quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

MEMÓRIA, GRATIDÃO E PACIÊNCIA

saudade é uma ponte para o futuro


DE  NOVO  AO  PRESIDENTE  DA  REPÚBLICA  POPULAR  DA  CHINA

Camarada Hu Jintao,
Memória, gratidão e paciência, eis o que me trás, de novo, até Vós:

Memória …
O meu Amigo sabia que, em tempos, pertenci a um partido excêntrico, julgo poder chamar-lhe assim, o extinto PCP(m-l) que tinha relações privilegiadas, fraternas como então se dizia, com o Partido Comunista da China, numa altura em que nem sequer relações diplomáticas existiam entre os estados chinês e o português e em que a Democracia portuguesa procurava encontrar o seu lugar e raízes, recém instauradas que, entre nós, as liberdades tinham acabado de o ser?
Partido que sendo excêntrico, como o escrevia, com orgulho se declarava expulso da extrema-esquerda, maior excentricidade (!), espectro ao qual pertenciam, então e por regra os partidos congéneres do Seu por essa Europa fora?
E que era assediado pela classe política nacional na ânsia do estabelecimento de relações privilegiadas Convosco qual embaixada avant la lettre?
Obliterado partido que, daí a expulsão da extrema-esquerda, muito fez nas suas modestas dimensões para congregar, qual cunha, os partidos que hoje constituem o arco constitucional da governação em Portugal ao tempo do assim chamado PREC, processo revolucionário em curso, que por pouco inviabilizaria, entre nós, a democracia representativa que, entretanto, se consolidou embora hoje, de novo interpelada, desafiada pelo espectro do desemprego e da fome?
Estou em crer que sim, que sabíeis que eu tinha pertencido a esse partido e só assim se explica a viagem que, ao tempo, como o refiro na carta anterior, a Vosso convite, ao Seu grande país pude efetuar!

Gratidão …
Havia boas razões da Vossa parte e ainda que pudessem não coincidir exatamente com as nossas para o Vosso objetivo apoio, por via desse pequeno partido, à consolidação da Democracia portuguesa das quais, entre nós, esse pequeno partido foi a sua expressão pública:
Na geopolítica que Vos norteava, tudo o que contrariasse o assim por Vós mesmos, à época, chamado social-imperialismo ou, se quisermos, o imperialismo soviético do qual éreis ferranhos opositores, concorria em Vosso benefício.
Assim, a instauração com sucesso da democracia representativa entre nós, concorreu, ela também, em Vosso próprio proveito.
Mas fossem quais tivessem sido as razões que norteavam uns e os outros, o certo é que haveis dado o Vosso contributo e ainda que por via de tão insignificante partido como o era o PCP(m-l), para a instauração de uma verdadeira e depois consolidada democracia representativa entre nós.
Por tudo isso e mesmo que eu hoje seja uma voz livre e independente, que o sou (!), não Vos posso deixar de estar, a Vós também, reconhecido e daí e por mais paradoxal que o possa parecer, eu exprimi-lo assim como, aliás, não me coíbo descomplexadamente de o fazer!

Paciência …
Entre nós, a quem preserva e assim tem paciência, diz-se que tem a paciência de um chinês.
Eu tenho-a!
Talvez a tenha exercitado também Convosco e sobretudo com aqueles Vossos camaradas, não sei se era esse o Seu caso, que conheci na visita que em 1980 Vos efetuei e que preservaram pesassem como pesaram as torturas e mutilações que sofreram às mãos dos fanáticos da Revolução Cultural que, em bom rigor, devia ser escrita com minúsculas.
Em honra da memória, Vossa e nossa, grato e, por isso, incansável e perseverante, com toda a paciência não desisto de Vos abordar no reconhecimento e pagamento de uma dívida concitando-Vos, por meu turno, à abertura política plena.
Não Vos poderia deixar de corresponder na mesma moeda, aquela com que nos haveis contemplado.
Assim, eu Vos exorto sem vacilações, fazendo apelo ao que em Vós tendes de melhor!
Também para que a memória histórica seja preservada, Vosso com as mais cordiais e reconhecidas saudações



voz on de off




Jaime Latino Ferreira
Estoril, 12 de Janeiro de 2012

1 comentário:

manuela baptista disse...

não é fácil contar a história de dois países, dentro da história de um homem, a tua

depois disto tudo, penso que não me importava de aprender mandarim...