sexta-feira, 1 de junho de 2012

HAVER OU NÃO MÚSICA NA ESCOLA





Outro dia de manhã, segunda-feira dia 28, em entrevista no programa Império dos Sentidos na Antena 2, ouvi dizer estar em causa, numa regressão inqualificável, a educação musical no ensino básico entre nós, a saber e nomeadamente, nos sétimos, oitavos e nonos anos de escolaridade.
A ser verdade, o que dizer mais sobre o assunto sem cair nos habituais lugares comuns?
Diria como se segue, hoje e no Dia Mundial da Criança, chamando à colação as disciplinas axiais de toda a formação e isto independentemente da área por que se pretenda enveredar.

A música, como alavanca, contém, em si mesma e escondidas, a língua materna e a matemática:

Língua materna.
Constituindo a música e em si mesma um exercício de flexibilidade linguística que obriga a deslizar em todos os sentidos e por toda a escala, escada sonora, direta ou indiretamente à língua materna, por sua via, se ginastica projetando-a e isto independentemente de a ela a conjugarmos, literalmente ou não, com a primeira.
Quanto mais se pelo canto à música a exercitarmos!
Na afinação sonora a que a música nos obriga a ela somadas a entoação, a colocação e a projeção vocais ou o exercitar tão em défice da audição, do silêncio sem o qual ela não se realiza, na abstração que, por sua via, contribui para desenvolver, nela se condensam os ingredientes básicos ou a matriz linguística da língua materna.
Não menos a racionalidade emocional do pensar que por ambas as vias se concretiza.
À língua materna a extravasando, consigo, a música a estimula e desenvolve conferindo-lhe o seu pleno potencial.
Não é por acaso que os músicos, por regra, por escreverem e falarem bem, são, também por essas vias, bons comunicadores.
Dou dois numa miríade de exemplos intencionalmente nacionais entre aqueles que já não estão entre nós:
João de Freitas Branco e Fernando Lopes Graça.

Matemática.
No ritmo a matemática.
Matemática lúdica porque espacial e emocionalmente, sensorialmente, ao nível mais profundo da malha molecular apreendida.
A noção de unidade, da numeração natural e da inteira e da sua variável combinação.
A noção de fração.
A forma, a geometria e a volumetria, isto é, a profundidade que logo na complexidade da escrita musical se espelha.
Mas mais, a música é, simultaneamente, um exercício de relatividade atómico aplicado porque na fruição musical, além do mais, tempo e espaço adquirem outra profundidade, outra maleabilidade também.
Isto porque unidade, numeração natural, inteira, fracional, forma, geometria e profundidade são na música variáveis aplicáveis na relatividade em que se conjugam como o metrónomo, o relógio musical logo anuncia.
Através da música a precisão matemática, na sua exata precisão, relativiza-se.
Pergunto-me e ainda que especulativo:
Não tivesse Einstein tido formação musical que se traduzia nas suas aptidões como violinista e chegaria ele, alguma vez, à fórmula da relatividade?

Nesse magma síntese ou matriz, leito, manta, camada das nossas camadas interiores que a música, em si mesma, é, exponenciam-se autonomizando-se as duas áreas trazidas à liça sem as quais não há formação sustentável.

Mas há um dado suplementar que não gostaria, aqui, de deixar passar em branco:
Sem formação musical a sociabilização na integração, na inclusão e, logo, na cidadania que pressupõe, fica amputada.
A música é um exercício sistemático de cidadania aplicada na exata medida do balanço entre o indivíduo e o grupo pela inclusão sem a qual, em cada qual, ambas não se realizariam.


não há futuro se voltarmos para trás e as crianças não seriam merecedoras de uma tal regressão




Jaime Latino Ferreira
Estoril, 1 de Junho de 2012

3 comentários:

manuela baptista disse...

as crianças não são merecedoras de uma tal regressão

são-no até de uma grande, enorme progressão

Aplausos para esta página! sete e sete são catorze e mais sete vinte e um

tenho tantos ministros e não gosto de nenhum!

Branca disse...

Olá Jaime,

Pensava eu que esta era uma questão que nem se punha, mas estamos em tempos de se verem coisas inconcebíveis.
Talvez para os nossos políticos a educação para a sensibilidade não seja priotitária, já que eles não a têm.

Beijinhos
Branca

Linda Simões disse...

Jaime,

Amigo, sem música não somos mais que folhas ao vento.
A música é a linguagem do coração.
Bela página,importante abordagem.

Abraço aos queridos,


Linda Simões