domingo, 30 de junho de 2013

DA DIFERENÇA

limitados e diferentes uns dos outros somos todos só que há diferenças e diferenças





depois das barreiras do classismo, do racismo e do sexismo falta vencer aquela da deficiência que, ainda e objetivamente, faz de quem dela é portador, na sua antes apropriada diferença, incapaz de política como no plano da simbólica, plenamente, a exercer




conto-me entre a minoria bipolar (*), à primeira vista não percetível diferença mas suscetível, quando não devidamente controlada, de causar incontáveis danos próprios e alheios, tendo aprendido a fazer dessa minha particular diferença a minha grande força


(*) num largo espetro a doença bipolar incide em 5 a 8% da população geral




Jaime Latino Ferreira
Estoril, 30 de Junho de 2013
 

Quasthoff e Barenboim



quinta-feira, 27 de junho de 2013

FINITUDE





vivemos na permanente ilusão da infinita finitude: no momento em que julgaríamos ter atingido o pleno logo este se esvazia num recomeço ou finalidade sem fim à vista




( clique acima )



Jaime Latino Ferreira
Estoril, 27 de Junho de 2013


Post Modern Sisyphus, Ana Maria Edulescu



quarta-feira, 26 de junho de 2013

INFINITO

Madison Moore, Infinity Abstract Painting





ao reduzir-se tudo à sua ínfima potência e ao contrário do que, eventualmente, se julgue, tudo se exponencia à sua potência máxima e, logo, o infinito é o lugar comum do infinitamente pequeno e do grande ou do intangível ser






Jaime Latino Ferreira
Estoril, 26 de Junho de 2013


nebulosa



terça-feira, 25 de junho de 2013

VAZIO

Phillippe Charpentier, Plénitude 3




chercher la plénitude du vide est bénéfique

ainda segundo Dominique Labaume



Todo o dia no que escrevo se resolve
o que escrito no vazio não se dissolve
ou que pleno no que escrito lhe acrescenta
ao vazio que me preenche e alimenta

Vazio me desprendo e se acalenta
meu percurso de partilha e que na lenta
caminhada com que a vós brindo e vos louve
no pleno cheio de vós que a mim me move

Vazio que é plenitude e que não estorve
vossos caminhos no meu cruzado e prove
cada um no que partilho o que lhe assenta

Vazio pleno de nada não me apoquenta
porque cheio logo darei o que afugenta
o mal querer que tenta e me não sorve


o vazio que resulta do que de mim se desprende preenche-se, ato contínuo, de plenitude

ao meu amigo DM



Jaime Latino Ferreira
Estoril, 25 de Junho de 2013

vazio



domingo, 23 de junho de 2013

DEMOCRACIA






A Democracia pressupõe paz tal como a ditadura pressupõe guerra e ainda que surda.
A Democracia que até aqui conhecemos ainda não é, porém, aquela que corresponde à paz sem vencedores e sem vencidos ou aquela democracia que em nome e pelo bem comum reconhece ou coroa o particular dos particulares ou a minoritária das diferenças ínfimas.

Diz-se que o regime de democracia representativa e o Estado de Direito que pressupõe é o menos mau de todos os regimes mas eu prefiro afirmá-lo pela positiva e desculpem-me o pleonasmo:
O regime de democracia representativa e, portanto, o Estado de Direito é aquele da paz até aqui possível ou o que garante os instrumentos para uma paz efetiva.
A ele falta somar-se o participativo não apenas de todas as organizações e grupos de pressão neles incluídos as redes sociais mas, também, a minoria das minorias, o indivíduo singular ou essa tal plenitude do vazio que, dando-lhe este último o remate e não a pondo, este como aqueles, em causa agindo em prol da paz, a aprofundam criando fortes raízes que à paz a permitam transformar naquela paz efetiva, o mesmo é dizer, na paz sem vencedores e sem vencidos.

Na minha intervenção escrita e sistemática, siga-se o lastro que vou deixando e que, por sinal, antecede em muito a minha adesão à era informática com a apresentação pública e à cabeça das minhas Cartas Credenciais em 1989, imagine-se e da qual a Presidência da República Portuguesa bem como o Centro Nacional de Cultura, entre outros e simbolicamente, foram seus destinatários e fiéis depositários e pergunte-se:
Em que é que eu não correspondo ao perfil perseverante exigido pela Paz e, logo, da Democracia sem vencedor e sem vencidos?
Contra ventos e marés, não darei um passo que não seja ao seu encontro:
Ao encontro da Democracia e, logo, da Paz.


cumprindo o preceito de que a negação da negação resulta na afirmação, sem vencedor e sem vencidos haverá paz, Paz efetiva, fazendo coincidir estes meus textos com grandes manifestações em países democráticos


coroar das duas últimas páginas



Jaime Latino Ferreira
Estoril, 23 de Junho de 2013




sábado, 22 de junho de 2013

CULTURA DE GUERRA OU DE PAZ

Jeffery L. Hall, imagem importada do mural de Hermínia Sousa





Cultura de guerra ou aquela que atende, em primeiro lugar, ao interesse particular e não ao bem comum.
Cultura de paz ou aquela que salvaguardando as naturais diferenças ideológicas ou outras atende, em primeiro lugar e mesmo se em prejuízo do interesse particular, ao bem comum.
Vivemos ainda numa cultura de guerra e tal acontece, nomeadamente, porque impera o particular sobre o bem comum, o particular dos países, dos partidos, dos lobbies ou dos indivíduos mas no dia em que o particular dos particulares, um cidadão singular, por meios pacíficos, em Democracia e por provas dadas refutando, liminarmente, a violência e a linguagem belicista o que é a mesma coisa, do particular se distanciar salvaguardando, não a neutralidade, mas a equidistância entre as partes e sendo-lhe esse mérito reconhecido exatamente por, em nome do bem comum não negar, antes afirmar o particular, aí, poderá ser coroado e aprofundado o lastro de uma cultura, efetivamente, de paz e não de guerra ou aquela da paz sem vencedores e sem vencidos.
Estará longe ou próximo esse dia e teríamos ou não todos, o particular como o bem comum, a ganhar com isso?


ainda a propósito da página anterior



Jaime Latino Ferreira

Estoril, 21 de Junho de 2013



quarta-feira, 19 de junho de 2013

REFORÇO DO REFORÇO DO REFORÇO





A  PAZ  SEM  VENCEDOR  E  SEM  VENCIDOS


Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos
Que o tempo que nos deste seja um novo
Recomeço de esperança e de justiça.
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos

Erguei o nosso ser à transparência
Para podermos ler melhor a vida
Para entendermos vosso mandamento
Para que venha a nós o vosso reino
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos

Fazei Senhor que a paz seja de todos
Dai-nos a paz que nasce da verdade
Dai-nos a paz que nasce da justiça
Dai-nos a paz chamada liberdade
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos





SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN


Querida Amiga,

A paz que enquanto figura de estilo ou imagem poética, como refrão, neste teu belo poema e logo no seu título, pleonástica, sublinhas ser sem vencedor e sem vencidos, na concórdia ou reconciliação, harmonia que implica e significa, pressupõe isso mesmo:
Não haver nem vencedor nem vencidos.
Quando há um vencedor, tal significa que entre os outros, os vencidos sobre os quais o primeiro, o vencedor triunfou, não tendo sido, necessariamente, por este convencidos, germinarão sentimentos de ressentimento ou de vingança em tudo contrários à paz ou, então, que a paz, como simples armistício ou cessação temporária das hostilidades não é mais senão o precário desenlace e intervalo da guerra.
O resultado da guerra, aliás, tem sido sempre esse, o de haver, encapotadamente ou não, vencedores e vencidos mas se conseguíssemos chegar a um ponto em que, não por consequência da guerra mas da paz até aqui possível ou em que à paz, a paz sem vencedores nem vencidos se impusesse, portanto, que enorme acquis, ganho ou salto civilizacional tal não constituiria?
A paz sem vencedor e sem vencidos.
Fazes bem em reforçá-lo e eu subscrevo-o e assino por baixo e desculpa-me o pleonasmo!

Como se não continuasses a agir bem e pese embora já não estares entre nós, bem hajas


sob as ruínas escondidas da guerra suas feridas mal saradas, mitigados, latentes e em vigília mas armados de linguagem belicista, os exércitos movimentam-se



Jaime Latino Ferreira

Estoril, 19 de Junho de 2013



domingo, 16 de junho de 2013

PONTO DA SITUAÇÃO

cuco




PREÂMBULO

chercher la plénitude du vide est bénéfique

d’après / segundo Dominique Labaume


Dispo-me do acessório, do ruído que nos intoxica até à exaustão e tento concentrar-me no vazio ou no essencial.
A sociedade da informação é aquela onde a informação circula sem cessar e independentemente dos atores ou dos agentes que a veiculam e da sua natureza entre os quais destaco os institucionais, os de referência e os mediáticos na pluralidade de plataformas em que se desdobram e na imparável globalização, afinal e todos eles, independentemente da sua maior ou menor independência, atores políticos objetivos logo por serem fundamentais na formação de opinião e pô-la, à sociedade da informação, em causa equivale a pôr-se em causa a própria Democracia e o seu aprofundamento de cuja pluralidade informativa ela e nós próprios dependemos.
Que esta seja uma premissa ou ressalva que fique à partida salvaguardada.
É tanta a informação que circula que, muitas vezes, torna-se complicado, muito complicado discerni-la ou avaliar da sua exata relevância.
O problema do seu discernimento, no entanto, não está na informação em si mesma, antes na capacidade que os seus destinatários têm em ser capazes de, distanciando-se, a avaliar ou aferir, nela sabendo separar o trigo do joio ou o fundamental do acessório.
Como à cabeça escreveu e cito Dominique Labaume, é benéfico procurar a plenitude do vazio, essa plenitude é que importa, antes de mais, encontrar na busca que, aliás, desde sempre me acompanha.
Vazio ou o interior em nós, o fio condutor que nos orienta, esse subjetivo nada que, a cada qual, nos transporta, em crescente aceleração, do passado ao futuro.
A massa cinzenta que, singularmente e no rasto que vamos deixando, nos apetrecha da capacidade de discernir.
Este é o preâmbulo do que se virá a desenvolver, nota prévia que importa, antes do mais, sublinhar e reter e no que a este se seguirá preocupar-me-ei em seguir o leitmotiv que tão oportunamente o meu Amigo Dominique, num desabafo prévio, Estou a Congeminar que escrevi no mural do meu facebook, em comentário, logo me sugeriu.
Tal como figura também à cabeça do vídeo do concerto de Vivaldi que a este preâmbulo o acompanha ou ilustra, esse vazio, na sua incessante busca, é o cimento da harmonia e do invento que nos alicerça.





DESENVOLVIMENTO

No dia em que Portugal foi resgatado pelos seus credores e dê-se-lhe o nome que se quiser com o aval, é bom que se diga, do sufrágio universal, sabia-se ou, pelo menos, pressentia-se que o que se seguiria não apenas se estenderia no tempo como iria ser um osso duro de roer, logo com o imenso exército de desempregados que, consigo, arrastaria mas, no entanto, o dia-a-dia e a imperiosa necessidade de marcar a agenda foi-a tornando, de tão interpelada ou acossada pela austeridade, mais e mais crispada, incrédula e impaciente.
É certo que os resultados do memorando então imposto se vieram a revelar no mínimo contraditórios com a receita, então, aplicada e fosse pela própria receita ou pela sua zelosa aplicação ao próprio memorando o excedendo, quiçá, mas o certo é que hoje, mesmo entre os credores, já se fazem ouvir vozes dissonantes que à própria receita então aplicada cada vez mais a questionam.
Como teria sido se o resgate não tivesse tido lugar?
Como teria sido se a sua aplicação tivesse obedecido a outros trâmites?
Eis algumas perguntas à volta das quais se pode especular e muito se especula mas certo é que foi assim que chegámos até aqui e pese embora o flagelo social que ao resgate o acompanha, não de outra maneira e sobre essa outra maneira, que mais se pode fazer senão especular?

Certo é que a Europa acordou tarde, muito tarde para a globalização e aquele que começou por ser um problema dos seus países periféricos, logo e por isso mesmo mais fragilizados, é hoje um problema que diretamente já a interpela no seu conjunto ameaçando e emperrando mesmo o eixo ou aquele que é tido como o motor do seu próprio desenvolvimento.
Na situação em que nos encontramos eu não gostaria de ser um político eleito mais ou menos executivo ou representativo de dimensão nacional uma vez que as instituições eletivas europeias, essas estão demasiado longínquas do cidadão comum.
Quem gostaria de o ser, pergunto-me?
Pergunto-me e, com seriedade intelectual, gostaria que me respondêsseis.
Por seriedade intelectual entendo eu, exatamente, esse tal e benéfico vazio que aos outros os faz ver como iguais a nós próprios o que conduz não à crescente discórdia mas à harmonia e ao invento a que se referia, no Preâmbulo que a este Desenvolvimento o precede, o meu Amigo Dominique Labaume.

É muito, demasiado fácil cantar de alto, especular ou fazer intriga sem responsabilidades diretas na governação.
É ainda mais fácil e por mais que se torne compreensível, nunca o é, de facto, insultar, apupar ou lançar impropérios contra quem seja e, logo, contra os políticos eleitos que o mesmo é insultar os eleitores.
É ainda mais fácil não participar e nem que seja, ó como já é tanto, emitindo opinião coerente e tanto mais quanto escrita e estruturada, sistematizada e em nome próprio o for.
É tão fácil cair no populismo!
E nesse progressivo afastamento a que são remetidas as instituições democráticas nacionais e quanto mais as europeias cuja impopularidade e distanciamento duvido que com o desencadear da crise se tenham esbatido, muito antes pelo contrário, cresce a urgência da reaproximação do conjunto destas aos eleitores europeus criando entre elas e estes últimos um link de insuspeitada aproximação que apenas alguém vindo de fora do sistema mas com o seu aval e consentimento, por provas dadas que o coloquem no mesmo barco do comum dos cidadãos, não contra o sistema mas tanto mais quanto de um país resgatado, ao conjunto da União a seja capaz de galvanizar aprofundando, deste modo, a Democracia que nesta cada vez mais fragilizada se encontra.
Um eu assim como eu e que ao conjunto das instituições democráticas nacionais e europeias, na tempestade que à Europa a assola neste seu imenso e encapelado mar, longe de as pôr em cheque, lhes venha, pelo contrário, a conferir um novo e cada vez mais integrado élan reaproximando os eleitos dos eleitores acendendo, por essa via, uma luz ao fundo do túnel que ao cidadão comum lhe faça ver ser possível, preservando, alimentar a esperança.





CONCLUSÃO

en art comme ailleurs, il faut vivre au dessus de ses moyens



Diz a citação que a esta conclusão a encima e que me foi sugerida pelo meu Amigo Paulo Morais-Alexandre que na arte como no que seja, é preciso viver acima dos seus próprios meios.
Por um feliz acaso e a meu ver, esta citação complementa aquela de Dominique Labaume:
O vazio ou o excedentário benéfico, a capacidade de, no que façamos, nos excedermos a nós próprios para lá dos meios de que dispomos.
Portugal é parte de um processo de integração que implica riscos e tanto maiores quanto o crescente afastamento do povo das instituições que o representam.
O que, porém, em Portugal se passa não é indiferente ao conjunto da Europa tal como o que num país como a Alemanha, por exemplo, se passa, também não lhe é, a ela, indiferente de todo.
Acontece que os políticos portugueses ou os alemães respondem, parcialmente, perante os seus eleitores e os dos outros países europeus não têm, sobre eles, qualquer controle embora a força do dinheiro acabe sempre por falar mais alto.
Daqui resultam entorses que ameaçam a Europa na sua integridade embora o processo de integração seja uma bela e generosa ideia que à Europa no seu conjunto a faz viver em paz já há quase setenta anos consecutivos como nunca na sua história aconteceu e como o importa sublinhar hoje em dia, entorses que a colocam perante desafios que a ameaçam como nunca antes aconteceu.
Regredir nesse processo seria um clamoroso e trágico retrocesso mas o processo de integração encontra-se num impasse que o ameaça não apenas de rutura como esta se torna suscetível de à própria paz mundial a poder fazer perigar.
Apresentando-me não contra mas vindo de fora desse tão, apesar de tudo, seletivo quando não anquilosado sistema, ninho, como tantas derivas por essa Europa fora o denunciam e como um cuco que faz de outros ninhos seus hospedeiros brado, enfim, e a plenos pulmões:

É  URGENTE

Canta o cuco
persistente
clamando
pela sua gente

É preciso
é urgente
um excesso de alma
suplente
que à Europa
no seu todo
para lá dela
a reinvente




Jaime Latino Ferreira
Estoril, 16 de Junho de 2013
 

cuco