quarta-feira, 15 de agosto de 2012

DAS FÉRIAS – O QUE É QUE VALE MAIS

Kevin Sloan




Vale ou não aquilo que eu escrevo na minha língua mais ou menos do que aquilo que é escrito noutra língua qualquer?
Eis uma das tais perguntas que não pode ser respondida em função do número de falantes dessa mesma língua ou de outra qualquer ou, pura e simplesmente, daqueles que, à pergunta acima colocada, o pretendessem, num como noutro sentido, decidir pelo voto.
Eis uma daquelas questões à qual, dificilmente, se poderá aplicar a democraticidade estrita do voto e mal estaríamos no dia em que esta, a ela se pudesse ou devesse impor.
Penso que só há uma forma de responder à pergunta inicial:
Independentemente da língua é pelos conteúdos do que é escrito que se afere o que é que vale mais, se aquilo que se escreve na minha ou noutra língua qualquer e esses conteúdos, a serem os mesmos, não se valorizam nem se desvalorizam por serem escritos, originalmente, seja em que língua o for nem, tão pouco, em função do número de falantes dessa mesma língua.
Conteúdos esses, é bom sublinhar, de que a forma é, em si mesma, sua expressão a que a língua original em que são escritos lhe somam natural originalidade.
Não há votos nem percentagens que a esta questão se possam aplicar.
Para se aferir do valor do que é escrito, apenas pela análise e interpretação do que é escrito, pelo esmiuçar do texto que aos seus conteúdos os determinem no complexo contraditório que nele mesmo se encerre se consegue avaliar e esse trabalho ultrapassa em profundidade democrática a democraticidade subjacente ao voto ou à expressividade do número de falantes daquilo que é escrito.
Do que aqui deixo transparece, também, que há escritos que não se compadecem com a vertigem alucinante do ritmo em que vivemos e que ao que é escrito, independentemente do suporte utilizado, tende a desvalorizar.
Tende a subestimar em crescente erosão.
Nessa voragem, quando à qualidade do que é escrito se pretere em função da instantaneidade da adesão que suscita, é a própria qualidade de vida que, sem disso nos darmos conta ou dela, por demais, nos apercebendo, com essa instantaneidade se degrada também.


primeiro texto de um tempo de férias a desenvolver-se por aqui e no Arquivo Complementar cujo link de acesso se situa na coluna lateral da direita deste blogue
 

 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 29 de Julho de 2012



Sem comentários: