sábado, 23 de junho de 2012

3 E 1/2

Duy Huynh, sometimes time doesn’t fly fast





Foram precisos três anos e meio para que, no texto anterior, não só desvendasse mas ampliasse todo o enfoque que desde que passei a escrever neste suporte, por fim a descoberto, se havia escondido.
Sempre presente mas escondido.
Passar do papel com destinatários direcionados e a quem os meus textos, por correio postal e anos a fio, eram dirigidos, numa materialidade que entretanto se perdeu, textos simbolicamente públicos mas que aqui, nesta virtualidade, se passaram a dirigir a um público indeterminado e muito mais vasto, tão vasto quanto aqueles que pelas autoestradas da informação circulam, público esse de difícil caracterização teve, na desmaterialização do suporte, o que se lhe diga.

Entre outras coisas senti-me obrigado a criar lastro, conteúdos públicos suficientes que não apenas me apresentassem, digamos assim mas que, de antemão e aplainando o terreno pudessem avalizar os voos a que, de há muito, me predispus e lancei.
Se eu tivesse escrito aquilo que no texto anterior escrevi logo a abrir este meu blogue, por quem me tomaria quem, de chofre, a ele o lesse?
Mas esse é apenas um dos lados da questão.
Escrever para um público e tanto mais quanto indeterminado como este o é exige, não apenas que nos demos ao respeito como, sobremaneira e o que é a mesma coisa, que lhe tenhamos respeito.
Que interessam as audiências se este duplo requisito não for preenchido?
O que neste meu blogue, até hoje, escrevi já fala por si.

Independentemente do alvo, para me dar à ousadia do que nos textos anteriores escrevi, tive de criar massa crítica, ça veut dire:
Tive de fundamentar, publicamente e por essa via demonstrar estar em condições de fazê-lo, isto é, de me abalançar a tão altos voos como quem dissesse que se o não estou então que me demonstrem o contrário, que o que escrevo não passa de um devaneio sem qualquer sustentabilidade.
Demonstrem-mo não apenas contraditando todos os conteúdos congruentes do que Vos vou expondo mas, também, as qualidades que pela passagem do tempo, à medida do que Vos escrevo, se vão destacando.

De que interessa um imenso impacto instantâneo se ele não tiver lastro que o sustente?
De que interessa um fogo-fátuo sem outras consequências?
Essas não são as razões por que corro!
Corro por objetivos que me transcendem:
Corro pelo aprofundamento da Democracia que, se passa pelo singular, passa também pela singularidade aprofundada do pensamento que não se compadece com a instantaneidade informativa em que, por ela cilindrados e pese embora a sua crescente incontornabilidade, tendemos a viver;
Corro pelo que de melhor, dos pressupostos anteriores, para todos, do que faço e escrevo, exatamente pela original aproximação que lhes confiro, globalmente possa advir;
Corro, at last but not least, pelas convicções que me norteiam.
Corro …

Engajado, nesta maratona interrogo-me quanto mais a minha corrida terá, nesta abnegação, de durar?


sou um corredor de fundo
 

 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 23 de Junho de 2012


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