terça-feira, 26 de junho de 2012

COMO






No texto anterior sublinhei importantíssimo este como.
Se eu bater em alguém, no meu futuro, esse ato de violência recairá, seja de que maneira for, sobre mim próprio.
Às sociedades e por mais livres e democráticas que elas o sejam, ainda hoje lhes são cobrados os passados de violência que as moldaram, esse pecado original que ao poder o constrange e que na sua génese, dela guarda a desconfiança que para o poder, como usurpador, sempre o olha.
Nos meios, por isso, os fins em si mesmos.
De como aja, de como cada um de nós aja ou as sociedades no seu conjunto, assim o vislumbre de futuro que se desenha e que no passado, suas raízes, se entronca.
A violência física ou psicológica e tanto mais quanto gratuita o seja, nunca são gratuitas.
Elas lançam os germes que se viram contra quem, com o poder irremediavelmente se identificando, o detém ou pratica.
Ou praticou.
Sempre olhado como usurpador, o poder não se consegue livrar dessa mácula que consigo e por mais democráticas que as sociedades o sejam, transporta.

A Terra, esse cristal de quartzo que coabitamos, refrata.
Refrata a luz em cor.
No espectro que o irradia em planeta azul.
Miragem de todas as miragens, lente liquefeita que, como poliédricos pequenos cristais, nos faz emergir.
Refrata o espaço/tempo em entidades distintas ao tempo o subdividindo em Passado, Presente e Futuro e ao espaço lhe conferindo profundidade tridimensional.
Refrata a energia no que se vê e ouve, em cor e em som a este último o divorciando do silêncio que, residual se torna em íntima abstração.
Sim.
Vivemos mergulhados no som já que tudo se move e, logo, o produz e ao silêncio que na música se expressa o vamos sacar ao som das esferas.
Das exteriores e das mais íntimas de nós mesmos.
Sendo ele predominante no Universo.
Refração.
Refração que nós próprios o somos qual bolha de água e de ar, envoltos em fina película aderente, concentrada.

Como, de como tudo depende de tudo o mais.
De como aja.
De como as sociedades, no seu conjunto, ajam.
De como livrar o poder dessa mácula de violência já que, na globalização, na fragilização crescente que esta acarreta, se torna imprescindível.
Ou imaginais o Globo mergulhado no vazio de poder, em revolução permanente ou em guerra!?
De como ao poder o livrá-lo, na crescente fragilização do habitat que nos alberga e tanto mais quanto à luz da minha Hipótese encarada, dessa desconfiança que, longe de, democrático porque só o poderá ser, o potenciar galvanizando a Humanidade para lá de credos, culturas e nações para as tarefas de verdadeira sobrevivência a que é desafiada, sob pena de perder a qualidade de vida que, em partes crescentes do Globo, já alcançou!?
Como!?
Como e tanto mais quanto preocupantes sinais se adensam que a mim, salvaguardando a indispensável equidistância, trunfo esse que, por dever, não posso deixar de deter, me leva a abster de os nomear quebrando o círculo de violência que a todos nos flagela.
Assim:
Agindo vis-à-vis o poder como parte entre iguais que somos, o poder e cada um de nós no poder soberano que detemos, individual e pacificamente, com toda a transparência e na resiliência que de há muito, no meu agir, me caracteriza.
Permanecendo como eu permaneço aprofundando, com toda a abertura, a Doutrina Política Geral para que todas as particulares e democráticas se potenciem!
Em representação, repito, meramente residual.
À imagem dos grandes fautores de Paz no silêncio que a mim, aqui e por ora, me vou impor.


 

 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 26 de Junho de 2012


segunda-feira, 25 de junho de 2012

TEMPO PRESENTE





O tempo presente é o resultado da conjugação das coordenadas Passado e Futuro.
A bem dizer, o Presente não existe, mal passa foi-se.
Passado e Futuro esses estão sempre bem presentes, não gozam de nenhuma rigidez e de como os olhemos alteram, condicionam o tempo que passa:
Conforme os olhemos no sentido que lhes atribuamos como não, assim o momento presente converge ou não numa determinada direção.
Se eu vir ou não poder deixar de ver o meu passado como fechado ou o meu futuro como pré-definido ou determinado, então, o meu presente é, ele também, definitivo.
Se, pelo contrário, para eles, Passado e Futuro, os olhar como não definitivos, interativos com o meu livre arbítrio, com a minha capacidade de decisão, comigo próprio ou com a minha Liberdade, assim eles movem-se e se ajustam, adquirem outra e maleável profundidade.
Isto dentro de parâmetros de relatividade e nunca se a esses parâmetros, caindo no relativismo absoluto, os não tivermos em linha de conta.
Explico-me melhor:
Não se pode fazer tábua rasa da História, seja ela individual ou coletiva mas conforme a interpretemos assim também o que será virá ou não a ser assim e mesmo se independentemente do nosso tempo de vida útil ou, pura e simplesmente, de vida.

No que toca ao Passado, não será difícil admitir que assim seja mas quanto ao Futuro, aí, as coisas poderão fiar mais fino.
Eu sou o Futuro do Passado e tu também o és.
Então por que é que não evoluímos todos num mesmo sentido?
Se o Passado tem muitos passados, tantos quantos aqueles que somos o Futuro, esse também, por quantos somos tantos mais os serão.
E ele, o Futuro, é parte da malha que nos envolve e que vai do Passado ao Futuro.
Conforme o Passado em interação com cada um de nós assim o somatório dos futuros que no Futuro se espelha.
Dinâmico, tão dinâmico e interativo quanto o Passado.
Eu vejo um futuro aberto e tudo faço para que assim seja e ele abrir-se-á.
Tu vês um futuro fechado e nada fazes ou nada julgas poder fazer para que o contraries e ele fechar-se-á sobre ti próprio.

Ambos, Passado e Futuro, estão bem presentes, diria mesmo que são o momento presente.
Estão connosco quer nos vestígios materiais como imateriais do Passado sempre por redescobrir quer nos desejos, objetivos, anseios de Futuro.
No que a este último lhe concerne a Arte tem dele, do Futuro, um especial condão de adivinhação ou premonição.
Do Passado, aos seus vestígios também os tem e não poderia deixar de ser assim já que ela o transporta ou catapulta para o Futuro.
Da Arte pode-se então dizer que transporta consigo vestígios do Passado como do Futuro
Não há, aliás, Futuro sem Passado e o contrário também o poderá ser dito.
Vivemos como se numa miragem.
E o que essa miragem nos diz é que só vemos, só vivemos aquilo que quisermos, podermos ver e só vemos se estivermos em condições, fizermos por o ver.
E como, importantíssimo este como, o vemos!
Se no meu Passado eu não visse sinais de Futuro, o meu presente seria completamente sufocante.
Mas como em ambos a ambos, nos sinais de abertura que consigo transportam, os vejo, o meu presente e logo neste meu texto que aqui se conclui, respira e liberta-me.


o Presente é o Passado do Futuro




Jaime Latino Ferreira
Estoril, 25 de Junho de 2012


domingo, 24 de junho de 2012

RÉPLICA A REINALDO FERREIRA

José de Guimarães, Camões e D. Sebastião




receita para fazer um herói


Tome-se um homem,
Feito de nada, como nós,
E em tamanho natural.
Embeba-se-lhe a carne,
Lentamente,
Duma certeza aguda, irracional,
Intensa como o ódio ou como a fome.
Depois, perto do fim,
Agite-se um pendão,
E toque-se um clarim.

Serve-se morto.




receita para um homem comum


Tomo-me a mim
feito do nada
como o sou
e no nada encontro tudo 

Embebo-me em verve
dia após dia
forte na convicção
racional
intensa como bate o coração

Depois
agito uma batuta
e canto num clamor sem fim 

Vivo
pois aqui vos sirvo
 

cozinhado com os ingredientes devidamente balanceados
 

 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 24 de Junho de 2012
Reinaldo Ferreira


sábado, 23 de junho de 2012

3 E 1/2

Duy Huynh, sometimes time doesn’t fly fast





Foram precisos três anos e meio para que, no texto anterior, não só desvendasse mas ampliasse todo o enfoque que desde que passei a escrever neste suporte, por fim a descoberto, se havia escondido.
Sempre presente mas escondido.
Passar do papel com destinatários direcionados e a quem os meus textos, por correio postal e anos a fio, eram dirigidos, numa materialidade que entretanto se perdeu, textos simbolicamente públicos mas que aqui, nesta virtualidade, se passaram a dirigir a um público indeterminado e muito mais vasto, tão vasto quanto aqueles que pelas autoestradas da informação circulam, público esse de difícil caracterização teve, na desmaterialização do suporte, o que se lhe diga.

Entre outras coisas senti-me obrigado a criar lastro, conteúdos públicos suficientes que não apenas me apresentassem, digamos assim mas que, de antemão e aplainando o terreno pudessem avalizar os voos a que, de há muito, me predispus e lancei.
Se eu tivesse escrito aquilo que no texto anterior escrevi logo a abrir este meu blogue, por quem me tomaria quem, de chofre, a ele o lesse?
Mas esse é apenas um dos lados da questão.
Escrever para um público e tanto mais quanto indeterminado como este o é exige, não apenas que nos demos ao respeito como, sobremaneira e o que é a mesma coisa, que lhe tenhamos respeito.
Que interessam as audiências se este duplo requisito não for preenchido?
O que neste meu blogue, até hoje, escrevi já fala por si.

Independentemente do alvo, para me dar à ousadia do que nos textos anteriores escrevi, tive de criar massa crítica, ça veut dire:
Tive de fundamentar, publicamente e por essa via demonstrar estar em condições de fazê-lo, isto é, de me abalançar a tão altos voos como quem dissesse que se o não estou então que me demonstrem o contrário, que o que escrevo não passa de um devaneio sem qualquer sustentabilidade.
Demonstrem-mo não apenas contraditando todos os conteúdos congruentes do que Vos vou expondo mas, também, as qualidades que pela passagem do tempo, à medida do que Vos escrevo, se vão destacando.

De que interessa um imenso impacto instantâneo se ele não tiver lastro que o sustente?
De que interessa um fogo-fátuo sem outras consequências?
Essas não são as razões por que corro!
Corro por objetivos que me transcendem:
Corro pelo aprofundamento da Democracia que, se passa pelo singular, passa também pela singularidade aprofundada do pensamento que não se compadece com a instantaneidade informativa em que, por ela cilindrados e pese embora a sua crescente incontornabilidade, tendemos a viver;
Corro pelo que de melhor, dos pressupostos anteriores, para todos, do que faço e escrevo, exatamente pela original aproximação que lhes confiro, globalmente possa advir;
Corro, at last but not least, pelas convicções que me norteiam.
Corro …

Engajado, nesta maratona interrogo-me quanto mais a minha corrida terá, nesta abnegação, de durar?


sou um corredor de fundo
 

 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 23 de Junho de 2012


quinta-feira, 21 de junho de 2012

ATREVIMENTO

Duy Huynh


CURTO  DIÁLOGO

este diálogo só faz sentido seguindo os links que, repetida e insistentemente, o contextualizam


- Mas que atrevimento!
- Atrevimento!?
- Sim, que atrevimento!
- Ora essa, serão aqueles a quem me dirijo algumas vacas sagradas? É certo que têm um mandato especial, mas esse mandato não os diferencia de mim próprio como cidadãos que, tal como eu, tu ou eu, o somos. De carne e osso! E eu faltei-lhes, porventura, ao respeito?
- Não me entendeste bem. Por atrevimento referia-me eu à ambição desmedida que, diria, revelas!
- Essa é boa, então não existe já todo um imenso lastro que fala, escreve por mim? Além disso e como escrevi anteriormente, é um dever, um must, sonhar sabiamente e mesmo se esse sonho insinua ou afirma poder vir a ser o vértice da pirâmide política global e democrática. Insisto: observa com atenção o logotipo da Cimeira do G20, que teve lugar no México. Para quem saiba ver não se trata de especulação, é um facto, na sua estilizada pirâmide, a ela lhe falta esse vértice e creio que não apenas tal falta é intencional como que terá tido o aval de todos aqueles que nela participaram como se sublinhassem, precisamente, a sua ausência ou a necessidade do seu candente preenchimento que nenhum deles está em condições de ocupar por representarem interesses parcelares e não que a sua expressa omissão no logotipo seja uma mera coincidência ou fruto do acaso. Nestas coisas, não te esqueças que falamos de política ao mais alto nível, a simbologia é da máxima relevância e obedece a tudo menos ao fortuito. É preciso sonhar bem alto mas com os pés assentes na terra ou com lastro suficiente que ao sonho o permita desenvolver ou manter a estabilidade do voo e, repito, desde que tudo, devidamente, wisely, ponderado!


só quem ousa é que alcança
 

 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 21 de Junho de 2012


quarta-feira, 20 de junho de 2012

DREAM BOX / CAIXA DOS SONHOS

Duy Huynh

  


DREAM  BOX
 

In a time like ours
 to dream is a must 

If we refuse
subdued
to do it
closing the box of dreams
all horizons
as asphyxia 
 will crush us  

Dream so high
as you wisely can
 

as music, to dream through words gives hope 



 CAIXA  DOS  SONHOS 


Num tempo como o nosso
sonhar é um dever 

Se
rendidos
nos recusarmos a fazê-lo
fechando a caixa dos sonhos
todos os horizontes
qual asfixia
esmagar-nos-ão 

Sonha tão alto
quanto sabiamente o conseguires
 

como a música, sonhar através das palavras dá esperança




Jaime Latino Ferreira
Estoril, 20 de Junho de 2012



segunda-feira, 18 de junho de 2012

TO THE LORDS OF THIS WORLD





Aos Senhores deste Mundo,


Escrevo aos Senhores deste Mundo e, sobretudo, àqueles detentores de um mandato ou de legitimidade democráticos.
Se, é certo, a Democracia passa por aquela que na representatividade e, logo, no sufrágio universal e secreto se revê e que tem no pluralismo partidário somado à liberdade de expressão e ao Estado de Direito a sua incontornável expressão, Ela não se esgota neles.
Se a Democracia fica por aí, o que já não é nada mau, diga-se em seu abono, ela fica, no entanto, fragilizada e pela rama.
E esse é o ponto em que estamos.
Para que esta vingue ou chegue à sua maturidade, galgue, passe ou trepe para lá dos muros, navegue passando os cabos das tormentas é, não apenas necessário que ela floresça em participação, isto é, no exercício que da cidadania na multiplicidade de organizações livres se expressa como, mais e mais profundamente do que isso, naquele outro que à cidadã ou ao cidadão na sua singularidade e por provas dadas os reconheça e legitime.

Provas dadas.
O que vem a ser isso?
Resumidamente, a participada atitude destes, da cidadã ou do cidadão, por mérito próprio e diante dela.
Perante a Democracia.
O que eles fazem, individualmente considerados, no sentido de concorrer para o desenvolvimento, isto é, para o aprofundamento da Democracia, de tal modo que completando o círculo ou o edifício democrático, a enraízem dando-lhe não apenas sustentabilidade mas a seiva sem a qual ela definha.
Podendo vir a ocupar, por essa via, o próprio vértice do edifício democrático global que como câmara de ressonância e concertação reservada a todos os interesses globalmente considerados, num Mundo que é só um deva, tem de legitimamente conciliar, contemporizar.
E que, se é escrutinável, assim a própria ou o próprio a isso se têm publicamente de dispor e enquanto o seu compromisso não seja quebrado, não podendo, contudo, pelo voto universal ser sufragável.
Na seiva que nos corre nas veias, a vida de cada um de nós é, em absoluto, legítima.
Aquilo que, em última instância, preenche o vértice que no logotipo da cimeira em que participais, por ora e como nele o podereis constatar, ainda lhe falta.
Seiva.
O nutriente, o sangue, o vigor, a energia.

Se essas provas vão ao arrepio da Democracia e importa sublinhar que Democracia implica tolerância e que esta obriga a que nos saibamos colocar no lugar do Outro, seja ele qual for, fraco ou poderoso, singular ou institucionalmente considerado, ou a justificá-lo ou a aceitá-lo e que este é o princípio motor da Paz, então essas provas têm, não apenas de ser estender no tempo como, também, tornarem-se visíveis, transparentes para quem as quiser seguir, percorrer e comprovar.
Têm, além disso, de se mostrar congruentes no seu exercício, isto é, consequentes em quem as diz praticar.
Na sua visibilidade não podem senão corresponder à atitude real de quem as exercita.
Têm de ir ao encontro do espírito democrático, reforçando-o.
E, nos seus conteúdos, não podem pôr em causa a própria Democracia sob pena de, irremediavelmente, a ou se comprometerem.

Aos Senhores deste Mundo, Excelências,

Dizei-me em que é que não correspondo eu a este perfil, a estes requisitos?
Mais, que não estou para lá dos interesses específicos, particulares, nacionais, culturais, religiosos mesmo ou por maioria de razão daqueles que representais ou que não seja respeitador da separação de poderes?
Colocando-me, pois, numa perspetiva global e democrática indispensável à abordagem dos nossos presentes e dilacerantes dilemas que tudo têm a ver com a candência de um Novo Paradigma de Desenvolvimento sem o qual nos afundaremos de crise em crise?
Teria sempre de me expressar numa língua viva e porque não nesta!?
É só escrutinarem-me neste fio condutor que, paulatinamente, por todo este meu blogue, publicamente, Vos vou expondo, expondo-me.
Isto para não falar já do que o antecede, escrito em papel, manuscrito ou processado, de há mais de vinte e três anos a esta parte e que, à escala, a este mesmo padrão sempre correspondeu.
Dizei-me se numa predisposição que indefetível se mantém, aquilo que faço e escrevo é de somenos!?
E dizei-me, já agora, em que é que por minha ação Vos ponho em causa!?
Que valia às Vossas que também são as nossas causas eu não acrescento!?
Que provas mais terei de dar!?
Resiliente, neste meu propósito permaneço e permanecerei.

Seeing and writing far behind, realistic and consequent, that’s my lemma as You all, hear through, may confirm.
Yours

Vosso


 

 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 18 de Junho de 2012

domingo, 17 de junho de 2012

LACK OR BEHIND

Rafal Oblinsky, Overture 

( behind all imagination )





Lack of imagination ou falta de imaginação.
Imagine-se que não se tem em conta a Hipótese por mim equacionada.
A corresponder ela à realidade podemo-nos, então, estar a mover, globalmente, num novo contexto que obriga a novas soluções mas que, por não ser tomado em linha de conta, às velhas soluções a que nos encontramos agarrados e que persistindo em utilizá-las, longe de solucionarem apenas introduzem crescente ruído, cavam o fosso que nos vai divorciando da realidade.
De tal modo que, nelas persistindo, repito, apenas, como se apenas fosse pouco, contribuem para libertar sempre crescentes e mais agressivos demónios que contra nós se acabam, imprevisivelmente, por virar.
Demónios é uma palavra pouco rigorosa.
O que eu quero dizer é que, persistindo em agir como dantes sem ter em conta as novas condições objetivas desencadeadas pela Travessia, usando velhas receitas, apenas cavamos mais e mais o fosso que delas nos separam, indo sempre a reboque dos efeitos inesperados que sobre nós, Humanidade, se possam abater.
Para lá de toda a imaginação e negativamente, perdido o norte de à minha Hipótese a não querermos equacionar, ameaçando, sem o querermos, a nossa cada vez mais fragilizada subsistência.
Tal constata-se nas mais variadas áreas do conhecimento, desde o equilíbrio ecológico à economia ou das ciências ditas exatas à política que longe de se anteciparem criando, pela adesão à realidade, sustentabilidade, vão, pelo contrário, dela perdendo o pé.
E tendo-se tudo alterado ligeira, quase impercetivelmente à palma dessa mesma Travessia, somam-se exponencialmente e em espiral, efeitos cada vez mais fora do nosso controle.
Vivemos na cultura do que se vê, se não se vê, não existe.
Assim e a título de exemplo, os dinossauros ter-se-iam extinto graças a um imenso cataclismo de dimensão apocalíptica cujos indícios, afanosamente, se buscam e não estamos recetivos à hipótese que, do quase impercetível, do impercetível mesmo, à luz das ferramentas que dominamos somada a uma crescente incapacidade de abstrair, de abstrair mesmo para lá dos números, isto é, encarando o imprevisível desconhecido que do quase impercetível possa desencadear, por nossa exclusiva obstinação e a prazo, mais ou menos próximo, o inimaginável apocalíptico.
Não me canso de citar Stephen Hawking do seu clássico Breve História do Tempo, Do Big Bang aos Buracos Negros, quando escreve:
(…) “Se tudo no Universo depende de tudo o mais de uma maneira fundamental, pode ser impossível aproximarmo-nos de uma solução completa investigando isoladamente as partes do problema.” (…)

Behind all imagination ou para lá de toda a imaginação.
Tenha-se, porém, em conta a minha dificilmente comprovável Hipótese a não ser pelos efeitos que à sua volta desencadeia e que em texto anterior tive o cuidado de listar.
Se tudo estiver, então, a ser abordado sem a ter em conta, pode ser que estejamos mais perto do que alguma vez pensámos, de resolver os bloqueios que nos estrangulam e constrangem.
Desde que, decididamente, a encaremos como plausível.
Assim:
Pode ser que, seja tida a minha Hipótese em linha de conta, de forma mais decidida nos dispunhamos a abordar os desequilíbrios ecológicos, desde a poluição às alterações climáticas e ao aquecimento global, todos somados de consequências imprevisíveis e tanto mais quanto, repito, se à sua luz encarados;
Pode ser que, equacionando-a, estejamos assim mais próximos de resolver a crise económico-financeira, logo começando por a encarar, centrada no Homem, noutra perspetiva;
Pode ser que as assim chamadas ciências exatas, revestindo-se do social a que não são estranhas, passem a concorrer, concertadas e multidisciplinarmente numa abordagem mais humana e eficaz;
Pode ser que a Política, globalmente e cingida a toda a democraticidade entretanto criada, pelos instrumentos de que dispomos, assuma, democrática, o posto do comando antecipando-se aos acontecimentos e não intervindo por arrasto e apenas como apagadora de fogos, isto é, como bombeiro;
Pode ser que …
E podíamos ir por aí fora, tão longe quanto a nossa imaginação o possa conceber.
Abrindo de novo a História e não presumindo fechá-la como se tivesse chegado ao fim.
Elevando-a a um novo patamar onde o que estivesse para vir tivesse de ter em conta, como referência, o ponto a que chegámos:
Aquele em que o um, o singular, pela sua determinação, resiliência, persistência, teimosia mesmo, agindo com toda a transparência, pacificamente e em nome do aprofundamento da Democracia, na congruência dos meios utilizados em função dos fins perseguidos e tomando para si apenas o residual político de referência que nesta minha Hipótese se acaba por centrar, tomasse pacifica e globalmente o poder.
Sem mais nem outro querer que não o da reservada e concertada Representação Global.
E, por fim, exponenciando o potencial que as novas tecnologias e as da informação em particular, põem ao dispor de todos e de cada um de nós.
A partir daqui, imagine-se tudo o que de positivo, até hoje, dificilmente a nossa imaginação poderia conceber.
Uma coisa é certa:
Não é possível aprisionar a História num colete-de-forças e, assim sendo, mais vale que ela passe por aqui do que por ali!
Por aqui, pela Democracia e pela Paz Global como os meios por mim utilizados o vão, não apenas demonstrando mas confirmando também.


antes por aqui do que por ali como na Síria e em nome da Liberdade
 

 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 17 de Junho de 2012