domingo, 27 de outubro de 2013

QUELQUE PART EN PORTUGAL / ALGURES EM PORTUGAL

photo de Dominique Labaume, Quelque Part en Portugal






QUELQUE PART EN PORTUGAL



Quelque part en Portugal
chemin de fer
final
d’une route qui parcourt
l’Europe
Graal
des monts et mon val



Portugal, Graal et val de l’Europe penché sur la mer



ALGURES EM PORTUGAL



Algures em Portugal
caminho de ferro
final
de estrada que percorre
a Europa
Graal
dos montes meu vale



Portugal, Graal e vale da Europa debruçado sobre o mar




repentino composto por esta ordem, primeiro em francês e só depois em português, a partir de um post, da sua fotografia tirada algures no Alentejo e do título atribuído pelo seu autor, Dominique Labaume, com o seu acordo e tudo desenvolvido, previamente, na caixa de comentários do seu mural



DL, merci






Jaime Latino Ferreira

Estoril, 27 de Outubro de 2013



sexta-feira, 25 de outubro de 2013

DA LIBERDADE

Rafael, Escola de Atenas, 1506 – 1510






educar para a Liberdade é incomensuravelmente mais difícil do que educar pelo porque não ou pelo medo, pelo castigo ou pela penalização mas aquilo que por esta se aprende é muito mais efetivo, explícito do que, alguma vez, o inevitável da negativa, o formal decepado de conteúdo libertário consegue incutir

no implícito do explícito a Liberdade encontra sempre alternativas





inevitabilidade não conjuga bem com liberdade









Jaime Latino Ferreira

Estoril, 25 de Outubro de 2013



quinta-feira, 24 de outubro de 2013

POLÍTICA E RELIGIÃO

Rafael, Escola de Atenas, 1506 – 1510






não confundamos implícito com ambiguidade porque pelo explícito os conteúdos por ele balizados têm de apontar num determinado sentido, de preferência aquele da Liberdade sem a qual estes definham mas uma vez posta esta ressalva:

 a Política, a Política com maiúscula, é aquele espaço de liberdade interpretativa, o implícito que nela o explícito nos concede já que o resto é a mercearia em que vivemos atolados e que me perdoem os merceeiros

do mesmo modo a Religião, a Religião com maiúscula e não a crendice, embora num outro plano que com o primeiro, o da Política não se confunde, é aquele espaço de liberdade interpretativa, pleno de leituras que aos Textos Sagrados, afinal, os emprenham e, logo, os imortalizam, não confinável pela estrita oportunidade ou pela moralidade prevalecentes num dado momento que, quantas vezes, a decepam, que do explícito ao seu manancial implícito nos conduz e, eventualmente, nos maravilha




que interessa se foi da costela de Adão que numa aparente subalternização nasceu Eva se foi da mulher que nasceu o filho de Deus?






Jaime Latino Ferreira

Estoril, 24 de Outubro de 2013



terça-feira, 22 de outubro de 2013

DO IMPLÍCITO E DO EXPLÍCITO

Rafael, Escola de Atenas, 1506 – 1510







No que se escreve existe o explícito, o escrito propriamente dito e o que ao que escrito lhe fica implícito, o que lhe subjaz nas entrelinhas.
Tal como um desenho, a escrita pode ser um traçado bidimensional ou com profundidade, o que está para lá da altura e da largura, da profundidade estrito senso mesmo, o implícito.
O explícito é o explícito, a evidência.
O implícito é o que está para lá das evidências, do imediatamente percetível e que é sugerido pelos contornos, o traçado da própria escrita.
Na escrita, o implícito não se estabelece à vontade de cada qual, antes a partir daquilo que a própria escrita sugere ou permite elaborar.
A evidência, o explícito está na cara, é evidente e perdoem-me o pleonasmo e o implícito interpela o leitor, exige-lhe o esforço de, a partir do seu traçado, do traçado da escrita, ir para lá dele e dar-lhe, chegar-lhe ao conteúdo, ser coautor interativo juntamente com o autor que ao escrito o concebeu.
O implícito exige do leitor que em simultâneo, num esforço interpretativo, à escrita a complemente do que dela se depreende.
O escrito é o que escrito está, o visível e não obriga a mais do que à passividade que nada ou quase nada senão a soletrada leitura retém.
O não escrito é muito mais do que o escrito, é o invisível e obriga à atividade retentora, redentora mesmo de quem lê.
A eficácia do implícito ultrapassa em muito a ineficácia unidimensional do explícito sendo certo que na escrita como em tudo, sem o explícito, a forma, não se chega ao implícito, o conteúdo.
O explícito é o imediato, a sombra e o implícito, sendo o mediato, a luz, não se compadece com a vertigem da informação.




o implícito é o pano de fundo, o silêncio em que a palavra, iluminando-se, ganha música








Jaime Latino Ferreira

Estoril, 22 de Outubro de 2013



sábado, 19 de outubro de 2013

ANGOLA E PORTUGAL








Começo este meu texto por uma justificação:
Se escrevi o seu título por esta e não pela ordem inversa não foi por utilizar como critério a colocação dos respetivos países respeitando a ordem alfabética mas antes porque sendo eu português, facto sobre o qual se torna escusado especular, teria de ter uma qualquer nacionalidade, a cortesia e já para não falar do respeito protocolar, nunca uma qualquer subalternidade vis-à-vis seja que país for, me obrigam a colocar Angola, o país terceiro e não Portugal, em primeiro lugar.
Dado este esclarecimento, passemos ao que me traz até vós.

Salvo erro, nunca escrevi sobre Angola ou sobre as relações deste país com Portugal.
Nunca o fiz por variadíssimas razões mas, sobretudo, porque, pese embora o desconhecimento cultural que dele tenho, confesso-o, se tratarem de países tão próximos e de relações tão demasiado quentes, apaixonadas, à flor da pele ou temperamentais que tão rapidamente fervem como se distendem quais irmãos recém-separados mas de recordações e feridas ainda demasiado frescas prontas a bulir por tudo e nada.
O mesmo poderia também acrescentar em relação a todos os países lusófonos tais como Angola o é, isto é, aqueles que partilham uma mesma língua, o português e nunca o fiz, não por desconsideração por quais fossem mas talvez antes e ao invés, pela consideração resultante da partilha desse território que é a língua comum.

Relações entre os Estados angolano e português e relações entre os respetivos povos.
Umas e outras não se confundem embora ambas se rejam, como tudo, aliás, por interesses e umas possam potenciar as outras.
As relações Estado a Estado desenvolvem-se de acordo com um quadro de prioridades que estes, os estados, entre si, bilateralmente estabelecem.
As relações entre os respetivos povos desenvolvem-se de acordo com uma rede pluridimensional de interesses tanto mais vasta quanto a relação umbilical existente entre eles e que se espraiam muito para lá das prioridades definidas pelos estados e que estes têm tanta maior dificuldade em enquadrar quanta a proximidade entre os seus respetivos povos.

Na minha ignorância julgo, no entanto, e só vos peço que me corrijam se estiver equivocado, que o Estado democrático português nunca pediu oficialmente desculpas pelo jugo que a esses povos e ao angolano em particular, no passado os sujeitou e tal, reconheço-o, a ter sido assim não consigo compreender.
A História é a História, bem o sabemos, ela não pode ser reescrita mas o que teria impedido o Estado português, democratizando-se e, logo, mudando a sua natureza e em nome da verdade histórica e do reforço das relações bilaterais, passados já tantos anos, de o fazer?
A consideração devida aos ex-colonos que de um momento para o outro e com uma mão à frente e outra atrás, o Estado português se viu obrigado a reintegrar sendo certo que sobre eles não deveria, como poderia na altura tal acontecer (?), genericamente, ter recaído qualquer anátema?
A consideração que Portugal deve aos seus ex-combatentes?
A consideração pelo papel das suas Forças Armadas?
Em que é que estes, Forças Armadas como ex-combatentes, com esse pedido de desculpas poderiam, alguma vez, ser abalados?
Talvez que neste particular eu esteja particularmente à vontade para escrever:
Em vésperas do 25 de Abril de 1974, por motivos políticos, tinha sido suspenso da escola onde estudava e encontrava-me perante o dilacerante dilema de ser alistado para a guerra colonial ou desertar.
Veio o 25 de Abril que me poupou, com a mais feliz das oportunidades, de fazer essa dolorosíssima opção e, logo, compulsivamente, passei à reserva territorial pelo que nunca fui alistado embora tenha todo o respeito pelas forças armadas e pelos que por elas combateram sem os quais uma nação não se sustenta.
Dolorosíssima opção porque desertar e, logo, desenraizar-me, mais a mais nessas circunstâncias, teria sido muito penoso tal como ser alistado para a guerra não o teria sido menos.
Uns e outros, combatentes como desertores políticos tal como os exércitos, cumpriram os seus deveres em função das suas consciências e da sua missão e a sua coragem, com um pedido de desculpas, não me parece que pudesse, alguma vez, ser questionada.
Agora, o Estado angolano é como é, o português tal como o é e as relações entre estados ultrapassam tudo isso.

Reconheço ainda que entre os meus patrícios cresce a ideia que consiste em se achar que estamos a ser tomados pelos angolanos e nela não posso deixar de vislumbrar um certo ressentimento, ressabiamento mesmo e isto para não dizer pior, de quem agora se sente de mão estendida e tanto mais quanto, ironia das ironias, em relação à potência outrora colonizada.
Os angolanos têm todo o direito em levantar a cabeça, a enriquecerem de nos fazer inveja, a investirem onde muito bem entenderem e desde que legitimamente e sobre eles, genericamente, não pode prevalecer a suspeição.
É, só pode ser, um motivo de alegria para todos nós, tanta quanto de tristeza mas não menos de inconformismo a situação porque que Portugal passa.
Reconheço ainda que a salvaguarda do segredo de justiça é o que é e que, às vezes mesmo, parece uma anedota.
Agora, tudo o que foi dito para trás não pode obstruir a Justiça nem esta, no seu decurso, pode ser motivo para um qualquer pedido de desculpas a terceiras partes, com que fundamento (?) e ela tem de fazer o seu caminho independentemente dos visados ou da própria obstrução em que a violação do segredo de justiça, quantas vezes e objetivamente, resulta o que, em nome da separação de poderes, não responsabiliza, diga-se, que Estado for.
Há desculpas e desculpas!




um prevaricador é um prevaricador onde quer que esteja e onde quer que vá e ele não lança um anátema sobre qual seja o seu povo de origem






Jaime Latino Ferreira

Estoril, 19 de Outubro de 2013



terça-feira, 15 de outubro de 2013

CONSPIRAÇÃO PELA PAZ

Huong’s painting on display at the Peace Mural in Georgetown







Somos sempre tentados a admitir armarem-se as mais diabólicas conspirações prontas que estariam a fazer as nossas vidas num inferno.
Pelo contrário, já mais dificilmente estaremos dispostos a admitir, quiçá, estar em curso uma conspiração pela paz.
Conspiração, não, porque esta sempre pressupõe secretismo e opacidade, em si mesmos, ao arrepio da paz.
Corrijo:
Estar em curso uma conjugação de linhas de força que se desenham e que apontam num mesmo sentido em que eu, na minha insignificância, enfatizando todos os sinais que vão ao seu encontro a eles somados, congruente e transparentemente, a minha atitude, faço por potenciar.
Por paroxismo, titulei este meu texto de conspiração mas, em rigor, do que se trata é de uma verdadeira orquestração para a paz.
Orquestração ou harmonização a vozes que se somam e que se ampliam, solistas, por naipes ou coralistas a sublinharem, umas após as outras e confluentes, o imperioso e o inadiável da paz.
Que assim venha a ser como de há muito desejo e porfio e caso assim seja só poderá reverter no melhor para todos nós ainda que, aparentemente, outras linhas de força dissonantes haja que parecem induzir em sentido contrário.
Será que esta minha hipótese não apenas tem pernas para andar como vende?
Oxalá as tenha e venda porque de contrário, será que seremos merecedores da paz a que dizemos, em teoria, tanto almejar?
E termino este meu apontamento salientando:
A paz conduz a acrescida qualidade de vida global e caso a primeira não se venha a efetivar e ainda que com custos porque tudo tem sempre um preço, a segunda tenderá, mais e mais, a deslaçar-se.




insisto em olhar para além dos circunstancialismos que nos constrangem afirmando a minha confiança num tempo em que esta parece esboroar-se







Jaime Latino Ferreira

Estoril, 15 de Outubro de 2013



domingo, 13 de outubro de 2013

A PROPÓSITO DA ATRIBUIÇÃO DO NOBEL DA PAZ







Ainda bem que a atribuição do Nobel da Paz, pelo que tudo leva a entender, está imune a preferências, lobbies ou a grupos de pressão.
Como a própria Malala Yousafzai considerou ainda antes da designação dos laureados de 2013, não apenas é demasiado nova como tem ainda muito para aprender pelo que seria prematuro um tal galardão poder vir a ser-Lhe concedido.
Isto independentemente das inimagináveis provações por que passou e que a ninguém deixa indiferentes.
Esta sua expectativa concretizou-se e a modéstia por ela própria revelada, aliás, não deixa de ser, em si mesma, um bom augúrio de um perfil digno como o foi do Prémio Sakharov e que se deseja vir a ser ainda mais promissor.
A atribuição do Nobel da Paz, como é cada vez mais seu timbre e basta recordar a sua atribuição a Obama ou à União Europeia como, agora, à Organização para a Proibição das Armas Químicas ( OPCW ), vai ao encontro da corresponsabilização que aos contemplados e, logo, às partes envolvidas, pelo commitment a que obriga, aponta no sentido que o próprio Prémio designa.
Uma vez mais, em nome da distensão global e, logo, da paz efetiva, com esta distinção assim parece, de novo, acontecer.
Que estas sinalizações do Comité Nobel sejam não apenas compreendidas como, literalmente, por todos correspondidas.












Jaime Latino Ferreira

Estoril, 13 de Outubro de 2013



quinta-feira, 10 de outubro de 2013

GRANDES E PEQUENOS ATORES








Há grandes e pequenos atores políticos.
Há aqueles que por inerência das funções que desempenham, funções de primeiro plano, são grandes atores políticos e mesmo se de estatura mediana.
Há aqueles outros que também por inerência dessas mesmas funções, outras de segundo plano, não excedem o secundário dos seus próprios desempenhos.
Por inerência das funções que desempenham há, pois, grandes e pequenos atores políticos, aqueles de projeção global e aqueles outros de projeção local.
Os atores políticos de projeção local fazem o que podem, ziguezagueiam entre o poder e o dever.
Os atores políticos de projeção global podem o que fazem, ziguezagueiam entre o dever e o poder.
Entre uma coisa e a outra, uns e outros fazem como podem.

Há atores que emergindo das mais indescritíveis, condenáveis, indesejáveis situações ou microcosmos adquirem estatura global e, logo, transfiguram-se em atores de primeira água, de facto, atores de primeiro plano.
Estou a pensar, por exemplo, em Malala Yousafzai que pelo seu percurso, reavivando-os, nos fazem acreditar nos grandes valores comuns da humanidade.
Da humanidade sem exceções.
Há outros atores que logo pelas funções que desempenham poderiam ser grandes mas são bem secundários.
Independentemente das posições que ocupam, grandes e pequenos atores políticos podem transmutar-se uns nos outros.
É o que acontece com Malala Yousafzai.

Podem emergir grandes atores políticos a partir de situações que por contraponto, aqui designo como descritíveis, democráticas, desejáveis, louváveis portanto e sejam eles de primeiro ou de segundo plano?
Podem, podem e devem!
Aliás, a não emergirem a partir da normalidade democrática, a narrativa do descritível, do desejável cristalizar-se-á, perderá fôlego e descontinuar-se-á.
Não se aprofundará.
Não se aprofundando não se enraizará perdendo terreno para o indescritível, o indesejável, o repudiante ou condenável.
Não se repercutindo pelo exemplo, o descritível definhará.
E todas as Malalas, num círculo vicioso sem aparente saída nem retorno, partindo da estaca zero, terão de voltar ao princípio, sempre ao princípio sem vislumbrarem o fim desse mesmo princípio que as guindou.
O descritível, a normalidade democrática, o possível, o louvável ou desejável não pode, portanto, ficar-se por aqui, por um aqui tão acantonado, insatisfatório mesmo.




na atribuição do Prémio Sakharov a Malala Yousafzai, quando o indescritível faz emergir a humanidade mas o descritível acrescenta a essa humanidade uma história sem fim que apenas ele permite abrir e fazer potenciar







Jaime Latino Ferreira

Estoril, 10 de Outubro de 2013



terça-feira, 8 de outubro de 2013

FELICITAÇÕES A PUTIN

St Michael’s Castle in St Petersburg, side part of Valeriani’s ceiling painting – the Allegory of Peace





PRESIDENTE  VLADIMIR  PUTIN


Excelência,


No momento em que num tempo recorde a ONU, com a colaboração das autoridades sírias, dão início ao desmantelamento do arsenal químico acordado entre as partes e ao abrigo das instâncias internacionais, sem que com tal baixem as minhas defesas, que as não devo baixar, não poderia deixar de me dirigir a Vossa Excelência.
De facto, não fora a iniciativa de distensão russa e as partes, ao contrário de por ela optarem, não se teriam, quiçá, sentado à mesa das negociações.
Em tempo recorde, repito, dá-se início ao então acordado e há méritos que têm de ser, em primeiro lugar, reconhecidos a quem de direito.
Assim o direito internacional e o multilateralismo prossigam e se aprofundem em prol da Síria, do seu martirizado povo e da comunidade internacional.
Reafirmo, portanto, os méritos que Vos assistem e deles, sinceramente, não posso senão congratular-Vos.

Vosso





no momento em que se dá início ao desmantelamento do arsenal químico da Síria







Jaime Latino Ferreira

Estoril, 8 de Outubro de 2013