segunda-feira, 30 de maio de 2016

III - REALIZAÇÃO




Marc Chagall, Solitude, 1933







realizo-me em cada texto que crio mas nesse preciso momento, no preenchimento, o vazio

eis a manifestação do insólito que sobre mim próprio e em permanência se abate











Jaime Latino Ferreira
Estoril, 30 de Maio de 2016




sexta-feira, 27 de maio de 2016

II - INSÓLITO




Sir Frederick Lord Leighton, Solitude, 1890







Insólito ou raro, incomum é o contrário de sólito ou frequente, comum.
Eu dou-me conta do insólito da minha situação, situação essa impregnada da solidão ou da incompreensão, vai dar ao mesmo que, por definição, ao insólito o caracteriza.
Não se é incomum sem, implicitamente, se estar só, por raro se ser.
A verdade é que todos somos raros, cidadãos comuns embora incomuns, únicos mas há uma diferença entre ser-se e a assunção de o ser.

O que se pode inferir dessa assunção?
Que se percorrem caminhos que mais valera não serem trilhados?
Que esses percursos não têm pernas que estejam à sua altura?
Que são caminhos sem saída?
Mas estas mesmas interrogações, no exercício do contraditório e sinteticamente, também podiam ser formuladas na sua inversa:
E se esses caminhos, precisamente esses por insólitos o serem, permitissem conduzir a uma saída, ao desbloquear de impasses que, por se arrastarem, urge resolver?

Ser raro ou insólito não quer dizer que seja inviável ou impossível.
Sendo verdade que não há regra sem exceção, o insólito acontece mesmo.
Para todos os efeitos, vivemos, aliás e mais do que nunca, no tempo dele, o insólito está na ordem do dia.
Senão vejam-se quantos insólitos sem pés nem cabeça despontam por todo o lado o que, convenhamos, não é o caso em apreço pelo que, por maioria de razão, importaria considerar.












Jaime Latino Ferreira
Estoril, 27 de Maio de 2016






quarta-feira, 25 de maio de 2016

I - VAZIO E PREENCHIMENTO





Thomas Alexander Harrison, Solitude, 1893








vazio e preenchimento tocam-se, isto é, em ambos os casos há sempre espaço para um recomeço

na solidão, traço em comum de ambos, lugar para tudo e para todos














Jaime Latino Ferreira
Estoril, 25 de Maio de 2016






sexta-feira, 20 de maio de 2016

OS UNS E OS OUTROS




Soraya Hamzavi-Luyeh, Nomanden, 2010






Há a clarividência dos uns
com direitos de conquista
e há os outros informes
nos grandes números
estatística

Aos segundos
atoleiros
é dos primeiros
a vista

Dizem os mestres vezeiros
em simplórios devaneios
que os outros
se medem por grosso
sem alma no fundo de um poço
mas quanto aos uns
contraditam
se constam de seus cardápios
são o tempero dos sais
que os afirmam nominais

Só que os uns são como os demais
sem terem que dar-se a jejuns
porque os outros têm dos uns
não serem lugares-comuns













Jaime Latino Ferreira
Estoril, 20 de Maio de 2016




quarta-feira, 11 de maio de 2016

DO CINZENTISMO DO (I)MEDIÁT(O)ICO




Gertrud Richter, 1917







Tirando essa doença pública inenarrável a que chamaria futebolite que sequestra, monoliticamente, canais públicos e privados de informação e para lá das catástrofes humanas e naturais que estão sempre a acontecer para as quais, por saturação, há um limite de receção, a velocidade a que se processa a informação e na ausência de investigação jornalística que se preze é de tal ordem que a partir da especulação ou da não notícia, ela própria, quantas vezes, cria a informação.
Excetuando, portanto, as catástrofes referidas, a informação corre o sério risco de se transformar em pseudoinformação, em si mesma o inexistente facto que se pretenderia noticiar.

Quanto aos critérios que permitem classificar um facto digno de ser noticiado, na matriz informativa, por natureza quando não por deformação, não isenta e desconfiada a que não é alheio aquilo a que chamaria o síndroma Watergate hoje, ainda, prevalecente, há clichés ou estereótipos de que se parte cuja assertividade, no entanto, me permito questionar a saber, o poder inerente a esse facto:
Poder económico, poder financeiro, poder circense, poder das ruas ou das corporações, poder da fama, poder político e à volta deles, sempre à volta de quaisquer desses poderes que se tomariam como decisivos e desde sempre adquiridos sem lhes ir à sua própria génese, parte-se desses clichés e está tudo dito:
Sendo qual seja cada um desses poderes, em si mesmos e pelo facto de o serem, potenciam-se em notícia.

Assim, a informação, melhor, o espetáculo degradante da pseudoinformação prevalecente, numa luta sem quartel e tanto maior quanto mais as redes informáticas se alastram e se impõem corre célere, a mais das vezes, critério supremo para fazer circular a dita informação, pelos piores motivos neles incluídos o empolamento que sempre lhe merecem fenómenos xenófobos e populistas de toda a casta ajudando-os, não intencional mas objetivamente, a singrar.
São eles, esses piores motivos e como já escrevi antes que fazem, por regra, a notícia.
A pseudoinformação ou o filtro (i)mediát(o)ico, o cinzentismo de que falo e que nos atola, esquece-se, porém, de um poder muito simples que à própria informação, implicitamente e por definição, lhe preside:
Que poder ela não tem e tanto mais quanto, sem baias nelas incluídas aquelas da concorrência desenfreada que à pseudoinformação a norteia, em liberdade que se desejaria plena!
E esse poder parte do nada, do quase nada que provém de quem a profere ou da vibração musical que a própria palavra emite, de quem a escreve ou diz ou do nada irrelevante, que poder o não terá, do que por ela, tendo sido feito, feito está.


Esse poder como giz
ao apagador o desdiz

O apagador é, aqui, o rolo compressor imediato do mediático onde à esperança que a mesma quer dizer confiança, com constrangedora parcialidade, não lhe é concedida qualquer soberania.



este meu texto publico-o na sequência de dias e dias, semanas a fio em que para lá das eventuais catástrofes enunciadas acima e da especulação desenfreada em busca de notícias, na ausência de investigação jornalística digna desse nome, nada mais terá acontecido, sinal de que, quiçá, muito haveria para contar como, por exemplo, a realização deste concerto digno de todas as parangonas mas que passou, pratica e intencionalmente, contra propagandisticamente desapercebido



PERGUNTA  DO  PAPA  E  RESPOSTA  DA  EUROPA ( MINHA )



- Contorcendo-me e recriminando-me, persisto em virar as costas a mim mesma! -











Jaime Latino Ferreira
Estoril, 11 de Maio de 2016





sábado, 7 de maio de 2016

DE MEUS AMADOS LUGARES




o Estoril segundo Manuela Baptista






Nasci na cidade de Lisboa
dela transporto o rio que nela ecoa
vivo junto ao mar no Estoril
não longe e rejeitando o querer vil

De ambos os lugares num só projétil
calibro-os de mim em memórias mil
deles me disparo e assim troa
a esperança que acalento e não esboroa

Da Estrada Marginal que os liga soa
um bálsamo sublime que é minha loa
e ao meu destino o rega em terra fértil

E àquela que será condição débil
preencho-a e dela enjeito aquilo que é fútil
salgando-a sem deixar que se corroa













Jaime Latino Ferreira
Estoril, 7 de Maio de 2016



domingo, 1 de maio de 2016

A PROPÓSITO DO DÉFICE DE ESPERANÇA III




uma vez mais por mão própria e para que conste








deve e haver têm, entre si, uma relação dialética, porosa e, logo, comunicante



deve e haver ou dos deveres e dos direitos

há direitos universais que devem, têm de ser, universalmente, salvaguardados mas, posto isto que já não é pouco e para que eles, de facto, não sendo estáticos se universalizem e este é, verdadeiramente, o ponto, aprofundando-os no concreto do singular, na balança de uns como dos outros, quanto mais aos meus deveres os cumpro mais, por direito, me deve assistir

assim e perante o Institucional, se à esperança a alimento desde há muito cavando-se,  no que a ela lhe toca, um défice institucional crescente para comigo, nesse acumulado, a que direitos, então e legitimamente, deverei aspirar?

sim, na relação comunicante ou porosa, dialética entre deve e haver, o Institucional acumula um pesado défice perante o crédito de esperança que não paro de alimentar mesmo agora, aqui, no que há de vir e que daqui não se infira que, assim sendo, a esse défice e para sempre o deverei arcar porque, então, alguma coisa estará, irremediavelmente, desequilibrada nesse descompensado balanceamento






no dia do trabalhador, em nome do meu trabalho











Jaime Latino Ferreira
Estoril, 1 de Maio de 2016