te, continua!
- Que diria então ele, tu ou eu, do que nos era dado observar ou que disfunções não estaríamos logo prontos a apontar-lhe!?
- Ah, estou-te a seguir e acrescento, provavelmente logo diríamos tratar-se de um desenho de uma criança que não teria mais do que o quê, dois anos!?
- Vês, vês como o complicado se torna, afinal, bem mais simples, sim, porque qualquer indução que nos apontasse o desenho como sendo um Miró e ficássemos nós a pensar o que quer que seja, bem ou mal, ao nosso pensamento o reprimiríamos, não achas!?
- Acho, acho e mais, afinal, esta pintura não fica assim tão longe da de uma criança e, tal como a dela, é profundamente complexa ...!
- Pois, é isso mesmo mas, se existe e muito bem toda a disponibilidade teórica, investigativa, para aprofundar, pela interpretação, a Obra de Miró, exactamente porque tem a Sua chancela já consagrada, responde-me, que disponibilidade existe para interpretar a Obra de uma criança porque a criança, no acto de criação a ele se entrega profundamente concentrada, basta olhá-la (!), que disponibilidade existe e o que é que se anda a fazer no processo de educação que, para tal, porque é preciso tempo e disponibilidade personalizados (!), cada vez sobra menos!?
- Agora sigo-te muito bem ...!
- Então, deixa-me só acrescentar: o que diria o inculto, o burro do pedopsiquiatra, atenção, não há aqui nenhum partis pris e usei-o a ele como poderia ter usado outra qualquer corporação, que fique claro (!), que diria ele se ouvisse sem ver e sem identificação os excertos de Wozzeck de Alben Berg que se seguem e reagindo à flor da pele!? E, repara, depois de Alban Berg como depois de Miró o que não se avançou na criação artística, na arte da composição, ao encontro do mais profundo, do pathos, do essencial do Ser e pese como pesou, Alban Berg foi disso uma vítima (!), o estigma da arte degenerada com que o nazismo, em vão, a pretendeu rotular e esmagar.
- Isso mesmo, isso é que é falar de igual para igual: afinal, uma criança vale tanto ou mais do que um Miró, sim porque Miró como Alben Berg já morreram, sobram os Seus inestimáveis legados, a criança está viva e entregue à nossa guarda.
- À guarda do precioso dia de hoje, de nós todos (!), do investimento que nela se faça e que pela valorização das expressões e das artísticas em particular, à criança a tem de valorizar e dar soberania, voz, e logo para que haja amanhã, um amanhã melhor! Não é verdade que se diz que a criatividade tem e cada vez mais de estar no posto de comando!?
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 15 de Setembro de 2009
de cavalo para burro

EDUCAÇÃO EM RUPTURA ( II )

Correm rios de tinta sobre a Educação ... e desde a mais tenra idade ...
A coitadinha da criança, coisa melhor que há no mundo!
Este cliché está omnipresente na Escola mas, da criança, propriamente dita, pouco ou nada se fala a não ser em termos comportamentais, normativos e estatísticos, esquecendo, a mais das vezes, o indivíduo que, na singularidade que o caracteriza, ela fundamentalmente é.
Nem admira ou espanta:
Afogados em burocracia imposta de cima e tendo, desde o início do ensino básico, à sua guarda, uma multidão de crianças, aos professores, em rigor, pouco tempo lhes resta para reflectirem sobre o material humano de que são responsáveis e os processos de avaliação, esses também e à míngua de reflexão exaustiva sobre o público alvo da sua intervenção, pecam cada vez mais pelo descentramento derivante que vão espelhando.
Repare-se que, publicamente e na sociedade, agitam-se os interesses de todos os agentes da Educação e preterida, sistematicamente preterida é essa reflexão, absolutamente central em todo o processo que aos agentes os justifica e sem a qual o sistema flutua numa deriva cada vez mais sem norte!
Repare-se, ainda, que atingidos os professores, eles próprios, pela necessidade incontornável de serem avaliados, em ondas de choque se agitam como se, na aguda consciência que por esta via os interpela, se dessem, finalmente, conta, de quão mais próximos afinal estão desse público alvo, lavra que os justifica (!) e não dos ditames burocráticos impostos de gabinetes isolados do terreno, abraçando por isso em revolta e nas ruas a causa tão preterida que a eles também os pretere.
Terão eles, os professores e afinal (!), de ser burocratas no terreno, agricultores sem enxada, ou cultivadores das mulheres e dos homens de amanhã!?
Da nobreza de carácter em toda a sua plenitude!?
No olhar singularizado que lhes é negado e impedido por tanta burocracia que lhes é imposta pelos jogos de poder e de interesses quantas vezes estranhos à própria Educação subliminarmente e ainda que involuntariamente ditados!?
Serão eles o quê, num contexto em que se vêem, subitamente, espelhados, afinal, no público alvo de que deviam cuidar!?
Abertura no processo educativo, verdadeira abertura como nunca a houve ou, pelo contrário, fechadura, ao arrepio inadiável da implacabilidade dos tempos!?
A criança ...
Voltando ao cerne, à reflexão sobre o público alvo sem a qual tudo o resto é escusado, dou aqui e uma vez mais, o pontapé de saída.
Sobre a criança costumo dizer e escrever como já sistematicamente, por mim, reflectido e registado foi:
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A criança é um indivíduo concentrado
logo fisicamente ela o é
tão concentrado que
distraídos
os adultos julgam que quem o está é ela
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E, neste desafio reflexivo que já não é pouco, com ele aqui Vos deixo!
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 15 de Setembro de 2009
de cavalo para burro