quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

PARA LÁ DAS DITADURAS, A DEMOCRACIA REPRESENTATIVA, ESTRITO SENSO CONSIDERADA, SERÁ O FIM DA HISTÓRIA?

desenho de Manuela Baptista






Para lá das ditaduras, a democracia representativa, estrito senso considerada, será o fim da História?
Na História, ela é um marco incontornável, sim, incontornável e imprescindível, uma condição mesmo, mas até para sua própria salvaguarda ela não é, não pode ser o fim da História.
Pela democracia participativa, a democracia formal ou representativa tem de ser aprofundada.
Democracia participativa.
Que vem a ser isso?
É aquela que leva os cidadãos, organizados ou singularmente considerados a intervir, a participar politicamente para lá, muito para lá do exercício do sufrágio universal que a primeira, a democracia representativa disponibiliza nela incluídos os restantes instrumentos e órgãos de soberania, garantes da Liberdade, sem a por em causa mas indo para além dela ou melhor, fortalecendo-lhe as próprias raízes ou os fundamentos da representatividade.
Fortalecendo-a pela pressão grupal ou das massas, das multidões, dos lobbies, da média, das classes e dos partidos mas, também, pelo exercício político singular que a faz afirmar-se muito para lá do espectro grupal, sempre, mas sempre macrocósmico.
Corporizando-se naquele outro microcósmico, o da singularidade, do que para lá do grupal a representatividade estrito senso abafa, tal como a árvore às suas raízes as não deixa ver ou emergir.
Não deixa afirmar singular e politicamente.
E que levanta a questão do papel do indivíduo na História que o tem também.
Tudo isto desde que, resiliente, o indivíduo persevere no espírito da representatividade democrática onde este, o indivíduo pode, deve ter um papel soberano e, por isso mesmo, não menos representativo.
Mandela é disso um exemplo extremo embora ou por maioria de razão na transição da ditadura para a democracia plena.

O aprofundamento democrático revê-se, em última instância, no indivíduo singular, baliza, ele próprio, dos direitos da pessoa humana.
Razão de ser que a própria Democracia, em última instância, serve.
O fim último a que a Liberdade se destina, o indivíduo singularmente e não estatisticamente considerado.
Da Constituição Portuguesa, dos seus Princípios Fundamentais, ao seu Artigo 2º, para aqui o transcrevo:

Artigo 2.º

( Estado de direito democrático )

A República Portuguesa é um Estado de direito democrático, baseado na soberania popular, no pluralismo de expressão e organização política democráticas, no respeito e na garantia de efetivação dos direitos e liberdades fundamentais e na separação e interdependência de poderes, visando a realização da democracia económica, social e cultural e o aprofundamento da democracia participativa.


Será preciso chegar a extremos como aqueles da luta contra as ditaduras para que sobreleve o papel do indivíduo na História na luta pela Democracia o que implica não apenas a sua instauração mas, também, o seu aprofundamento?
Não, não é preciso, sob pena da Democracia ou daquela representativa, podendo-se instaurar não se chegar a aprofundar fragilizando-se, refém das ditaduras que fica.
Há vinte e quatro anos que, resiliente e balizado pela democracia representativa, não paro de participar, tudo fazendo, por meios pacíficos e, logo, democráticos na equidistância em que me mantenho, por à primeira a aprofundar.
Mandela, pelo espírito da reconciliação, instaurou a democracia representativa mas, pese embora o seu grandioso exemplo, não foi mais longe do que isso.
Tão longe que ele foi!
No seu desapego ao poder e em tempo de vida útil, derrubando as fronteiras raciais, como o poderia ter conseguido ir?
Ele juntamente com os seus pares?
Que passo de gigante não realizou?

Há vinte e quatro anos, repito, eles não se medem apenas pelo tempo de existência deste meu blogue mas pelo início da minha produção escrita, empenhada e coerente, já nos idos de 1989 que em Democracia e sempre zelando por ela e pela sua natureza representativa que, resiliente e abdicando de todo o poder que não o da palavra que o mesmo quer dizer da independência e liberdade das minhas próprias ideias, não entro em pormenores porque o registo, todo ele, existe e pode ser seguido, não paro de as aprofundar, aprofundando com elas a própria Democracia que na sua representatividade estrita não encontra o seu fim histórico.
Não sem que não soubesse e tivesse sentido na pele os efeitos da ditadura que a precedeu.
Sempre, mas sempre congregando em vez de dividir.
Congregando e unindo, reconciliando forças e para lá das barreiras segregacionistas do dinheiro que quantas vezes também o são.
No um, o outro ou eu próprio a quem ela, a Democracia, em última instância, se destina, nele se revê e serve.
O um, sem mais, despido de qualquer apoio que não o das minhas ideias, ideias compatíveis com a Democracia, permanecendo sem esmorecer e sem delas, das ideias, alguma vez, abdicar.
Por opção própria, mantendo-me refém da prisão livremente consentida em que elas, as ideias, coerentes desabrocham e florescem.
Comprometendo-me sempre e por cada texto que escrevo no apego democrático inquebrantável.
Que ritmo e intensidade a mim próprio, eu não me impus!

E agora?
Será que chegámos ao fim da História?





se as democracias representativas não se aprofundarem até à raiz do um nas suas idiossincrasias e mundividências ao encontro da Democracia que não paro de desenvolver, aprofundar quer dizer isso mesmo, o espectro das ditaduras, sempre associadas ao exercício da violência, continuará a marcar o passo dos tempos históricos e a Democracia não se aprofundará




feliz ou santo Natal de 2013 e um bom ano de 2014

e a partir de 7/01






se só é pátria aquela que pensa e a minha pátria é a minha língua com a qual penso e ao meu pensamento o consubstancio, se sou pátria, inteiro me dou






Jaime Latino Ferreira

Estoril, 12 de Dezembro de 2013



domingo, 8 de dezembro de 2013

TWENTY WORDS

Piotr Potworowski, Blue Room, 1958







Blue room
I’m a spoon
feed
oh art
my noon

Give me
the spirit
soon
goddess
of human kindness





once again, must obliged to Dominique Labaume and according to Madiba’s spirit


blue 





Jaime Latino Ferreira

Estoril the 8th December 2013



sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

INFINITO II







um entre os pequenos e segregados tornou-se num dos maiores entre nós e se tal aconteceu também foi porque em Liberdade e com toda a humanidade, no lugar que nos é comum, a uns e aos outros, a nenhuns dele os excluiu





infinitamente grato a Nelson Mandela








Jaime Latino Ferreira
Estoril, 6 de Dezembro de 2013 
para sempre



quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

COMUNISMO E CAPITALISMO








Houve um tempo em que por título deste meu texto se justificaria escrever comunismo versus capitalismo.
No entanto, esses tempos passaram à História sendo que, mais apropriadamente, hoje e por paroxismo, se justificará antes discorrer, tal como a este texto, por título, o encima, sobre comunismo e capitalismo já que ambos, como sistema de vasos comunicantes, entre si e ao contrário do que se pense, se conjugam.
Passo, política e excentricamente, reconheço-o a desenvolver.

No momento em que o Papa Francisco publica a sua Primeira Exortação Apostólica, Evangelii Gaudium, interpelando as consciências e na qual duramente escreve sobre o descarte a que é votada a pessoa humana num tempo de um capitalismo sem rosto e sem freio e sendo certo que a ele, ao papa, mais não compete do que essa mesma interpelação que já não é pouco , diga-se, sob pena de interferir na esfera do poder temporal rompendo equilíbrios ao longo da História, tão penosamente, conquistados, aqueles, precisamente, da fronteira entre o poder temporal e intemporal, tempos estes onde impera, de facto, a desregulação política que faz pender a favor do capital essa deriva sem baias e sem contraponto que aos assalariados os deixam mais e mais descartáveis às mãos do capital, cumpre-me a mim e com modéstia, laicamente, dissertar, senão por paradoxo, sobre o assunto.
Neste processo e embora em escalas diferentes a China tal como os países europeus sob resgate nos quais se inclui Portugal, mais interdependentes do que se pensa, são dessa deriva autênticos laboratórios em processo que desejaria de simétrica convergência.

Com a queda do Muro de Berlim, triunfalistas, ergueram-se precipitados os arautos do fim do comunismo, precisamente quando a China, ironia das coisas, país socialista sob a direção do Partido Comunista, no consulado de Deng Xiaoping e afastando-se, decididamente, da via seguida pelo seu vizinho, a Coreia do Norte, se abria ao mundo declarando-se como um país com dois sistemas, estratégia sintetizada nesta máxima que desencadeou um boom que em pouco mais de trinta anos a tornou irreconhecível assumindo-se como um ator político global incontornável.
Um país e dois sistemas ou um ator, quand même, socialista porque sob a direção do Partido, repito e em transição, como rezam as crónicas, para o comunismo:
O sistema socialista a confundir-se com o Partido e o Estado ou com um destruturado setor público, diríamos nós, e o sistema capitalista ou o desregulado setor privado de tal maneira out of control que o resto do mundo e a Europa em particular, anquilosada e incapaz de reagir senão tardiamente e por arrasto, diante do seu impetuoso boom, se desregularam também.
Em particular, nos países europeus sob resgate como é o caso de Portugal, essa desregulamentação não para de se acentuar.

Obrigado a uma longa travessia do deserto no imediatamente após a instauração da Democracia, entre nós, o Partido Comunista Português, todos os democratas dos mais variados quadrantes hoje o reconhecem, humanizando-se, tornou-se um partido institucional confiável e de referência.
Uma vez feito o luto dos anos da brasa, o PCP sabe hoje como poucos que perante uma deriva totalitária, o caldo está criado, é fundamental salvaguardarem-se as instituições democráticas e isto independentemente ou por maioria de razão, qual seja a correlação de forças que lhe seja como não favorável.

Neste resumido e intencionalmente simplificado quadro, a República Popular da China tal como a Europa encontram-se perante um dilema convergente, diria e de sinal simétrico:
A China perante aquele de saber que sem mais abertura, o que implica a criação de um sistema mais plural e que ao trabalho o proteja perante as investidas do capital, o seu boom dificilmente prosseguirá como até aqui;
A Europa perante aquele outro de saber que a desregulamentação terá de ter limites sob pena de se esboroarem aquelas que são características intrínsecas do Estado Social que soube erguer e que, aos poucos, vai sendo, paulatinamente, delapidado.
Isto sabendo ambas, a China como a Europa e já para não falar do mundo no seu conjunto, de quão interdependentes, entretanto, todos se tornaram.
Nos extremos do espectro político democrático global, as forças do trabalho, o comunismo, chamemos-lhe assim por conveniência de raciocínio e o capital têm, forçosamente, de chegar a um novo equilíbrio de forças perdido desde a queda do Muro de Berlim e que à desregulação a ajuda não apenas a entender como a resolver.

Num processo análogo e paralelo embora não tão distendido no tempo, a aceleração histórica justifica-o, o comunismo, essa igreja laica e tal como a Igreja, entre nós, fez a sua travessia do deserto.
Ao capitalismo, por seu turno, faltar-lhe-á, quiçá, sentir com outra veemência a força do trabalho ou do povo, como queiram e fazer o seu luto sem o qual, ele também, dificilmente se autorregulamentará, utopia do capital, humanizando-se por seu turno.
O comunismo que entronca com um certo cristianismo primitivo ou uma ideia utópica tão antiga, anseio de igualdade e de não exclusão, nunca até aqui, convenhamos, concretizado.
O capitalismo, a economia de mercado ou a livre iniciativa, de cujo recíproco contraponto com o comunismo se explica também a génese das democracias modernas formatadas no contra balanceamento resultante da tensão criada no pós-guerra e entretanto decapitada de um dos seus polos hoje reassumido pela China mas que se encontra em crescente desequilíbrio porque ambos, comunismo e capital, ainda descentrados da pessoa humana concreta e singular à qual, paroxisticamente, se destinam e deveriam, acima de tudo e em Democracia, servir.

Comunismo e capitalismo, desejavelmente, num processo ou movimento pendular convergente, não de muros erguidos mas num movimento recíproco onde se instale a confiança, com avanços e recuos mas ao encontro da Democracia, do Estado de Direito e do Estado Social.
Oxalá ambos, comunismo e capitalismo tenham aprendido com a História.





saber ler para lá de gírias de guerra ou de campanha








Jaime Latino Ferreira

Estoril, 4 de Dezembro de 2013



sábado, 30 de novembro de 2013

SENTIR

Luchino Visconti, Senso, 1954







Calem-se
que falo eu
quem mora aqui
não morreu
diz-me a vontade
e a alma
que com o tempo
cresceu

Calo-me
que escrevo eu
junto às forças que me restam
saber que não esmoreceu
diz-me o que escrevo
na música
que por aqui
renasceu

Ouve-me
que a mim o deu
o que na minha escrita
espanta o que escureceu
o que ilumina a passagem
estreita margem do meu eu
o que permite a viagem
que nos faz olhar o céu

Oiço-te
o digo eu
há uma esperança
que nasceu
sem sonho
murcha enfadonho
o teu sentir
e o meu





na penumbra das horas difíceis, do que faço por sentir







Jaime Latino Ferreira

Estoril, 30 de Novembro de 2013



domingo, 24 de novembro de 2013

O QUE É A NOTÍCIA

contornos






Na sociedade mediática a notícia nunca é a notícia mas sim um apontamento da notícia.
Resultado:
Amputada da notícia dela sobreleva o apontamento, a espuma, o que dela fica pela rama sem o seu conteúdo ou enchimento.
A notícia é como a onda sem maré.
A notícia acaba, assim, por ser apenas os seus contornos que se amplificam à exaustão.
Amplificados, os seus contornos fazem a notícia depauperados, esvaídos do conteúdo que à notícia a insinua.
Sendo a notícia o apontamento que dela sobreleva amputando a realidade esta, esventrada e contorcida pela notícia, desfigura-se e projetada como notícia, à notícia se impõe e a empobrece.
À realidade a desfigura.
Desfigurada porque deslaçada pela notícia, a realidade consome-se e fica reduzida à sua mínima expressão.
A notícia, despida da notícia, fica a notícia que a não sendo passa a ser.
E resumida a realidade a apontamentos desconexos do real, a notícia, com a velocidade que em mantas de retalho se projeta, num ápice deixa de a ser.
À velocidade a que a notícia se quer projetada, acaba por à realidade, distorcendo-a, a moldar.

O que é a notícia.
O que seria desta notícia, pequena nota ou ensaio, sem a vaga de fundo que nesta plataforma ou no facebook se disponibiliza e que até ela aqui me trouxe?





a notícia é a notícia da notícia








Jaime Latino Ferreira

Estoril, 24 de Novembro de 2013



terça-feira, 19 de novembro de 2013

JUSTIFICAÇÃO

Aleksandr Sokurov, fotografia do filme Mother and Son de 1997






Tenho andado a reunir forças.
A esgravatá-las nos confins de mim mesmo.
Porquê?
Porque a minha mãe se encontra doente, internada vai para duas semanas depois de o seu estado geral se ter vindo abaixo após uma intervenção programada para a colocação de uma prótese na sua anca esquerda, cirurgia que, em si mesma, foi realizada com sucesso.
A minha mãe tem quase 88 anos de idade.
Mais dia, menos dia ser-lhe-á dada alta e espera-a uma longa recuperação em casa, é esse o nosso desejo à medida, também, das nossas possibilidades que julgamos estarem à altura de a enfrentar.

Tenho andado a reunir forças tal como à minha mãe também lhe digo, a isso sempre nos habituou, que pela sua parte e na medida das suas possibilidades, também as terá de reunir.
Do processo em que me encontro mergulhado, aquele de reunir forças impõe-se, finalmente, esta justificação.
De repente, parece que o mundo se cinge a esta nossa preocupação maior.
À vida que vidas deu e outras continua a dar.
À importância soberana que a vida entre nós adquiriu.
E penso nas desgraças que abalam o mundo, em particular, na catástrofe que varreu as Filipinas e quão aflitivamente desesperados estarão aqueles que a ela sobreviveram.
Penso e dou graças, em suma, de quão protegida, não apenas por fatores climatéricos favoráveis, ainda é e apesar de tudo a vida humana entre nós.

Tenho andado a reunir forças.
Forças que cheguem para minha mãe, para os meus e para vós que me ledes.
Sei da responsabilidade que perante vós criei.
Não é em vão que convosco comunico mas temo que a minha assiduidade, por força das circunstâncias, tenha de adquirir um outro e mais espaçado ritmo.

Tenho andado a reunir forças e enquanto as reúno, exalto minha mãe.

Mãe
não é em vão que nos tem
pois o amor que nos deu
a Si ao nosso o concedeu

Porquê falar-vos do que me atormenta?
Porque é fundamental para continuar.
Como, não sei mas continuarei.




aos meus leitores tanto daqui como dali







Jaime Latino Ferreira

Estoril, 19 de Novembro de 2013



quarta-feira, 13 de novembro de 2013

ATO DE CRIAÇÃO

Paula Rego, Natividade







Tal como na gestação e no ato de parir há, na sua génese e no ato de criação artístico, com os primeiros, vincadas similitudes.
Em ambos os casos de nós se desprende um ângulo ímpar que conhece a luz do dia e ganha autonomia e esse ato não é nem inócuo, nem indolor, nem pacífico.
Sendo um ângulo ímpar que de nós mesmos se desprende e aos outros se oferece, o ato de criação artístico disponibiliza o que antes dele não estava acessível.
É um ato que acrescenta tal como, igualmente, uma nova vida que nasce mais ainda acrescenta.
Com ele vê-se o que antes dele não se antevia e o que se vê soma valor.
Somatiza ou procria e faz-se, ele também, acompanhar de sintomas psicossomáticos em muito idênticos aos daqueles associados ao ato de parir e a tudo o que na sua gestação já o precede e prepara.
Vertigem, estado de graça, náusea e quantas vezes dor, não tanto física mas psíquica e que a ambos os acompanham.

O ato de criar tal como aquele de parir, o de dar à luz não é gratuito.
Ambos saem da pele e são cobrados.
Realizam, é certo.
O ato de criar, tal como para a mãe o filho que nasce, é aquele de, a ele somando-se-lhe toda a sua génese, dar à luz o filho do artista.
O que pelo ato de criar ou de, melhor dizendo, recriar conhece, por fim, a luz do dia desapegando-se do artista, no entanto, vincula-o.
Tal como uma filha ou um filho aos pais, sobremaneira, também os vincula.
E o que pelo ato de criar ou de parir é concebido, tanto num como no outro caso, replica-se, reproduz-se aos olhos de quem os admira.
Ganha vida própria e floresce.
Na sua exposição o ato de criar alimenta-se, engrandece-se, robustece-se.

O ato de criar tem uma religiosidade muito própria:
O ato de criar é uma metafórica parição e nessa parição há uma aparição que se desencadeia.
É um do nada ser que tudo é.
O ato de criar é uma desfloração tão imaculada quanto a mais casta das fecundidades.
O ato de criar é como ter um filho fazendo-o sem o ter feito porque ele já se anunciava e aquilo que dele resulta, porque é da Obra de Arte que escrevo e tal como a vida, ganha a eternidade.
Entre esta e aquela outra Eternidade não há assim uma tão grande diferença.
Ou se merecem e se contemplam ou da contemplação, o ato de criar, não o sendo, dela não é merecedor.




no ato de criação a génese da vida







Jaime Latino Ferreira

Estoril, 13 de Novembro de 2013