sexta-feira, 24 de junho de 2016

EM MIM CABE O MUNDO INTEIRO





Franz Kline






Em mim cabe o mundo inteiro
sem fronteiras e do tinteiro
como só um timoneiro
canto a gesta e o premeio

Ao globo num só o anseio
ver ungido num recreio
das diferenças sou o veio
livre da cobiça do armeiro

Em minhas mãos o amparo
na ponta do meu aparo
mais vendo que o escuro-claro

Rasgo as vestes deste prado
sulcando com o meu arado
o reencontro amado







a propósito da vitória do (Br)exit, remetendo para trás, eis a saída












Jaime Latino Ferreira
Estoril, 24 de Junho de 2016






A FILOMENA CLARO














já há alguns dias e repentinamente, para meu grande choque, morreu Filomena Claro, criadora deste meu blogue e que assim limpo e pronto a ser utilizado com este mesmo título, tendo por cabeçalho a fotografia que a esta minha página a encima, por à minha escrita já a conhecer, de surpresa e para meu grande espanto, há mais de sete anos me o ofereceu

por viver fisicamente distante, não cheguei a ter o prazer de a Filomena a conhecer pessoalmente mas mantinha com ela uma relação de grande proximidade, de amizade e que era alimentada, amiúde, por longas conversas pelo telefone e por via das tecnologias da informação

nestas trágicas circunstâncias e guardando-a no meu coração, solidarizando-me com todos os Seus, fica um vazio impossível de preencher a não ser pelo bálsamo da música que aqui, na alegria como na tristeza a recorda e a eterniza















Jaime Latino Ferreira
Estoril, 24 de Junho de 2016






quarta-feira, 22 de junho de 2016

DIÁLOGO (AB)SURDO





Richard Diebenkorn, Berkeley No.57, 1955








- bem-hajas, que mais queres que te diga?

( como poderia eu recusar um bem-haja, não é coisa que se faça, aceita-se sempre. Gratificado, aceita-se sempre uma boa intencionalidade que nos seja transmitida mas que mais eu quero? Uma resposta substancial! )

- triste e mal agradecido, se não respondo é porque não respondo, nem por isso te calas, se respondo é porque respondo e lá segues tu a falar sozinho!

( que queres, de substancial tenho que quer seja contigo e o teu bem-haja ou quer seja contigo e o teu silêncio, a inspiração não se interrompe e é essa, também, a riqueza da Democracia e de quem nela se conforma: neles há respostas substanciais para tudo e o seu inverso. Já o contrário que não se substancializa e quanto mais o tempo passa, num bem-haja, julgando que resolve mais pode, eventualmente, complicar e comprometer-se. É que se queres o meu bem-haja, para o bem do Povo, melhor terás tu de agir e tanto mais quanto a posição que ocupas sem me deixares, tão pouco, à míngua já que no um se vê o todo e mesmo se lhe chamas Povo tal como a este é pelo um que se abraça. Um bem-haja é uma poderosa saudação, reconhecimento, só falta que da tua parte o concretizes e pelo menos numa coisa concordo contigo: imagem e reflexo são bem mais substanciais ou complexos do que à primeira vista podem parecer, por isso e porque nenhum sinal expresso me é dado em contrário, nesta minha veia ininterrupta, o único poder que me assiste, teimo em persistir. )














Jaime Latino Ferreira
Estoril, 22 de Junho de 2016






segunda-feira, 20 de junho de 2016

BALANCEANDO O DISCURSO MASSIFICADO




Ervand Kochar, De Profundis








ao encontro do discurso do Papa Francisco na sede do Programa Alimentar Mundial, PAM, quantos mais mil milhões nós somos mais importa balancear a massificação do discurso político justapondo-lhe um outro em nome próprio

em nome próprio e que não aliene os biliões que nos compõem e muito em particular a fome de todos os matizes e de todos aqueles que não têm voz

um discurso ao teu, ao meu, ao nosso, ao encontro de todos e, já agora, assente no repouso do silêncio da escrita, recusando os púlpitos alvo de todas as tentações populistas
















Jaime Latino Ferreira
Estoril, 20 de Junho de 2016  






quarta-feira, 15 de junho de 2016

CARTA ABERTA AO UM











Meu Caro Um,

Antes de mais nada quem és tu?
Tu tanto podes ser um cidadão anónimo, desconhecido, um entre os muitos dos meus leitores neles incluído, quem sabe e por paroxismo mas não menor realismo, o Presidente da República ou o Mais Alto Magistrado de uma qualquer nação tanto mais quanto democrática pois que todos, protocolarmente, se equiparam entre si.
Posto isto, vamos ao que interessa:
Já terás reparado, julgo, que em ti insisto cada vez mais recorrentemente, em círculos concêntricos, fechando em tenaz argumentativa, um cerco.
Um cerco de reflexão teórica e não de coação física ou psicológica.
Um cerco com todas as nuances da estratégia e da tática militar mas sem recurso a qualquer grau de violência.
Um cerco de aprofundamento e pacificação.
Um cerco que teve o seu início pelo envio das minhas Cartas Credenciais de há vinte e sete anos atrás, cartas essas disponíveis neste álbum e que até aqui, com toda a transparência, me conduziu.
Me conduziu a ti, ao um soberano.

Um.
O um também posso ser eu mas aí, o cerco, feito a mim mesmo, seria paroxismo maior.
Quixotesco exercício, autocombustão de mim mesmo.
Luta contra os meus próprios fantasmas ou contra espúrios moinhos de vento.
Não, não é disso que se trata ou admitindo tratar-se, então sou eu e o outro que remete, de novo, para o um acima considerado.
Esta minha carta trata, pois, de quê?
Da indivisibilidade do um.
Trata da impossibilidade de o subtrair a si mesmo.
De na unidade que representa, não ser de esquerda ou de direita, subdivisível em partes na holística que da realidade o um, no seu todo, sempre reflete.
Trata de nessa qualidade soberana mas tão displicentemente considerada, não colidindo com o outro, os outros ou os nós, ser reconhecido e consagrado, politicamente consagrado nas provas que aferindo das suas intenções, as venha a dar ou tenha dado e comprovado sem infringir as regras da convivência democrática.
O um, eu incontornável.

Pela escrita é impossível uma pessoa, um cidadão desvendar-se de uma só vez ao arrepio da música que sendo polifónica, multivocal, em si mesma e pleonasticamente, verticalmente harmónica, portanto, tem outro grau de densidade e de profundidade, de instantaneidade também.
Pela escrita, uma pessoa vai-se, aos poucos e poucos, num solo contínuo, desvendando.
Mas é, antes de mais, pela escrita que uma pessoa, um um, através dela registando-se, dando-se à estampa melhor se desvenda até porque aferindo das suas intenções coisa que só o tempo o permite testar.
No princípio era o verbo, qual verbo o seja, a palavra ou através dela e para quem creia, Deus.
Deus ou um eu permanentemente dividido entre os caminhos a seguir e que entregue a si mesmo, exercendo do livre arbítrio, da Liberdade, opta e decide.
Vou por aqui ou vou por ali?
Quem me dá pistas?
Incansável, no emaranhado do real, pelos outros, descortino-as eu.
Dia após dia, mês após mês, ano após ano e para lá dos indicadores estatísticos, das sondagens, dos estudos de opinião ou das conveniências táticas, tacticistas do momento.
Decidindo em mim e comigo tendo em conta o bem comum que reflito.
Eu como todos nós.
Tendo em conta o interesse democrático global ou seja, o Interesse Geral, bitola essa que me move.
Refletindo de mim para comigo na profundidade do um.

Ai dos que pensem que a Democracia se resumiria a eleições periódicas, incontornáveis, sabemo-lo, entre as quais nada mais restaria ao cidadão comum ou incomum do que votar nas eleições seguintes ou manifestar-se, ruidosamente, na rua.
Estaria mal a Democracia como, à palma dessa práxis prevalecente, por tortuosos caminhos ela vai derrapando.
E o contraditório, tanto mais quanto tendo o silêncio por interlocutor preponderante?
A força intrínseca da capacidade argumentativa?
Que espaço lhe não deverá ser consagrado para lá dos estritos limites dos arranjos institucionais, num dado momento, prevalecentes?
Que lugar permanente ao exercício, em si mesmo político, da cidadania?
Ou será que, para o cidadão comum, a política se extingue para lá da rua, das eleições ou, queixai-vos então, de práticas menos ortodoxas ou inconfessáveis?

Esta carta ficará ao teu dispor como, também e por inerência, ao dispor do Presidente da República ou do Mais Alto Magistrado, repito e cercando-te a ti, a Ele enquanto mais alta instância da Democracia também o cerca resiliente e sem recurso, por uma vez que fosse, a qualquer tipo de coação ou de tropas de choque seduzindo o um do topo à base da pirâmide pelo que imagina o impulso que por via do reconhecimento deste subtil quanto pacificador um que eu também sou não seria dado na credibilização tão em défice do institucional democrático cada vez mais distanciado do um pois que é essa a preocupação central que desde o princípio me move e urge colmatar?
Que imensidão de angustiantes sinais não despoleta por toda a parte e que a essa assertiva quanto oportuna preocupação a legitima?
A Democracia, encontra-se ou não fragilizada?
Urge ou não aprofundá-la?
E em que direção o fazer senão aquela do um onde o aprofundamento, no seu pathos, reside?


O  UM


O um és tu
é ele
o Povo
a graça que me deu
enérgico pulsar que bate
em mim
sou eu



Caríssimo Um,

De mim para contigo, tu que és eu, tu-nós, vós, eles, elevando-te e não rebaixando-te, obrigado pela tua paciência, Prezado Um e aceita as minhas mais cordiais saudações










Jaime Latino Ferreira
Estoril, 15 de Junho de 2016







segunda-feira, 13 de junho de 2016

ABOUT THE ONE = DO UM













one is the expression of the whole society and even more as registered through systematic, democratic and resilient thought

=

o um é a expressão da sociedade no seu conjunto e tanto mais quanto registado em pensamento sistemático, democrático e persistente





balancing the statistics conceptions = balanceando as conceções estatísticas

( from the heart to FA  = do coração para FA )















Jaime Latino Ferreira
Estoril, 13 de Junho de 2016





quarta-feira, 8 de junho de 2016

DA IMPORTÂNCIA DO UM





René Magritte, 1898/1967







por um momento, vamos imaginar que um personagem relevante da História dela seria apagado, será que nos reveríamos no nosso devir histórico?

noutra perspetiva, um qualquer dos nossos antepassados, comum e anónimo que da simples existência fosse suprimido, será que poderíamos formular a mesma pergunta?

partindo da segunda interrogação tal como poderíamos partir da primeira, estou convicto que sim, não nos reveríamos, porque no apagamento de todas as interações por ele e pelos seus descendentes estabelecidas, em crescente e exponencial encadeado, alterar-se-ia de igual modo e por completo o nosso devir coletivo ao ponto de, hipoteticamente, nem esse mesmo personagem relevante, alguma vez, pudera vir a ter a chance de conhecer a luz do dia







na certeza que sem os outros não somos ninguém embora nos grupismos verdadeiramente doentios em que vivemos, adiante-se quem quer que seja a menosprezar a importância do um











Jaime Latino Ferreira
Estoril, 8 de Junho de 2016






segunda-feira, 6 de junho de 2016

DOS BULLYINGS OU DAS PRAXES












na idade infantil da Democracia porque é nela que ainda vivemos e por mais que retoricamente se condenem as relações de poder a todos os níveis prevalecentes, estas estão impregnadas de bullyings ou de praxes, de paranoias ou para o dizer de outra maneira, de autoritarismos e não da autoridade que advém da força da palavra dada e demonstrada

tal é o que ainda hoje acontece por todo o lado, inclusive e ainda que de forma mais ou menos encapotada no interior do edifício democrático e daí não espantam as alarvidades que como cogumelos despontam no que toca ao desrespeito pelos mais elementares direitos humanos e que se traduzem no espezinhamento do singular ou de todos os singulares, singular ou coletivamente considerados















Jaime Latino Ferreira
Estoril, 6 de Junho de 2016







quarta-feira, 1 de junho de 2016

LUGAR AO EU




J. Blanchard, St. Cecilia, First half of the 17th century







no dia em que no espaço público, na polis, deixar de existir lugar para o eu, para o discurso em nome próprio, a Democracia esvair-se-á de conteúdo, do cidadão concreto a quem ela, por definição e em última instância, se dirige

o problema está em saber se o eu colide com o nós porque não colidindo, sobremaneira como a música e tanto mais quanto fornecendo-lhe impulso e perspetiva, o eu ao nós o cromatiza, mais democratiza















Jaime Latino Ferreira
Estoril, 1 de Junho de 2016