segunda-feira, 30 de abril de 2012

DE 25 AO DIA 1

de um cartaz alusivo ao Dia Internacional da Mulher, Jornadas do Parlamento Europeu, 8 de Março de 2012




Da Liberdade ao trabalho
tiro as cartas do baralho
vai um tempo longo e malho
abro as portas do serralho 

Séculos sem equidade
uma imensa eternidade
esquecendo que a irmandade
é nos géneros igualdade

Que bastou o enxovalho
de num mesmo a atrocidade
se abater em cabeçalho 

Erguido em fraternidade
numa cruz onde entalho
uma só Humanidade
 

trabalho igual, salário igual
 

( … ) tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil e preciso de as reunir; elas ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só Pastor. ( … ) do Evangelho segundo S. João 10, 11-18


 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 30 de Abril de 2012

sábado, 28 de abril de 2012

MEMÓRIA VIVA





Um dos ativos do 25 de Abril de 1974 é aquele que, tendo já passado tempo suficiente sobre o acontecimento, o faz permanecer memória viva e tanto mais quanto se tratou do derrube de um regime totalitário praticamente sem efusão de sangue e dando origem a uma nova vaga de democratização sem precedentes na Europa e, quem sabe, no Mundo.
À data tinha eu 20 anos, era um homem feito e com aguda consciência política e hoje, passados que são tantos anos, ainda não completei os sessenta anos de idade.
A memória do sucedido permanece, pois, viva assim como aquela do antes e do depois.
Ainda hoje conservo presentes os constrangimentos do antes, a euforia única que à sua data se viveu, as tentações que se lhe seguiram e a diferença que hoje, do antes nos separa.
Há muitos fatores que contribuem para a maior ou menor liberdade que se tenha e nem todos de ordem estritamente política, mas só esta possibilidade que hoje temos de exprimir o que nos vai na alma!
De exprimirmos, livremente, as nossas convicções políticas ou outras!!
De aqui poder, publicamente, dar asas ao meu pensamento que se traduz já num conjunto múltiplo e complexo de textos originais que se aproxima, a passos largos, das novecentas publicações!!!
Memória viva.
Memória viva na integração plena daqueles que a constituem e não apenas exaltação de ícones passadistas ou meramente situados no tempo que aqui, intencionalmente, eu não relevo sublinhando-a presente, atual e universal.
Memória histórica é uma coisa e memória viva, outra bem diferente!
A memória viva de um acontecimento tem da memória histórica uma diferença fundamental:
É que ela é sentida.
Sentida como se fosse de hoje e tal permanecerá assim enquanto dela forem vivos tanto os seus intérpretes como as suas testemunhas.
Tanto mais, diga-se em abono da verdade, quanto, repito, a efusão de sangue que, entre nós, praticamente não teve lugar.
Permitindo, deste modo, sarar as feridas que numa rutura como o 25 de Abril o foi, em tempo de vida útil pudessem cicatrizar.
O que aqui alego não é, de todo, despiciendo.
Bem como todo o meu percurso que refaria de novo sem esqueletos no armário que os não tenho.
O 25 de Abril de 1974 e fossem quais tivessem sido as suas motivações mais ou menos corporativas ou generosas, redundou na Liberdade que não existia e que, ainda ou por demais hoje, nos permite dizer de nossa inteira justiça.
É claro que hoje como sempre, é preciso saber como dizê-lo.
Não vale tudo.
Mas por sabê-lo, poder dizê-lo é uma bênção que só quem não pôde sabe o que é poder dizer!


 



Jaime Latino Ferreira
Estoril, 28 de Abril de 2012

quarta-feira, 25 de abril de 2012

25 - (A)MAR



I
Da minha língua vê-se o mar
 II 

Da minha língua vê-se o mar
são dele a cor salina e o ar
e dela cromáticos os relevos
 o livre movimento dos seus servos 

Da minha língua são os nervos
que dela se derramam em eternos
abraços como se fossem o lar
 da rebentação da onda no pensar 

Da minha língua a abstração de um lugar
mágico e absolvido no altar
de um desejo libertado dos infernos

Horizonte sem limites nem austeros
pecaminosos nãos de amargos neros
 que a amarraram sem a deixar navegar  

 III

Deste lugar canto o verbo amar
da minha língua o oxigenado ar
rarefeito sem apelo por decénios
num exíguo calabouço sem convénios 

Liberto este lugar em cantos ébrios
ao verbo amar ergui por entre os lábios
removidas as mordaças e a arfar
pese embora mal sabendo conjugar 

Hoje um grito em enchente vem do mar
traz na espuma das ondas o pulsar
que aos mascates os abafa dos cenários 

Aos que nem sabem ser dos néscios
o que aprenderam a contar sem que aos sábios
os soubessem nem tão pouco trautear
 

por esta ordem e inspirado na citação de Vergílio Ferreira, no 38º aniversário do 25 de Abril de 1974 quando a minha língua em onda enrodilhada nas liberdades se espraiou
 

3


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 25 de Abril de 2012

sexta-feira, 20 de abril de 2012

PAROLES–WORDS–WÖRTER-PALAVRAS




Je suis un musicien
des paroles
ce que je dis je l’écris
comme une folle
bavarderie
que se soutien et décolle
|
I’m a musician of words
in witch
as I say as I write
is a chatter
what I play
that takes the madness away
|
Ich bin ein Musikanter des Wort
mit dem
schreibe fort was ich sage
sind die Wörter
reine Wahnsinn
 Geschwätzigkeit das Glück mir bringt
|
Sou um músico das palavras
que ditas são o que escrevo
louca tagarelice
que na pauta ao que disse
descola
livre e ri-se
 

( à DL / to DL / an DL / a DL )
 

écrit par cette ordre / written in that order / in diese Ordnung geschrieben / escrito por esta ordem
 

 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 20 de Abril de 2012

quarta-feira, 18 de abril de 2012

PORTUGUÊS, EUROPEU E CIDADÃO DO MUNDO

, Planisfério, 1623, British Library, London [pormenor]PlapP




Português.
Sou cidadão português, de um país impulso da globalização, hoje intervencionado e, logo, com a soberania condicionada mas, por tal facto, deverei ser inibido e pesem como pesam todos os constrangimentos, do exercício pleno, universal da cidadania?
Não, muito antes pelo contrário!
O reconhecimento, nas suas consequências, de tal exercício, quer em matéria de deveres como de direitos e que aqui, neste meu blogue, paulatinamente se vai expondo, não deixaria de ser, ele também, um forte impulso, logo em termos de coesão social, aos cidadãos em geral e, em especial, aos de todos aqueles países que se encontram, como o nosso, em dificuldades, em muitos deles ainda maiores, no estímulo do exercício da cidadania indispensável diante do imparável e irresistível processo de acelerada globalização a que, nos nossos dias e como nunca, assistimos e somos parte interveniente.

Europeu.
Como português que o sou, sou irresistivelmente europeu.
Identifico-me com a Cultura Europeia e como sua marca de água, não apenas esta língua que a integra mas a sua música que ao longo dos anos aqui Vos exponho, quer uma quer a outra, sem dúvida, suas marcas identitárias.
Revejo-me, também, na Democracia e na Paz que à Europa, após as suas derivas totalitárias a assumirem as mais inomináveis barbáries, desde há mais de sessenta anos tendencialmente nela vão singrando caracterizando-a como um projeto original, único mas viável e pese embora toda a sua imensa diversidade.
A União Europeia é a expressão desse projeto que desde os anseios dos seus pais fundadores, à Europa, progressivamente a vai integrando num largo espaço como, hoje em dia, apenas nele e pesem embora todos os sinais contraditórios, os pequenos espaços geográficos têm viabilidade.

Cidadão do Mundo.
Sou europeu e cidadão do mundo!
Contradição?
Não, não me parece!
Naquilo que a Europa, como legado, de melhor tem, a universalidade dos seus valores, decididamente sou um europeu e, logo, um cidadão do mundo ao qual o abraço sem preconceitos culturais e na convicção de que o Mundo tal como a Humanidade são uns sós.
São o sabor sem cujo aroma a flor da cerejeira perderia as condições de desabrochar!
Sou cidadão do Mundo na convicção de que, pesem todas as imensas diversidades, sem o entendimento e a concertação multilateral e global entendidos à luz da Democracia, também para nós, humanos, como todos os sinos tocam a rebate, deixariam de existir condições de viabilidade.
Daqui às Américas, ao Japão e à China, pelo oriente ou pelo ocidente e no envolvimento, em abraço, repito, do sempre martirizado Sul.
Identifico-me com um Mundo e uma Humanidade tão preciosos quanto a água que bebemos ou o ar que respiramos, uma que escasseia e o outro que se vai degradando, ambos sem fronteiras e que lhe são, à Humanidade, absolutamente indispensáveis!


este é o meu Programa de Estabilidade e Crescimento ( PEC ) que aqui, desabridamente, nesta exortação evoco de novo  


 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 18 de Abril de 2012 

segunda-feira, 16 de abril de 2012

QUANDO

Friedrich von Schiller ( 1759 — 1805 )




Quando, na página anterior e que aqui retomo, um conjunto de 10 000 pessoas interpreta a Ode da Alegria, fico a pensar em quem à ode de Schiller, Ode An Die Freude e hino da Europa a abraçará com maior convicção:
Os europeus ou, no caso, os japoneses?
Esta pergunta poderia ser feita na inversa, isto é, quem na Europa, com igual rigor não apenas musical em sentido estrito mas também naquele da convicção, da pronúncia e da língua, a um qualquer tema japonês equivalente seria capaz de, assim, o interpretar?
Quem?

Por outro lado, quem, na Europa, a esta mesma ode a interpretaria com tal força, vigor e monumentalidade e sem prejuízo, tão pouco, do seu rigor musical?

Estas perguntas que aqui levanto não são, propriamente, casuísticas …
Para ser franco, até me dá a sensação de que com ela, com esta massiva interpretação e independentemente do contexto que a ela presidiu, o extremo oriente de nós próprios a nós nos faz um ingente apelo a que acordemos da nossa letargia.
Da nossa própria decadência …!

Tudo o que aqui escrevo assume ainda maior relevância quanto, para mais, esta é uma performance habitual da Daiku, da Nona Sinfonia, assim lhe chamam os japoneses, levada a cabo todos os anos e mais ainda quando esta, em particular, foi dedicada em homenagem às vítimas do terramoto e do tsunami que se lhe seguiu, o ano passado, no Japão e que é nesse contexto que surgiu aquilo que, aqui, nos é dado ouvir e a pergunta torna-se, então, ainda mais pertinente:
Seríamos nós, europeus, em idêntico contexto, capazes de tamanha ousadia? 

Alegria bebem todos os seres
No seio da Natureza:
Todos os bons, todos os maus,
Seguem seu rastro de rosas.
Ela nos dá beijos e as vinhas
Um amigo provado até a morte;
A volúpia foi concedida ao verme
E o Querubim está diante de Deus!

… canta Schiller a dado passo e que tem a Europa, hoje e diante do tsunami económico e financeiro que a abala, uma simples brincadeira quando comparada com a catástrofe que assolou o Japão, a oferecer ao mundo e a si própria também?

Que tem a Europa a oferecer ao mundo para lá da triste prestação que desempenha confinada às salas de concertos?
Confinada à retórica que tarda em se traduzir no terreno?
Impotentemente fechada sobre si mesma?
Calando o que o mundo dela canta e em que deixou de acreditar?
Ou acredita!?

Quando, quando voltará a Europa a cantar os valores que ela própria, de si mesma comiserada, contribuiu para fazer despertar?
Resolvendo o luto das barbáries que, pelos piores motivos a celebrizaram e a que se confinou?
Num mundo em que se integre, seja parte entre iguais e contribuição ativa para a Paz, isto é, para a Liberdade, a  Igualdade e a Fraternidade, a Alegria de que, ela também,  não poderá, jamais, abdicar?

Quando!?



que Europa é esta




Jaime Latino Ferreira
Estoril, 16 de Abril de 2011

sexta-feira, 13 de abril de 2012

UMA MESMA HUMANIDADE




Escrevo um V de verso e nele inteiro
a todos numa mesma Humanidade
a esta alegria que me invade
deixo entrar como sendo seu porteiro

Nela oiço odes de igualdade
às quais canto e das quais se sou useiro
também delas num estandarte sou vezeiro
e lhes junto o anseio da liberdade 

Canto hinos que vos deixo como esteiro
tua e minha nossa imensa dignidade
da qual fiz minha bandeira e meu mosteiro 

Uma reza que se ergue sem idade
sem o tempo que nos prende e no qual leio
ser eterno o desejo de irmandade
 

anseios comuns
 

( a MA que me disponibilizou esta interpretação literalmente monumental da Ode da Alegria )




Jaime Latino Ferreira
Estoril, 13 de Abril de 2012

quinta-feira, 12 de abril de 2012

DESCOLAGEM

autor que não consegui identificar

“ Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-lo, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos. ”
( Fernando Pessoa ) 

Persistindo na soneto mania que, ultimamente, à minha verve a tem alimentado, descolo do que se diz que sempre foi ou teria de continuar a ser assim …

Descolam praças e mercados
tudo cai em mil bocados
arrepiam caminhos traçados
desfazem-se sonhos ceifados

Desfiam-se mágoas sem ver
o que nos resta escrever
por entre o que sem saber ler
não se sabe como querer 

Descolam reais estilhaçados
desarmando o crer e o ser
sentindo-se descompensados 

Mas eu já descolei por os ter
do que sei meus compensados
dizeres que te dou a saber


… e nesta aparente fuga em frente, na descolagem global e remetendo para trás, tudo se cola e faz sentido outra vez!




( seguir com disponibilidade o novelo de links )





Jaime Latino Ferreira
Estoril, 12 de Abril de 2012

quarta-feira, 11 de abril de 2012

EX(P)ORTAÇÃO




Exporto minha língua com denodo
intangível matéria de meu todo
o sonho traduzido e que esvoaça
a sobressair da lama e do lodo 

Matéria prima a minha e argamassa
meu barro com que moldo carapaça
que se ergue dos contornos deste esboço
meu encanto feiticeiro e minha caça

Alma de meu cantar em que te oiço
desmoronar por entre o que se faça
na oscilação do tempo que baloiço

No campo de batalha que ameaça
abater-se em escuro túnel e triste engodo
de à saída a esconder que desenlaça



a língua é o meu contributo para os índices de exportação e para quem tenha dúvidas confirmá-lo, uma vez mais, no planisfério que se situa no rodapé deste meu blogue






Jaime Latino Ferreira
Estoril, 11 de Abril de 2012