sexta-feira, 30 de novembro de 2012

FRESTA

fresta

 
 

Se procurais maledicência, aqui ou ali não a encontrareis.


Se procurais o diz que diz-se, aqui ou ali perdereis o vosso tempo.
 

Se procurais juízos de intenção, aqui ou ali tão pouco os encontrareis.


Se o que aqui ou ali vindes buscar se confunde com dizer mal da Democracia, o que andais vós a fazer nestes lugares já que as autoestradas de informação jamais se explicariam ou encontrariam razão de ser sem ela?


Se procurais análises sobre temáticas que eu não domino, escusado será perder o vosso tempo por aqui ou por ali.


Se sondais informação isenta, em vão será o vosso esforço já que aqui ou ali apenas a encontrareis filtrada pelos olhos deste seu autor que, no entanto, se esforça por manter, distanciado, a equidistância possível entre as partes.
 

Se nisso virdes valia acrescida podendo, através de meus olhos, ajudar-vos a reinventar, então e só então, não será dado por perdido o vosso tempo.
 

Redimensionando-vos, já que sois mais do que, eventualmente, vos poderão considerar bastando, para tal, apenas uma ligeira inflexão de atitude, o que pareceria fechado ou uma simples fresta poderá abrir-se de tal modo que, quem sabe, vos deixará surpreendidos.
 

A fresta, então, poder-se-á abrir em luminosidade inesperada.
 

da perspetiva sempre ao alcance, a diferença
 

 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 30 de Novembro de 2012
 
 
 

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

PONDERAI

em contraciclo, assim e abusivamente, legendo esta fotografia

 

 

Se nos assim chamados países desenvolvidos as Causas enunciadas na página anterior não forem e ainda que residual, simbolicamente, portanto, reafirmadas, defendidas e/ou consolidadas, como pensá-las, sequer, plausíveis para o Mundo inteiro?


Ou, dito de outra maneira:
 

Se eu nelas não me rever permanecendo firme, fundamentada e com toda a civilidade e abrangência como, aliás, de há muito o faço nesta atitude que me move e caracteriza, a não ser reconhecida, como pedi-la ao Povo na indignação que coletiva e cada vez mais, como em reação a um murro no estômago que a austeridade à viva força, em si mesma, representa e que o assola arrastando consigo consequências imprevisíveis?


Ultrapassado o rubicão em que nos encontramos sem pôr em causa a democracia representativa antes aprofundando-a, a Democracia florescerá com inesperado e redobrado fulgor.


o simbólico projeta-se, amplificante, no social
 

 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 28 de Novembro de 2012
 
 
 

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

CAUSAS

em contraciclo, assim e abusivamente, legendo esta fotografia
 

 

Na situação de fortes e crescentes constrangimentos em que se vive, causas há que, julgando-se, estariam definitivamente na ordem do dia para não mais serem obliteradas tendem, no entanto, a ser remetidas ao limbo do qual, ainda há quem entenda, nunca deveriam ter saído.
A saber:
Somados aos direitos universais à educação, à saúde, ao trabalho e a uma segurança social condignas, a igualdade entre os géneros, os inalienáveis direitos das minorias, a importância das artes como valia cultural inexcedível, a Cultura lato senso considerada, a abnegada defesa da democracia representativa e o aprofundamento da democracia da qual os itens anteriores são sua parte integrante, a importância dos saberes de ponta mais ou menos técnicos ou científicos e as humanidades independentemente do seu impacto direto na economia, um desenvolvimento socioeconómico amigo do ambiente, em suma, assim resumiria as causas da felicidade possível que hoje, mais do que nunca, importa reafirmar.
Causas que ameaçam ser cilindradas pela voracidade impiedosa dos números que, encarados linearmente, a tudo o mais, num retrocesso inadmissível que o desemprego crescente e as dificuldades, fazendo-as esquecer, tendem a esmagar e a elas se impor.
Mais do que nunca importa manter bem altas estas bandeiras:
É em contraciclo que elas têm de ser, firmemente, hasteadas para que o futuro, nele incluído o dos números, se mantenha em aberto, mais aberto do que nunca.
Estas causas, em si mesmas, não são luxos antes a diferença entre civilização e barbárie.


os números não são uma verdade absoluta
 



Jaime Latino Ferreira
Estoril, 26 de Novembro de 2012
 
 
 

sábado, 24 de novembro de 2012

PENSAMENTOS ( V )


 


DAR


Sendo certo que cada qual dá aquilo que sabe e/ou pode dar, quanto mais se dá mais há para se dar.


O Amor não se esgota.
 

 Händel 

 

NINGUÉM  SE  DEFINE  POR  UM  CHAVÃO
 

Ninguém se define por um chavão, isto é, por um epíteto ou por um palavrão.
 

Se assim fosse, em cada um de nós não haveria lugar ao livre arbítrio, isto é, à capacidade, em cada momento, de poder, livremente, optar.
 

Todos seriamos prisioneiros e a Liberdade, na melhor das hipóteses, apenas uma miragem se é que o conceito, sequer, existiria.
 

 Mozart 

 

ESCREVER
 

Escrever é como viver duas vezes:
 

Viver porque para escrever temos de viver e viver porque ao escrever revivemos.


Sendo que ao escrever o que se revive fica autonomizando-se de quem o vive, a escrita pode ser, então, um dom e uma graça.
 


 

INTELIGÊNCIAS
 

Há muitas inteligências que, grosso modo, se podem resumir a duas:
 

A inteligência dedutiva ou racional e a inteligência indutiva ou sensorial.
 

A inteligência racional é aquela que, socialmente, pela lógica nos integra e a inteligência sensorial é aquela que, como seres donos de uma visão ímpar, nos justifica.


Entre os maiores desafios das nossas vidas consta aquele que consiste em procurar o justo equilíbrio entre uma e a outra sem que uma e a outra se choquem ou incompatibilizem entre si.
 

 Para encontra-lo não há receitas que linearmente se possam aplicar.
 


  

DO  NADA  AO  TUDO


Quando julgo não ter mais nada para escrever, bastando admiti-lo, tudo fica ainda por escrever.


Basta, repito, admiti-lo que uma torrente de coisas se aprestam a ser escritas.
 

É o que faço ao escrever este pensamento:
 

Assim, a própria admissão introspetiva da ignorância, extrovertendo-se, abre um mundo novo de tudo o que se julgaria ter esgotado.
 


 

O  QUE  SEI


« Só sei que nada sei … »
 

( Sócrates )


… e ao sabê-lo sou rei
do saber que encontrei
 

 

ainda com os meus alunos por pano de fundo
 

 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 24 de Novembro de 2012
 
 
 

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

WHICH WAY

Rachael Preeya
 
 

 
Presidente Obama
Presidente Xi Jinping
Presidente Van Rompuy
 
Excelências,
 
Em adolescente, em nossa casa, naquela a que chamávamos e que se continua a chamar a sala redonda, a nossa sala oval, a sala onde, em adolescentes, meu irmão e eu ocupávamos o nosso tempo e que tinha, então, as suas paredes forradas das nossas fantasias entre as quais se contavam, imagine-se, capas de revistas como a Newsweek que nosso pai assinava, uma dessas havia, nunca mais me esqueci, cujo cabeçalho de primeira página dizia, lembro-me como se fosse hoje, Which Way For The Negro Now?
Feliz coincidência, para mais, encontrei-a no banco de imagens da Google e decidi, em rodapé, publicá-la.
Este cabeçalho, imagine-se e o que de então para cá aconteceu, suscita-me pois um título e um leitmotiv para esta carta tripartida que a Vós se dirigindo, aqui decidi publicar.
 
Presidente Obama,
 
Antes de mais e esperando que ainda vá a tempo, queria felicitá-Lo calorosamente pela Sua reeleição na certeza do forte braço que à Europa a Vós vos une.
Braço de um mar político e democrático, oceano e eixo de estabilidade e Democracia que se quer durável, inquebrantável mesmo.
Which way?
I hope this way will prevail!
 
Presidente Xi Jinping,
 
A Si também O felicito pese embora a Sua eleição pelo XVIII Congresso do Partido Comunista da China fosse mais do que previsível.
Não sendo as minhas expectativas senão moderadas, na afirmação e incontornabilidade de uma China moderna como enorme potência emergente que o é, desejo, ardentemente, que a democracia interna no PCC seja aprofundada de modo a que o fosso entre este e o povo se esbata, já que se o Partido se confunde com o Estado e que este, regulador o deve ser, a prevalecer nele a democracia tal não poderá deixar de ter reflexos positivos no conjunto da sociedade chinesa.
Oxalá a minha ingenuidade tenha pés para andar.
Which way for China?
In the medium/long term, I hope, Democracy will prevail in Your country!
 
Presidente Van Rompuy,
 
Onde está o Senhor?
É certo que nem sempre quando se é notícia se o é pelas melhores razões mas no meio da crise que na Europa se aprofunda …
Onde estais Vós?
Onde para a iniciativa europeia que, na sua ausência, a afunda de crise em crise arrastando consigo uns atrás dos outros países e o Mundo no seu conjunto?
De que Vos devo felicitar?
Bem o gostaria mas dai-me, então, motivos que me permitam congratular-Vos.
Which way for Europe?
I bag You, how much I would like to have a motive to congratulate You!
 
Which way …?
Time has come for us all!
 
Sincerely, yours


 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 16 de Novembro de 2012
 
 
 
 
 

sábado, 10 de novembro de 2012

PENSAMENTOS ( IV )


 

NÃO  CONSIGO
 

Quando à dificuldade se acrescenta um não consigo, está-se a acrescentar dificuldade à dificuldade:


A dificuldade adicional de achar que à dificuldade não se consegue, em si mesma, resolver o que à ação ainda mais a dificulta.
 

 Mozart 

 

QUANTO  MAIS
 

Por vezes, muitas vezes, quanto mais se escreve menos se dá pelos erros do que foi escrito.


Daí a importância de uma revisão cuidada, distanciada e, se possível, independente daquilo que se escreve.
 

Incapaz, quantas vezes, no que escreve, o autor só vê aquilo que julga ver.
 

 Henze 

 

TRINDADE
 

Mesmo que não se acredite, todos nós somos três num só:


Eu, o outro sem o qual, eu próprio não faço sentido e um Outro, ainda, distanciado e equidistante dos primeiros e que a ambos, ao eu e ao outro, zelando por eles e com afinco, os sintoniza.
 

A esse Outro e dê-se-lhe o nome que se quiser dar, todos podemos chegar e a ele chegando, a nós nos aproxima uns dos outros.
 


 

A  ORQUESTRA,  O MAESTRO  E  A  MÚSICA


A relação que se tem de estabelecer entre cada aluna ou aluno, na dinâmica interpessoal entre a turma e a professora ou o professor, é equivalente àquela que tem de existir entre a orquestra em cada um dos elementos que a constituem, o maestro e a música.


Se o pano de fundo do silêncio nela não prevalecer e é ao maestro que por ele bem como pela emissão de som cumpre zelar, não estão criadas as condições que a cada qual e a todos, no seu conjunto, os permita fazer brilhar.


Não seja cumprida essa condição primordial, o pano de fundo do silêncio, mesmo o improviso tornar-se-á, ele também, não em música mas em ruidoso barulho e a orquestra não tocará devidamente.
 

 Bull 

 

CIDADANIA
 

O exercício da cidadania em tudo se assemelha ao exercício da música de conjunto.
 

Num como no outro, o cidadão como o músico têm de balancear-se com o conjunto a que pertencem de tal modo que, não perdendo a sua identidade, se integrem no grupo a que pertencem.
 

Proactivos têm de ouvir e dar-se a ouvir, não caótica mas ordenadamente, com aturada paciência e esperando sempre pelo momento certo.
 

A essa paciência também se lhe poderá chamar silêncio, um silêncio interior que não sendo sinónimo de passividade, empenhado que o é, interage, harmónico, positivo com o conjunto ou com a sociedade.
 


 

PENSAMENTO


Fixarmo-nos em pensamentos nobres ou elevados é, quantas vezes, a melhor maneira de não nos deixarmos esmagar pelo momento triturador que passa.
 

 

uma vez mais e ainda, aos meus alunos
 

 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 10 de Novembro de 2012
 
 
 

domingo, 4 de novembro de 2012

A FALÁCIA

há espantalhos que não espantam mais
 
 

 
A falácia a que me refiro é tanto mais grave quantas as responsabilidades de quem, sentado à mesa do orçamento a utiliza e tanto mais, ainda, quanto na situação de atoleiro em que nos encontramos sem perspetivas rápidas de inversão independentemente de quem nos governe ou venha a governar e ela consiste em afirmar que só sendo bem pagas, as pessoas conseguiriam cumprir bem as suas funções sem cuja independência, que os seus próprios honorários e regalias garantiriam, não seria exequível.
Desta falácia se pressupõe que, inevitavelmente, não sendo bem pagas, as pessoas seriam, por esta ou por aquela razão, corruptíveis ou, pelo menos, menos isentas.
Em resumo, sendo rude, direto e escrevendo sem rodeios, desta falácia se conclui que seríamos, todos e sem exceções, iguais a simples mercenários.
Pessoas incapazes do cumprimento de um Serviço e pesassem, embora, os sacrifícios a que ele nos obrigaria ou de, através dele, desse Serviço, exprimirmos e darmos corpo à nossa generosidade para com o bem comum.
Com efeito, não há corporação e tanto mais quanto a sua importância relativa, que não se levante quando a ela lhe tocam os sinais que põem em causa, qual casta, a sua suposta imunidade que a devesse colocar acima do que à generalidade dos cidadãos lhes é exigido.
Já agora, friso que o que aqui escrevo não é sinónimo de quanto pior, melhor ou de que a pobreza conteria, em si mesma, um qualquer poder salvífico.
No entanto …
 
No entanto, eu escrevo por mim, em nome próprio e em função daquilo a que a minha própria experiência me habilita e aquilo a que ela me habilita, fala e escreve por si:
Há décadas e já para não dizer desde sempre que não conheço outra situação profissional que não seja a de um progressivo apertar do cinto e de crescentes dificuldades económicas.
Conto-me entre aqueles considerados trabalhadores precários, eufemisticamente, apenas, designados como profissionais liberais e de há muito que me habituei a lidar com essa situação e com as suas permanentes incógnitas.
Esta minha situação profissional, porém, nunca me impediu de dizer ou escrever aquilo que penso e mesmo se correndo o risco de, profissionalmente, vir a ser penalizado que o fui já e por mais de uma vez.
Talvez porque goze, também, de uma retaguarda favorável e que, convenhamos, também não é alheia aos meus próprios e sistemáticos esforços, nunca tal facto me toldou ou impediu de escrever aquilo que penso, repito nem, tão pouco, a minha produção escrita, graciosa que o é, foi, em função disso, abalada, toldada ou prejudicada.
Muito antes pelo contrário:
Talvez por isso mesmo ela mantenha toda a acutilância e verosimilhança que por corresponder a uma situação real e que se vai tornando cada vez mais comum, a minha própria, aqui se reflete e, sem esmorecer, se desenvolve.
Sem perder, sequer, a minha independência ou a equidistância que tanto prezo e faço questão de salvaguardar.
Aqui me mantenho firme e não há precaridade que me abale ou demova daquilo que, livremente, arquei como um Serviço que abraço e que cumpro.
Em mim, a falácia em causa não se sustém de pé.
 
Como espantalhos que de tanto se agitarem se tornam demasiado familiares e pouco assustadores, ele há falácias que, paulatinamente, vão perdendo o pé.
O pé, a compostura e a sagacidade, elas sim, espantalhos corrompidos, fora de prazo e invadidos, como poleiros, por toda a passarada que deveriam mas já não conseguem enxotar.
Espantalhos que chegam mesmo a pôr a nu aquilo que os faz mover.
Há pessoas que pelo seu estatuto não estão em condições deontológicas de dizer que aqui estamos prontos a aguentar com todos e cada vez mais sacrifícios;
Outras há, também, que pelo seu estatuto, grandes dificuldades têm em o poder admitir;
Outras ainda há que pelas suas responsabilidades passadas ou presentes, deveriam mas era ficar caladas;
Mas quem a eles, aos crescentes sacrifícios, de há tanto tempo habituado está, pode afirmar a pés juntos que não é por isso que se perde o apego à Liberdade ou a integridade e muito menos a dignidade enquanto pessoa e cidadão livre.
Com este meu texto não pretendo, tão pouco e longe disso, já aqui o escrevi mas não é demais repeti-lo, fazer o elogio da pobreza ou do quanto pior, melhor.
Não!
Mas nós, cada um de nós, também não é uma caixa registadora que se limite a olhar ao deve e ao haver, antes somos capazes de prodígios dificilmente imagináveis sobretudo à luz de uma visão, estritamente, contabilística, miserabilista incapaz de os registar.
Às vezes mesmo, é preciso bater no fundo para nos darmos conta das insuspeitadas energias de que somos portadores e que nos fazem renascer.
Em mim como aqui, neste meu blogue e facebook, de há muito se demonstra e todos os dias assim se cumpre!


perduro, soberano, nesta atitude
 

 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 4 de Novembro de 2012